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Que os capitalistas paguem a crise | Latam e empresas “estratégicas”: O Estado a resgatar as Grandes Empresas?

Discute-se como “ajudar” os empresários. Alguns falam de imitar outros países e resgatar as grandes empresas (“muito grandes para caírem”). Para as e os trabalhadores, demissões, suspensões e diminuição nos salários. Para os capitalistas, dinheiro para manterem seus lucros. Eles devem pagar a crise.

sábado 11 de abril de 2020 | Edição do dia

Latam, a ponta do iceberg

Iniciou com o pedido de “ajuda” que a Latam fez ao governo (Chile). Não é qualquer empresa. É emblemática, por sua história, tamanho e donos. Fundada pelo Estado em 1929, em 1958 inicia sua privatização, que é completada em 1994. Nesse ano, Piñera comprou 16% da linha aérea por um preço estimado em $80 por ação, que em fevereiro de 2010 valiam aproximadamente $8800 cada uma. Após assumir como presidente esse ano, vendeu sua parte para seu amigo Cueto. Em 2017 Piñera foi punido por obter informações privilegiadas em uma operação, mediante a qual adquiriu 3 milhões de ações da LAN em 2006, e em 2016, através de uma family office, emprestou $26 bilhões para a LAN, à família Cueto. A sociedade da família Piñera segue sendo credora da dívida da família Cueto, acionista majoritária da Latam.

Hoje a família Cueto, junto à norteamericana Delta Airlines, são as principais controladoras da companhia. Estamos falando de grandes corporações. Os mais ricos do país e de parte do mundo. A Latam controla 74% do transporte aéreo nacional chileno (36% do transporte aéreo nacional do Brasil, tradução) e é a maior companhia aérea da América Latina, com 43 mil trabalhadores (cerca de 10 mil a menos que 5 anos atrás).

Esse monopólio teve enormes lucros essas décadas e, enquanto pede “ajuda” ao Estado, reduziu o salário de seus empregados em cerca de 50%, para abril, maio e junho de 2020. Trabalhadores de base da agrupação “El Despegue” (A Decolagem) denunciaram essa situação.

Além disso, segundo a Fundação Sol (Chile), a Latam recebe cerca de $761 bilhões em investimentos vindos das “Administradoras de Fondos de Pensiones”, as AFP’s (Administradoras de Fundos de Pensões do Chile, que é privado) e teve lucros de 190 milhões de dólares em 2018. Esse dinheiro permitiria manter um total de 43 mil trabalhadores durante três meses com salários de $959725, ou então $719794 por quatro meses.

Repudiamos qualquer tentativa de “resgate estatal” (4 a cada 10 pesos chilenos são pagos pelo povo através do IVA, imposto sobre bens de consumo no Chile!) para a Latam, pois irá apenas em benefício de seus proprietários e acionistas. Não foram Piñera, a família Cueto e a multinacional Delta que se enriqueceram usufruindo de uma empresa quase presenteada pelo Estado? Deveriam ser esses profissionais do roubo estatal e da exploração “resgatados”? De modo algum. A Latam deve ser expropriada sem nenhum pagamento para seus controladores, com os recursos fiscais que sejam necessários para que, mediante o controle de seus próprios trabalhadores, através de comitês e sindicatos, dêem uma saída a essa empresa que beneficie o povo trabalhador, e não grandes capitalistas e seus lucros.

O Estado em resgate das grandes empresas

No Chile, os grandes bancos já começaram a receber “ajuda”. Através de um programa chamado “Facilidad de Financiamento Condicional al Incremento de las Colocaciones”, o Banco Central está entregando créditos aos bancos há 4 anos, um montante de 5,5 bilhões de dólares. Já vários bancos solicitaram (Banco Chile e outros) outros bilhões. Esse dinheiro aos banqueiros, a uma taxa tecnicamente de 0%, os ajudará em novas rondas de especulação e crédito, mas não em investimentos.

Nas “empresas estratégicas”, não apenas Latam. Iniciadas as conversações, somou-se o grande comércio, depois as grandes empresas do transporte, as concessionárias das estradas e outras.

Juan Sutil, Presidente da CPC (Confederação da Produção e do Comércio) disse: “O Estado tem que analisar suas opções com pragmatismo, sem ideologias envolvidas. (…) já que tem que pensar que deve ter companhias estratégicas”. O acompanharam a SOFOFA (Sociedade de Industriais) e os grandes sindicatos patronais. Os meios fazem campanha a favor de um resgate, porque se o Estado não entrega dinheiro às empresas perdemos o trabalho, haverá quebras e desemprego massivo. Nos dizem que é porque as empresas movem a economia, então devemos apertar os cintos e ajudá-las porque senão fizermos isso, o país e sociedade irão a ruína.

Também os principais partidos do regime apoiam o resgate a esses grandes grupos. “Não é possível descartar ajudas, salvamentos ou inclusive estatização de alguma empresa se é estratégica ou monopólica”, disse o RN Mario Desbordes. Não se esqueceu de dizer “Isso sim, um eventual resgate não pode ser nas condições tão generosas como as que recebeu o sistema bancário na crise dos oitenta”.

