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IMIGRAÇÃO EUROPA | Jogadores gregos interrompem partida de futebol em protesto pelas mortes de imigrantes

O jogo de futebol da segunda divisão na Grécia entre as equipes AEL Larissa e o Acharnaikos, na cidade tessalonicense de Larissa, foi atrasado na sexta-feira, quando os jogadores das duas equipes sentaram-se no gramado em sinal de protesto contra as centenas de mortes de imigrantes que tentaram chegar às ilhas do Mar Egeu.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

terça-feira 2 de fevereiro de 2016 | 01:00

Quando o jogo começou todos os 22 jogadores, além da comissão técnica e os reservas, sentaram em silêncio por dois minutos também em homenagem aos milhares de refugiados que perderam a vida tentando escapar dos conflitos e da perseguição em países como a Síria e o Iraque.

As guerras civis e os conflitos étnico-religiosos entre sunitas e xiitas (as duas vertentes do islamismo), que trouxeram à tona aberrações políticas como o Estado Islâmico, mas também os inúmeros massacres da população local por ditadores como Bashar el-Assad na Síria durante a primavera árabe, são de integral responsabilidade das intervenções imperialistas e as ocupações militares das potências ocidentais europeias e dos Estados Unidos. Um de cada cinco refugiados no mundo é sírio, por exemplo, como mencionamos neste estudo do Esquerda Diário sobre o papel do imperialismo na tragédia migratória.

Um anúncio no sistema de som do estádio sentenciou: “A administração da equipe AEL Larissa, a comissão técnica e os jogadores observarão dois minutos de silêncio neste início de jogo em memória das centenas de crianças que continuam a perder suas vidas todos os dias no Mar Egeu graças à brutal indiferença da União Europeia e da Turquia. Os jogadores do AEL protestarão a fim de obrigar as autoridades a mobilizar todos aqueles que parecem não se sensibilizar com os crimes hediondos que estão sendo perpetrados no Egeu”.

A Grécia se tornou o principal portão de acesso para os refugiados que chegaram à Europa no ano passado, obrigados a tomar os caminhos mais perigosos para fugir das guerras impostas pelo imperialismo e entrar numa União Europeia que se arma como uma muralha de arame farpado para impedir o ingresso desta onde de migrantes forçados. Cinco crianças estão entre os 33 imigrantes que se afogaram no Egeu neste sábado enquanto tentavam atravessar da Turquia para a Grécia.

O gesto de solidariedade dos jogadores gregos aconteceu 24 horas depois do anúncio do Comitê Olímpico Internacional de que a tocha dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de janeiro passará pelo campo de refugiados de Eleonas em Atenas.

O acordo nefasto entre a Alemanha e o governo turco, que recebeu mais de 3 bilhões de euros para fechar a fronteira da Turquia com a Europa e aplacar o ritmo das migrações – que aumentou o número de tragédias migratórias, pois sírios, iraquianos e afegãos continuam as tentativas por rotas mais perigosas – é acompanhado pelo papel cúmplice do governo do Syriza na Grécia. Houve dezenas de greves de fome por parte dos refugiados, presos nos famigerados “Centros de Internação para Estrangeiros” (CIEs) na Grécia, contra as precárias condições de vida, sem nenhuma resposta do governo de Alexis Tsipras, que tem uma política migratória idêntica a dos partidos neoiberais anteriores, avalizando estes verdadeiros campos de concentração do nacionalismo europeu.

Outras manifestações de apoio aos imigrantes no futebol

Em setembro de 2015 as torcidas organizadas de diversas equipes da primeira divisão na Alemanha se pronunciaram também em solidariedade aos refugiados. Retomando um dos slogans - "Refugees Welcome" (Refugiados, Bem-vindos) - da manifestação pró-migrantes de 29 de agosto em Dresden, que reuniu 10.000 pessoas, as torcidas dos times do Borussia Dortmund, Bayern de Munique, Werder Bremen, Wolfsburg e Hamburgo decidiram se unir e utilizar sua visibilidade a fim de tomar posição sobre um dos assuntos políticos mais sensíveis deste início de ano na Europa.

Além da influência nacional e internacional dos clubes envolvidos, as cidades a eles associadas representam fortalezas da economia e da indústria alemã. Munique é o terceiro maior centro econômico da Europa, depois de Londres e Paris, enquanto o porto comercial de Hamburgo é o maior da Alemanha e o terceiro na Europa depois do de Roterdam e da Antuérpia. Em nível industrial, Wolfsburg é historicamente o berço da Volkswagen, enquanto que Bremen sedia as fábricas da Mercedes, EADS e ArcelorMittal. Finalmente, no coração da região do Ruhr - região símbolo da revolução industrial alemão - Dortmund continua a ser um ícone de concentração de trabalhadores.

A Associação Alemã de Futebol (DFB) também divulgou um vídeo em que suas principais figuras dão uma mensagem de apoio aos refugiados e repudiam a violência e a xenofobia, sendo vários deles também estrangeiros como Podolski (de origem polonesa), Özil, Gündogan e Can (da Turquia), Boateng (de Gana e que tem um irmão jogando na seleção do país africano) ou Mustafi (Albânia).

Os trabalhadores não tem pátria: a bandeira de defesa dos imigrantes contra o imperialismo

Ante a magnitude da crise social que vivemos na Europa, é fundamental enfrentar todas as políticas reacionárias que buscam reforçar os controles migratórios e as fronteiras nacionais. É necessário impulsionar em toda a Europa um massivo movimento político que defenda os direitos dos imigrantes e refugiados.
Medidas como a anulação das leis para estrangeiros, o fechamento imediato dos centros de internação (CIEs) e a abertura das fronteiras para todos os solicitantes de asilo devem ser defendidas por todos os sindicatos e organizações da esquerda.

Contra a “distinção” que faz Merkel entre “refugiados legais” e “imigrantes ilegais”, desconhecendo os pedidos de asilo da população dos Bálcãs bombardeada pela Alemanha na Guerra do Kosovo em 1999, é necessário um plano de emergência que inclua subsídios, moradia, plenos direitos sociais e políticos e trabalho genuíno para imigrantes e refugiados, ganhando o equivalente à renda familiar exigida na Europa.

Os capitalistas não podem resolver a crise migratória senão com medidas reacionárias. Esta odisséia de migrações tem sua origem nas violentas relações estatais capitalistas, e suas misérias não podem terminar nos marcos das divisões entre fronteiras nacionais.

A luta por eliminar as fronteiras nacionais é também a luta contra a Europa imperialista e dos monopólios.




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