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DEBATE | Internacional Progressista: centro-esquerdismo ao resgate do capitalismo

Fernando Haddad, Naomi Klein, Noam Chomsky, Elizabeth Goméz Alcorta, Yanis Varoufakis, Álvaro García Linera, entre outros, pedem a formação de uma Internacional Progressista. Uma frente internacional para resgatar as instituições da democracia capitalista.

sexta-feira 15 de maio de 2020 | Edição do dia

Texto publicado originalmente em castelhano no La Izquierda Diario Argentina.

Por iniciativa da Sanders Foundation, liderada por Janet Sander, esposa do ex-candidato democrata Bernie Sanders, e do Movimento Democracia na Europa 2025 (DiEM25), foi convocada a formação de uma Internacional Progressista, a qual aderiram várias figuras intelectuais e de referências culturais e sociais como Noam Chomsky, Naomi Klein, o ator mexicano Gael García Bernal, o escritor Arundhati Roy, o filósofo Srecko Horvat e a alemã Carola Rackete.

Também é formado por políticos como o ex-ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis; a primeira-ministra islandesa, Katrín Jakobsdóttir; a ministra argentina da Mulher, Gênero e Diversidade, Elizabeth Gómez Alcorta e a embaixadora argentina na Rússia, Alicia Castro. Outros convocadores são o ex-presidente do Equador, Rafael Correa; o brasileiro Fernando Haddad, ex-candidato do PT contra Bolsonaro; o ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim e o ex-vice-presidente boliviano Álvaro García Linera.

O objetivo expresso da convocação à Internacional Progressista é "promover a união, coordenação e mobilização de ativistas, associações, sindicatos, movimentos sociais e partidos em defesa da democracia, solidariedade, igualdade e sustentabilidade".

Centroesquerdismo

O grupo mostra uma reunião de figuras intelectuais de prestígio e referências sociais, juntamente com uma soma de políticos de centro-esquerda que merecem um certo equilíbrio. A Sanders Foundation é um dos pontos de apoio do senador Bernie Sanders, que após uma campanha que concentrou o entusiasmo dos trabalhadores imigrantes, jovens e mulheres, abandonou a carreira eleitoral dentro do Partido Democrata nos Estados Unidos, e se alinhou com a candidatura do democrata conservador Joe Biden e votou pelo resgate bilionário dos grandes capitalistas apresentado por Donald Trump.

Varoufakis era ministro das Finanças da coalizão Syriza, cujo governo desviou o processo de mobilização popular que colocou o capitalismo grego em cheque e os planos de ajuste da União Europeia. Capitulando diante da pressão das potências regionais, o Syriza realizou um ajuste brutal ditado pelo capital financeiro. Varoufakis teve que renunciar devido à recusa do primeiro-ministro Tsipras de cumprir o mandato popular do plebicito que rejeitou o memorando europeu.

Seus componentes latino-americanos fizeram muito mais para manter intacto o regime social capitalista. Álvaro García Linera foi destituído, juntamente com Evo Morales, por um golpe cívico-eclesiástico-militar, sem oferecer resistência ou convocar mobilização popular. Eles governaram sob a marca do chamado capitalismo andino que manteve intactos os interesses das elites de Santa Cruz e incentivou seu crescimento através do agronegócio.

Rafael Correa, por sua vez, caracterizou-se por manter a dolarização da economia equatoriana ao longo de seu mandato, dando todo o seu apoio ao ajustador Lenin Moreno quando deixou o poder. Celso Amorim foi chanceler de Lula e ministro da Defesa de Dilma Roussef, cujo governo realizou um ajuste neoliberal contra a classe trabalhadora antes de ser derrubada, também sem oferecer resistência, por um golpe judicial.

Estado (burguês) atual

A maioria dos políticos convocadores da Internacional Progressiva incentiva o retorno do Estado, ou seja, o resgate do capitalismo através da intervenção do Estado. Identificam os males do sistema com o neoliberalismo.

