×

Em Recife | Justiça mandou censurar nome de coronel torturador em dossiê da Comissão da Verdade

O coronel da PM, Olinto Ferraz, comandava Casa de Detenção do Recife em 1971, quando militante do PCR, Amaro Luiz de Carvalho, foi torturado e morto.

sexta-feira 4 de fevereiro de 2022 | Edição do dia
Amaro Luiz de Carvalho, morto em 1971 na Casa de Detenção do Recife, dirigida então pelo coronel da PM Olinto Ferraz

A Justiça Federal de Pernambuco deu um passo em direção atroz ao negacionismo histórico em 2019, mas só agora o caso veio a público. Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria descobriu que documentos oficiais da Comissão Nacional da Verdade haviam sido adulterados com uma tarja preta em cima do nome do coronel da PM, Olinto Ferraz. O Arquivo Nacional é responsável por preservar esses documentos, que são parte de investigação de Comissão do Estado.

Olinto dirigia a Casa de Detenção de Recife em 1971, quando Amaro Luiz de Carvalho foi preso e morto dentro da casa. Na época, o Estado soltou a notícia de que Amaro havia sido envenado pelos amigos, mas evidentemente era mentira e Amaro havia sido torturado e morto dentro da prisão que Olinto chefiava.

No atestado de óbito, lia-se: “hemorragia pulmonar decorrente de traumatismo de tórax por instrumento cortante”.

A Comissão responsabilizou o Estado pela morte. Em 2019, os filhos do torturador Olinto abriram processo contra a União para retirar o nome do pai dos documentos oficiais.

O juiz federal, ao arrepio do bom senso e das leis, simplesmente determinou "a retirada do nome do falecido Olinto de Souza Ferraz de qualquer menção a tortura com participação direta ou indireta por ação ou omissão”. Foi colocada literalmente uma tarja preta em cima do nome do torturador, como mostra a imagem a seguir.

Trata-se de decisão absurda, entendida somente como demonstração de negacionismo histórico e revisionismo atroz. O salto dos militares ao poder, com a vitória de Bolsonaro em 2018, beneficiou a criação de um ambiente onde juizes de primeira instância podem simplesmente adulterar documentos oficiais que denunciam as barbáries cometidas pelo Estado no passado. Ao mesmo tempo, este é mais um caso de bacharéis e juízes mandando e desmandando em nosso país ao arrepio da lei. Trata-se de uma afronta à memória de Amaro, seus familiares, e todos os que prezam pela verdade histórica.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias