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MOVIMENTO DE MULHERES | Marcha das Margaridas defendia o governo Dilma no mesmo dia que PT negociava os ajustes

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

sexta-feira 14 de agosto de 2015 | 11:17

(Foto: Agência Nacional)

Nos dias 11 e 12 de agosto aconteceu em Brasília a Marcha das Margaridas, que reuniu cerca de 30 mil (segundo a polícia militar) a 70 mil mulheres (segundo as organizadoras do evento). Organizada pela CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura), o evento leva esse nome em homenagem a uma trabalhadora paraibana da agricultura chamada Margarida Alves assassinada há 32 anos atrás.

Esse ano o tema da 5ª Marcha das Margaridas foi “Margaridas seguem em marcha por desenvolvimento sustentável com democracia, justiça, autonomia, igualdade e liberdade”.

As atividades foram chamadas com um conteúdo claro de defesa do governo Dilma e da sua governabilidade diante do possível “Golpe da Direita” e contra o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. Com apoio de estudantes, sindicalistas e movimentos de mulheres, como Marcha Mundial das Mulheres, Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia (Mama), Movimento Interestadual de Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu, União Brasileira de Mulheres (PcdoB), CUT, entre outros, elas escreveram e entregaram o Caderno de Pauta de Reivindicações da Marcha das Margaridas ao Governo Federal e ao Congresso Nacional.

Uma comissão da Marcha das Margaridas foi recebida no último dia 6 de agosto, pela presidente Dilma Roussef, acompanhada dos ministros Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para Mulheres; Miguel Rossetto, da Casa Civil; Tereza Campello, do Ministério do Desenvolvimento Social e Patrus Ananias, do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

A contradição entre as pautas reivindicadas e o apoio ao governo de Dilma Russef

Já na sua carta de apresentação elas colocam que um dos principais pontos do movimento é a defesa do governo diante da conjuntura do pós eleições. Ao mesmo tempo também possuem como pautas a luta contra a regulamentação e ampliação da terceirização, contra a violência doméstica e gênero, contra o racismo, entre outras demandas históricas do movimento de mulheres.

A direção desta marcha faz milhares de mulheres de massa de manobra do governo, levando a uma concepção de luta em defesa de Dilma, mesmo diante de todos os ataques que ela vem implementando.

O discurso contra o golpismo de Eduardo Cunha e da direita é na verdade um meio pra justificar a defesa de um governo claramente em crise política como é hoje o governo do PT. Diante de uma conjuntura nacional marcada pelos atos do dia 16, organizado pela direita com apoio do PSDB e o ato do dia 20 chamado por setores que defendem o governo Dilma, a Marcha das Margaridas aparece como mais uma tentativa de fortalecer o governo federal em meio a crise.

O governo Dilma é hoje o agente implementador de diversos ataques às mulheres, aos trabalhadores e toda a população explorada e oprimida. É sob aplausos de Dilma que Renan Calheiros apresentou sua Agenda Positiva, um “ pacotão” de medidas de ajuste ainda mais profundo das contas do governo contra os trabalhadores e os mais pobres. Ao mesmo tempo em que ocorriam as atividades da Marcha, Lula se reunia com Michel Temer, José Sarney, Joaquim Levy e Renan Calheiros para negociar os novos ajustes que o governo vai implementar.

Os setores dirigentes da Marcha, como membros da CUT e da MMM, discursam em defesa da democracia, sem mencionar todos os ataques que o governo Dilma vem implementando, levando todas essas mulheres a uma ilusão de que uma mulher no poder pode fazer com que nossas pautas avancem. Contudo nos mais de 4 anos do governo Dilma e nos 12 anos do governo do PT não avançamos nos direitos das mulheres, a terceirização triplicou de 4 para 12 milhões, foi aprovado a PL4330 que regulamenta a terceirização precarizando ainda mais nossas vidas, o aborto continua sendo criminalizado e estamos sofrendo com a série de medidas que atacam nossos direitos.

O governo de Dilma não pode falar em nome dessas mulheres, pois está claro que não pode e não vai levar a frente à ampla maioria das pautas reivindicadas. Dilma já provou que para manter-se no poder pode a qualquer momento rifar os nossos direitos e aplicar cada vez mais ataques e ajustes.

Para se combater a violência contra as mulheres, combater a terceirização e lutar pelos nossos direitos é necessário não ter nenhuma ilusão no governo federal. É necessário construir um movimento independente tanto do governo como da oposição de direita, uma alternativa real para essas mulheres sejam capaz de levar até o final todas as nossas demandas, ligadas aos interesses dos trabalhadores, da juventude e de toda a população pobre e oprimida no país.

Nós do Pão e Rosas achamos que diante de todos os ataques que o governo Dilma vem implementando com o apoio de setores conservadores como Cunha, Levy, Kátia Abreu entre outros é fundamental erguer um forte movimento de mulheres capaz de barrar os ataques e ajustes, lutando contra a violência doméstica e de gênero, a PL 4330 e a terceirização, pelo direito ao aborto legal, defendendo nossa livre construção de gênero e sexualidade.

É com esse espírito que estamos chamando para o dia 29 de agosto o Encontro de Mulheres e LGBT do Pão e Rosas, como um primeiro passo para a construção de uma alternativa política para os setores oprimidos que possa levar até o final todas as nossas demandas. Fazemos um chamado as mulheres que constroem a Marcha das Margaridas para que rompam com o governo federal e construam conosco nos locais de trabalho e estudos, para sairmos as ruas por essa alternativa independente.




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