“Não é o momento de dogmas”, foi dito pelo ex Ministro da Fazenda de Bachelet e o senador PPD Jaime Quintana disse à SOFOFA que “os grandes empresarios devem perder o medo da nacionalização” pois seria “transitório” até que estejam bem e o Estado as devolva. Pura generosidade. No dia de ontem, todos os partidos de “oposição” (inclusive o Partido Comunista e a Frente Ampla) pediram novas medidas ao executivo e, ainda que algumas que vão no sentido correto, como proibir demissões, dizem “que isso é necessário, salvando as empresas estratégicas”. Ainda que proponham uma renda básica (até o Financial Times a pede hoje), junto disso ajudas e resgates a grandes empresas, ataques ao salário e flexibilização do trabalho, como fizeram aprovando o trabalho a distância e o projeto de lei contra o emprego.

O executivo estuda várias alternativas para o resgate de grandes empresas, que seriam anunciados nos próximos dias. 1) Banco Estado empreste recurso diretamente, voltando a capitalizá-lo. Muitos falam da ordem de US$ 4 bilhões, pois se traduziria em aproximadamente US$ 32 bilhões em nivelamentos adicionais ao sistema bancário. ”Para cada peso que o Banco Estado capitaliza, o mesmo pode emprestar $8”. Esse mecanismo foi usado na crise do subprime de 2008 e 2009. 2) Aumentar o Fundo de Garantia para Pequenos Empresários (Fogape), administrado pelo Banco Estado. “Pequenos” cujas vendas anuais vão de 2,8 bilhões de pesos até 10 bilhões de pesos, quase 11 milhões de dólares. E pensam em subir o limite que poderiam chegar até 17,1 bilhões de pesos, cerca de US$18,9 milhões. Briones falou de uma estratégia para “empresas que sigam além das pequenas e médias empresas”. 3) Que grandes companhias possam emitir uma espécie de “dívida subordinada” respaldada por uma garantia do Estado (como se fez na crise dos anos 80). ”Seria como por um respirador artificial nas companhias por três meses”, disseram sobre o setor. Todas medidas em benefícios das grandes companhias.

Nenhum resgate aos capitalistas. Eles devem pagar a crise, não os trabalhadores

Falam de “empresas sistêmicas”, aquelas cujo a queda repercutiria em toda a economia, dada a rede de provedores, distribuidores, clientes e trabalhadores que sustentam. São um reduzido grupo de conglomerados econômicos e grandes ricos que controlam as principais áreas da economia. Segundo o Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica, “No chile as grandes empresas representam 3,2% do total de empresas. No entanto, elas concentraram 81,6% das vendas em 2015 e empregas 53,6% do total de trabalhadores. Destas empresas, 75% são de propriedade exclusivamente estrangeira”. No ano de 2013 as rendas dos maiores 20 grupos econômicos nacionais Chilenos somaram US$ 145 bilhões, o equivalente a 52,61% do PIB do país. Essas companhias controlam do cobre até as comunicações, o transporte, a energia, as pensões etc.

Quem foram os grandes ganhadores durante todas essas décadas? Quem enriqueceu durante todos esses anos em que nós da grande maioria temos sobrevivido mês a mês? São esses grandes monopólios, nacionais e multinacionais, as grandes famílias, os ricos do Chile. Eles devem pagar a crise, não as maiorias trabalhadoras e pobres.

Enquanto eles pedem “ajudas” ou “resgates”, as grandes maiorias somos legados à redução de salários, demissões e suspensões, assim como gratificações miseráveis. A velha frase do Manifesto Comunista, “o governo do Estado Moderno não é mais que um conselho que administra os negócios comuns de toda a classe burguesa”, mostra todo seu sentido.

Há outra saída em benefício das e dos trabalhadores. Para isso, devemos tocar os interesses dos capitalistas, os que ganharam todos esses anos. Não resgatar seus acionistas, mas sim nacionalizar, sem indenização e sob controle de seus próprios trabalhadores, toda empresa que quebre ou ameace quebrar. Tem que por fim ao saque dos recursos como o cobre e nacionalizá-lo sem indenização, assim como as principais empresas estratégicas do país e os bancos, cujos empresários se beneficiaram mediante privatizações fajutas na ditadura e na democracia. Por essas empresas para serem controladas pelos seus trabalhadores, para que estejam a serviço de um plano nacional que beneficie o povo e não os lucros de um punhado de monopólios estrangeiros e nacionais. Teríamos recursos enormes para contribuir e enfrentar a crise sanitária, para salários e pensões que resguardem a saúde e a vida da classe trabalhadora, que é o quê está em jogo. Um plano que permita reduzir a jornada de trabalho, gradualmente incorporando toda a força de trabalho desempregada, deixada à miséria crescente.

Esses grandes empresários estrangeiros e nacionais tem que pagar a crise, os que ganharam com a ditadura e a transição, os que destruiram a saúde pública, e agora os mais pobres pagam pela crise sanitária. Aqueles que precarizaram o trabalho e ganharam milhões com os salários de fome e as pensões de misérias a nossos aposentados. Temos que construir uma esquerda das e dos trabalhadores, como viemos fazendo a partir do PTR e do La Izquierda Diario no Chile, contra as variantes que somente promovem a resignação ou o mal menor dos ataques, como fazem o Partido Comunista e a Frente Ampla.




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