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MÔNICA BENÍCIO EM BUENOS AIRES | Marielle, Presente! Um grito por justiça sem fronteiras

Mônica Benicio é uma lutadora pelos direitos humanos. Ela é também a companheira, viúva, de Marielle Franco. A uma semana de se fazerem 6 meses do assassinato de Marielle, Mônica esteve em Buenos Aires.

Isabel Infanta@isabel_infanta

sexta-feira 14 de setembro de 2018 | Edição do dia

Imagem: Emergentes

Ela trouxe a Marielle consigo. Tatuada no braço, corporizada também numa bela boneca de pano, com o lenço verde pela legalização do aborto e em sua blusa que gritava "Lute como Marielle Franco" por onde quer que ela fosse.

Foram quatro dias intensos, repletos de sorrisos e lágrimas, falas e abraços, compartilhados com personalidades políticas, de organizações de Direitos Humanos, feministas, do movimento negro, da comunidades brasileira, com mulheres, homens, jovens e crianças das favelas de Buenos Aires, com outros familiares de vítimas da violência política, estatal, policial, desta geração e da anterior.

Mônica veio a Buenos Aires para gritar por justiça, essa justiça que está nas mãos do Estado, da policia carioca, e que seis meses depois, brilha por sua ausência. A visita, batizada "Diálogos de Resistência", ocorreu entre 5 e 8 de setembro, e foi de agenda cheia.

Marielle foi homenageada no Senado argentino, e Mônica recebeu em seu nome um Diploma de Honra das mãos do senador Pino Solanas "em reconhecimento pela sua extraordinária valentia e compromisso na luta pelos Direitos Humanos, combatendo desde o território a discriminação e a desigualdade racial, sexual, de classe e de gênero, e pela sua valiosa prática de ’política com afeto’, seu maior legado".

Foto: Viqui Larrea

O evento, ocorrido na quarta-feira (5), contou com a participação da Mãe de Praça de Maio Nora Cortiñas e do prêmio Nóbel da paz, Adolfo Pérez Esquivel. Em sua fala, Mônica disse "Estou aqui para que a gente não tenha outras Marielles no sentido da barbárie, mas tenha muitas outras Marielles no sentido da luta e da resistência".

Quinta-feira, Mônica visitou o Parque da Memória e o Espaço Memória e Direitos Humanos, prédio onde funcionava a Escola de Mecânica da Armada, que durante a última ditadura militar funcionou como centro de detenção e tortura. Um lugar carregado de significado histórico, quando a violência do Estado se configurou em genocídio.

FOTO: Emergentes

Depois disso, Mônica participou de um encontro com o coletivo Ni Una Menos e coletivos LGBT.

Logo de se reunir com organizações afro e brasileiras, na sexta-feira Mônica participou junto à legisladora do PTS, organização irmã do MRT na Argentina, Myriam Bregman de uma homenagem a Marielle e a Kevin Molina, um menino da favela Zavaleta de apenas nove anos, assassinado durante um enfrentamento entre facções numa "zona liberada" pela policia. Junto a Roxana, mãe de Kevin, a organização La Garganta Poderosa e a legisladora de Unidad Ciudadana Andrea Conde, assistiram uma síntese do documentário “Ni un pibe menos” (Nenhuma criança menos), do diretor Antonio Manco.

FOTO: Sebastián Linero / Enfoque Rojo

Mônica falou sobre a responsabilidade do Estado nesses crimes. "Nossos governos tem as mãos manchadas de sangue. Cometeram um genocídio, contra os negros, contra as pessoas que moram nas favelas, contra os que pertencem aos coletivos LGBT, contra as mulheres", e fechou com uma frase que virou lema nas passeatas: "aos nossos mortos nem um minuto de silêncio, a vida toda de luta no presente".

Myriam Bregman, por sua vez, destacou que "violência institucional houve sempre, porque ela é intrínseca ao Estado capitalista", e dando conta do salto dessa violência na América Latina e no Brasil e Argentina em particular, disse que "esse sorriso, esses olhos brilhantes, são os olhos de tantas crianças. Por isso temos que terminar com o capitalismo, que somete as crianças a essas vidas".

FOTO: Sebastián Linero / Enfoque Rojo

No sábado, logo de participar do evento "O mundo sem policia" no Centro Trama XXI de educação popular, Mônica visitou a favela Zavaleta. Junto a Roxana, mãe de Kevin Molina e organização La Garganta Poderosa, passaram um emotivo vídeo com imágens caseiras de Kevin, junto aos seus amigos e amigas, na favela, sorrindo, comendo, brincando.

A sala estava cheia de crianças, amigos de Kevin, que apresentaram o vídeo, choraram e riram, junto a Roxana. Também estiveram Sérgio Maldonado, irmão de Santiago Maldonado, jovem morto durante uma repressão policial contra o povo originário mapuche, e Nora Cortiñas, Mãe de Praça de Maio.

Fotos: Vivian Ribeiro / Coletivo Passarinho

Logo após o vídeo, a praça Kevin, como foi batizada, se encheu de gente para escutar as palavras de Sérgio, Nora, Roxana, Mônica. O evento foi fechado pelo rap de três jovens que esbanjaram talento.

Marielle, presente! foi o grito de Mônica em cada canto de Buenos Aires por onde passou levando sua luta pelo esclarecimento do crime e por justiça. Mas Mônica também deixou claro que sua luta vai para além do caso de sua companheira, para que nunca mais haja casos de barbárie como este.

Fotos: Vivian Ribeiro / Coletivo Passarinho




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