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CAMPINAS | Jonas anuncia que escolas de Campinas reabrirão em outubro

Na tarde da última segunda, 31, o prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), anunciou em uma live que as escolas de Campinas voltarão a ter aulas presenciais em 7 de outubro, seguindo o calendário proposto por Doria (PSDB) para o estado de São Paulo. Assim como o governador, Jonas tomou essa decisão irresponsável sem nem ao menos consultar a comunidade escolar, que é quem de fato vai estar exposta ao Coronavírus.

quarta-feira 2 de setembro de 2020 | Edição do dia

Foto: Luciano Claudino/Código19

Em live no Facebook em sua página pessoal no dia 31 de agosto, o prefeito de Campinas Jonas Donizette (PSB), ao lado da secretária de educação Solange Villon, do secretário de saúde Carmino de Souza e do presidente da rede Mário Gatti, Dr. Pimenta, declarou a volta às aulas no município de Campinas para estudantes do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental, jovens e adultos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e jovens do Ensino Técnico a partir do dia 7 de outubro - no caso de todo o Estado de São Paulo estar na fase amarela da pandemia. Também deixou em aberto a possibilidade de crianças de 4 e 5 anos da Educação Infantil voltarem às aulas presenciais.

A situação, ancorada pelo discurso do secretário da saúde de declínio de casos e baixa propensão de contágio em crianças, encobre os mais de mil óbitos por covid-19 na cidade (11ª cidade brasileira com maior número de mortes) e a recente reabertura de bares, academias e shoppings, evidentemente elevando o contágio. Como se não bastasse, a prefeitura voltou-se apenas à população dita “escolar” ao pensar a reabertura das escolas e desconsiderou as famílias e todo outro e qualquer espaço pelos quais as crianças e jovens necessitam estar e levariam, mesmo que assintomáticos, o vírus.

Vale ressaltar que o secretário Carmino expôs que "as crianças especiais (...), com comorbidades, doenças metabólicas, câncer..." não voltam às aulas. Validando assim não só que não há possibilidades de volta - já que haverão excluídos de forma mais explícita ainda - como também uma perspectiva perversa de educação que cumpre um papel bastante desigual.

A secretária de educação e o prefeito afirmaram que poucas pessoas não possuem acesso à plataforma online, e, ao mesmo tempo, que o município tem garantido as atividades impressas e um chip com 5gb de internet - pacote de dados que pouco dura quando necessária a visualização de vídeos e pesquisas extensas. Isso mostra o total desconhecimento da situação dos estudantes por parte do prefeito. Além de várias crianças que não têm acesso à plataforma por não ter celular ou computador, é muito comum famílias com dois ou mais filhos em idade escolar que só tem um celular para revezar e acessar as atividades. A secretaria de educação chegou ao ponto de anunciar que vai “emprestar” tablets aos alunos que não tem acesso, mas o número de equipamentos destinados a cada escola mal chega a 5% do total de alunos.

Além disso, Jonas sempre tem se usado do discurso de que a prefeitura tem garantido a entrega de cestas básicas para todas as famílias que precisa, o que não passa de uma grande mentira. Em praticamente todas as escolas são os professores e funcionários que têm feito campanhas de arrecadação de alimentos, muitas vezes tirando dinheiro do próprio bolso, e arrecadando 3 ou 4 vezes mais cestas básicas do que as doadas pela prefeitura. Mostrando quem de fato está preocupado com os estudantes e seus familiares.

Destaca-se também que o prefeito não soube dizer quais etapas da Educação Básica são de responsabilidade municipal, ao recorrer à secretária. O desconhecimento não para por aí, visto que parte das escolas não possui estrutura sanitária e conta com falta de equipamentos e utensílios de higiene essenciais tais como papel higiênico.

Próximo ao fim da live, o prefeito deixou marcada sua posição com as escolas privadas, a iniciar por “eu quero fazer uma defesa das escolas particulares”. Também chamou-as de “escolinhas” e, ao mesmo tempo, ovacionou seus gestores ao dizer que esses só querem “voltar a trabalhar”. Reafirmou que as mesmas não são “mercenárias”, mas sim estão cumprindo muito bem seus papéis. Mais que isso, conferiu autonomia a esse setor, de forma que funcionem presencialmente, ou não, a maneira que acharem melhor e, com isso, “apertou as mãos”, mais uma vez, dos empresários de Campinas.

O discurso de testagem em todos e todas os profissionais da educação não garantem, por si só, o “controle” da contaminação, a pensar que as estudantes não seriam testadas e os testes, para além de não garantidos, não foram colocados como que feitos com regularidade. Além de que os testes com resultados mais rápidos apresentam um alto índice de falso positivo e os testes mais eficientes demoram dias para apresentar o resultado, fazendo com que pessoas contaminadas continuem a frequentar a escola e contaminar estudantes e profissionais da educação até saberem que estão com Covid-19.

O chamado pelos participantes da live de “binômio saúde-educação” evidencia uma educação excludente, precarizada, de interesses privados e uma saúde seletiva e com dados que seguem subnotificados. Também não esqueceremos as demissões dos estagiários da educação no início da pandemia e as reuniões a portas fechadas com o empresariado, que tem como princípio fundamental o lucro sobre o sistema educacional.

Jonas, que tentou se mostrar como gestor responsável durante essa crise sanitária, declarando inclusive que as escolas não abririam sem autorização da saúde no momento em que Doria anunciava o retorno às aulas das escolas estaduais, agora confirma mais uma vez que não está do lado da população ao nem ao menos ouvir o que a comunidade escolar opina sobre o retorno das aulas presenciais. Em pesquisa realizada pelo Conselho das Escolas Municipais de Campinas (CEMC), que contou com a participação de mais de 5 mil pessoas entre pais, alunos e profissionais da educação, o resultado é o contrário da determinação da prefeitura. Entre pais e alunos, apenas 14% é favorável ao retorno das aulas em 2020. Entre profissionais da educação, apenas 6%.

O retorno às aulas, quando e como, deve ser uma decisão dos professores junto à comunidade escolar. Não daqueles que tampouco conhecem a realidade das nossas escolas, estudantes e seus familiares. João Doria, Rossieli, Jonas e Carmino estão preocupados em impulsionar um "novo normal" que garanta o lucro dos empresários não a vida da comunidade escolar. Isso ficou escancarado, conforme expressamos nesse texto, com a ausência de políticas de segurança alimentar enquanto o estômago dos estudantes ardiam de fome. O Esquerda Diário e o Movimento Nossa Classe Educação é absolutamente contrário ao retorno às aulas enquanto não houver condições seguras para tal. E que esse retorno perpasse por decisão de uma comissão autorganizada de professores, estudantes e seus familiares, trabalhadores da educação e da saúde. São esses quem devem decidir. Não aqueles que atacam os trabalhadores e sabotam o futuro da juventude.




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