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MÚSICA | Israel e as heranças libertárias da música dos anos 1960

Mal acabei de redigir um artigo sobre os cinquenta anos da canção (I Can´t Get No) Satisfaction, da banda inglesa Rolling Stones, e me deparo com um fato problemático sob o ponto de vista da esquerda: na última quarta feira, dia 4, os Stones tocaram em Israel.

terça-feira 9 de junho de 2015 | 14:12

A banda ignorou o pedido de Roger Waters (um dos fundadores do Pink Floyd, banda conterrânea dos Stones) para não realizar o show no local. Waters vem atuando no BDS (Boicote-Desinvestimento-Sanções) e lidera artistas para boicotar o Estado de Israel.

Waters também pediu a Caetano Veloso e Gilberto Gil para não realizarem a sua turnê no mesmo local. Mesmo assim ambos os compositores não cancelaram o show. A partir disso, é comum que muitos jovens de esquerda olhem com desconfiança para o rock e o tropicalismo, acabando por não refletir sobre os aspectos progressistas que tais manifestações sessentistas ainda podem ter. Pois bem, sem querer colocar aqui em questão o BDS, o fato é que diante dos ataques que a população palestina sofre por Israel, é no mínimo contraditório que músicos de proveniência libertária (falo especificamente no campo estético) toquem neste local. Porém, esta contradição somada a uma série de outras que envolvem músicos da geração dos anos sessenta, colocariam em cheque a sua possível contribuição para o debate musical dentro da esquerda?

Rolling Stones, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paul McCartney, Bob Dylan, Chico Buarque e inclusive o Pink Floyd, estão entre os inúmeros artistas que revolucionaram a linguagem musical nos anos sessenta/setenta. Estes medalhões literalmente não saem das pautas dos periódicos nacionais e internacionais (seja quando o papo é sobre música ou não). Embora não sejam militantes de esquerda no sentido rigoroso do termo, suas contribuições estéticas são certeiras (e altamente criativas) por participarem de um período(os anos sessenta) de profunda rebeldia e contestação política. É claro, para ser apreendida em seu caráter revolucionário, a música não pode se dissociar de uma posição política anticapitalista. A maioria destes artistas não podem, mediante suas carreiras, serem considerados politicamente revolucionários: inúmeros esquemas comerciais fazem dos discos e dos shows atividades altamente lucrativas sob o ponto de vista capitalista.

Entretanto, ao debatermos e cobrarmos uma postura política da geração de músicos dos anos sessenta, não podemos nos desfazer do fecundo material sonoro que esta mesma herança encerra: o inconformismo social presente nesta herança, deve ser aproveitado criticamente pela nova geração. Mais útil do que organizarmos patrulhas (e a patrulha é uma tática que diz respeito particularmente aos stalinistas), é estabelecer uma releitura da música dos anos sessenta neste início de século XXI. Trocando em miúdos: é preciso assimilar criticamente o que ainda é válido nestas experiências musicais. Não cair na armadilha neutralizadora do capital é missão do músico revolucionário dos nossos dias. E este músico precisa tanto de formação política quanto de bagagem musical. Ou seja, não dá pra ignorar Stones, Beatles, Dylan, tropicalismo e todo o pessoal que já foi (pelo menos até certo ponto) “da pesada“.




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