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TRIBUNA ABERTA | LOVE: um filme sobre "sangue, esperma e lágrimas"

Murphy (Karl Glusman) está desanimado com a vida que leva com Nora (Klara Kristin), sua antiga vizinha com quem tem um filho pequeno. Ele relembra do relacionamento marcante que teve com Electra (Aomi Muyock) anos atrás e que parece estar desaparecida.

quinta-feira 17 de setembro de 2015 | 01:49

O cinema do argentino Gaspar Noé é atípico e de muito virtuosismo técnico. Em um cinema cheio de intensas experiências sensoriais, Noé sabe como te imergir na atmosfera dos seus personagens. O seu recente filme “Love” que ainda carrega o clima dos outros filmes do diretor é uma tentativa totalmente realística de retratar uma relação passional, em todos seus excessos físicos e emocionais.

Noé declara que sempre quis realizar esse projeto. Até mesmo dentro do filme o protagonista Murphy, jovem estudante de cinema, de maneira metalinguística explica para o público porque fazer um filme com explicitas cenas eróticas que são raramente permitidas no cinema “normal”. Um desejo de um incauto estudante de cinema que é Murphy, que é realizado com animo por Gaspar Noé: “De todos os meus filmes, esse é o mais próximo do que eu pude conhecer sobre a existência, e também o mais melancólico.” (nota do diretor/ Cannes)

As tais ditas cenas são centro das discussões sobre a obra. A falta de naturalidade que o grande público tem para lidar com esse tema é evidente, exatamente por isso não é medido esforços para a realização das cenas. As sequencias de sexo são longas, a ousadia e a confiança dos atores também não podem escapar do reconhecimento.

Em conta a isso em algumas leituras a história acabou parecendo vazia, mas é exatamente esse retrato que o filme faz sobre as paixões. Não é uma visão romântica da história de um casal e sim uma visão mais humana e dura, realista. Vivemos atualmente com muita fragilidade dos laços humanos e muita sensibilidade às ações abusivas, construir um relacionamento flexível é um grande desafio e que gera muita insegurança. Essa relação de Murphy e Electra é contraditória para o espectador, o vício dele por ela é um reflexo da imaturidade romântica.

Apesar de Murphy ser totalmente possessivo e com preconceitos machistas, não é simplesmente um filme-denúncia às relações abusivas. Elas estão lá sim e são importantes para o filme, mas a denúncia é para a questão de que o amor é egoísta e abusivo. Se você acredita que o amor pode ser algo mais mútuo, ele pode ser, mas as relações de Murphy-Electra-Nora são mal resolvidas não só porque o personagem é um idiota, mas porque as relações são em si mal resolvidas. Parece que Noé escolhe basear a paixão com as relações sexuais, sem separar as coisas, para evidenciar isso. O filme não perde por ter essa visão de amor, as escolhas do diretor pelo “sangue, esperma e lágrimas” são mérito para um filme com esse tema.




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