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Jaider Esbell vive em nossa luta

Luno P.

Jaider Esbell vive em nossa luta

Luno P.

Na última terça-feira, dia 02, fomos inundados pela tristeza da morte de Jaider Esbell, encontrado morto aos 41 anos em seu apartamento na cidade de São Paulo. Ele que era um dos maiores teóricos e expoentes da arte indígena contemporânea, além de um ativista que se colocava contra os brutais ataques que os povos indígenas vem sofrendo, como o Marco Temporal e a violência racista que busca destruir as vidas indígenas, deixa um profundo legado para a arte brasileira.

Artista, curador, escritor, educador, ativista dos direitos indígenas, promotor cultural e pensador contemporâneo. Esse era Jaider Esbell, indígena da etnia Macuxi cujo trabalho e pensamento emancipador marca a história da arte no Brasil.

Espinha dorsal da 34º Bienal de São Paulo, Esbell estava com suas obras expostas desde setembro na mostra "Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea", no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM São Paulo), onde também assinava a curadoria.

Jaider Esbell, Sem título, da sub-série Transformação/Ressurgência de Makunaima / série Transmakunaimî, 2018

Uma de suas obras está também no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio (CCBB RJ), na exposição "Brasilidade pós-modernismo", que fica em cartaz até 22 de novembro. Outra pode ser encontrada no 28º Porto Alegre em Cena, na instalação "Entidades", no meio do lago do parque Redenção.

O artista nasceu em 1979, em Normandia, no estado de Roraima, na terra indígena Raposa Serra do Sol, e se consolidou nos últimos anos como uma das figuras centrais da arte indígena contemporânea no país, ao lado de nomes como Denilson Baniwa e Isael Maxakali. Ele se mudou para Boa Vista aos 18 anos, quando já havia participado da articulação de povos indígenas e de movimentos sociais.

Esbell entendia a sua arte, que ele denominava de ’artivismo’, como uma ferramenta política. O mesmo definia que a arte indígena desperta uma consciência que o Brasil não tem de si mesmo, marcado pelo colonialismo, pela escravidão, pelas invasões e a brutal exploração do sistemas capitalistas que reduz nossas vidas ao lucro.

“Arikba, a mulher de Makunaimî”, 2020, Acrílica e posca sobre tela, 72 x 75 cm

No fim de agosto, na semana anterior à abertura do evento, Esbell fez uma performance em frente à entrada do Pavilhão da Bienal, com um cartaz com os dizeres: “A Bienal dos Índios — AIC”. A sigla vem de Arte Indígena Contemporânea, movimento iniciado em 2013 por Esbell com outros artistas indígenas.

Performance de Jaider Esbell na entrada da exposição (Foto: Paula Berbert e Daniel Jabra / Reprodução)

"A minha luta aqui é a mesma que está acontecendo em Brasília, para não deixar o Marco Temporal passar. Este pavilhão é um parlamento, estou atuando aqui como um advogado indígena, como um parlamentar indígena. — disse Esbell ao GLOBO, na ocasião. — Quando me convidaram, falei que não queria estar aqui sozinho, só entraria se fosse com a corporificação da minha política de ser indígena, para a sociedade branca escutar a realidade que ela minimiza e apaga. Esta luta não é só dos indígenas, é para preservar a vida de todo mundo, dos nossos netos".

"Enquanto indígena a gente já vem num processo histórico de fim de mundo. Viver o extremo das coisas já é parte da nossa própria dinâmica. Eu cresci vivendo violências e ameaças. Acredito que não tenha mudado. Talvez tenha mudado a forma de morrer. Não exatamente uma forma de violência urbana ou mesmo rural, por conta do racismo, mas uma morte que pode vir de um lugar invisível mesmo, esse elemento surpresa", disse Jaider em 2020, em entrevista ao jornalista Cláudio Leal.

"Carta ao velho mundo", 2018/2019

"Quando a gente sai por aí, no mundo, na zona rural ou urbana, já espera alguma agressão física de alguém desavisado ou extremamente racista. É diferente de você ser surpreendido por um vírus que você pode ser contagiado pelo teu próprio parente. No meu modo de ver o mundo, a diferença é exatamente essa. Analisando toda essa conjuntura, tudo o que eu já produzi, as formas como eu já me comuniquei com o mundo, eu basicamente me sinto um artista realizado. Claro que tem muito o que se fazer ainda, mas já morreria muito feliz pela produção que eu já deixo, tanto pictórica como escrita, audiovisual".

Jaider Esbell vive em nossa luta, assim como o seu legado permance na história desse país.


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Luno P.

Professor de Teatro e estudante de História da UFRGS
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