Para Varoufakis, membro do DiEM25, o retorno do Estado burguês para encontrar uma saída da crise de Covid19 está no centro do debate público. "A questão é se o Estado é usado para resgatar o neoliberalismo ou para realizar uma reforma”, “um vírus sem cérebro nos obriga a enfrentar um dilema simples: ou a zombificação de bancos e empresas depois de 2008 devora o resto da economia, ou reestruturamos massivamente a dívida pública e privada. Esta é a decisão política fundamental do nosso tempo", afirmou o ex-ministro.

Por sua parte, García Linera argumenta que enfrentamos "o risco de um retorno pervertido do Estado na forma de keynesianismos invertidos e um totalitarismo de big-data como a mais nova tecnologia para conter as "classes perigosas". Se o retorno do Estado é para usar dinheiro público, isto é, o dinheiro de todos, para sustentar as taxas de rentabilidade de alguns proprietários de grandes corporações, não estamos diante de um estado social protetor, mas patrimonializado por uma aristocracia empresarial, como aconteceu durante todo o período neoliberal que levou a este momento de colapso social”. O ideólogo do capitalismo andino afirma que governos latino-americanos progressistas "acusados ​​de populistas irresponsáveis ​​são agora a plataforma mínima para o debate público e um novo senso comum mundial".

Por seu lado, Amorim pede "uma maior unidade com os partidos de esquerda e o início de um diálogo com outras forças mais do centro que precisam de um espaço mais forte", isto é, com a ala moderada dos líderes do golpe, para parar Jair Bolsonaro.

No conjunto, a ala política da Internacional Progressista encoraja a ideia de que o estado capitalista é uma entidade em disputa contra o perigo de um neoliberalismo ainda mais selvagem e de um nacionalismo xenófobo.

Trata-se de resgatar as instituições democráticas de domínio da burguesia do perigo autoritário para reestruturar as dívidas e avançar em uma renda básica universal.
Na melhor das hipóteses, em suas leituras, eles tentam impor com as boas maneiras da democracia burguesa um limite aos desejos neoliberais e outro modelo de distribuição de renda sob o comando capitalista. Parece que Varoufakis não aprendeu nada com a experiência grega e o desprezo capitalista pelas maiorias populares quando atacam seus interesses. Nem García Linera, nem o golpe militar que o derrubou após a burguesia e o imperialismo consideraram a experiência do MAS esgotada.

Enquanto Amorim planeja recuperar o Estado junto com os líderes do golpe para "reformá-lo”, o problema é precisamente o Estado, que é o instrumento de domínio do capital e que faz qualquer tentativa de reforma por coerção econômica ou ameaça militar. Ele só viabiliza a reforma quando vê seu domínio ameaçado pela falência geral ou pelo medo da revolução social.

Pós-capitalismo ou revolução

"Diferentemente das internacionais anteriores, a IP não se limita a um tipo de organização ou tipo de luta", declara a chamada centro-esquerdista. A característica das internacionais revolucionárias anteriores e do movimento de forças que reivindicamos, a Quarta Internacional, é a luta pelo poder político da classe trabalhadora através da revolução social. Nosso programa é a abolição da propriedade privada e do trabalho assalariado para acabar com a irracionalidade capitalista e planejar recursos para que todos os membros da sociedade possam satisfazer suas necessidades, sem serem explorados ou oprimidos por uma classe privilegiada.

Como vemos, a IP se pronuncia contra a luta política revolucionária, razão pela qual esclarece que "pretende desenvolver uma visão política pragmática para transformar nossas instituições". Em sua declaração, o objetivo declarado é "ser uma instituição duradoura que possa unir forças progressistas e apoiá-las na construção do poder em todos os lugares", isto é, ser uma plataforma de apoio para que políticos progressistas e de centro-esquerda ganhem poder. Em suma, a IP pretende substituir a desacreditada Internacional Socialista. O pós-capitalismo, por outro lado, é o slogan de uma Internacional que não é vista como um agente do neoliberalismo, muito menos da revolução, e cuja proposta se reduz à reforma do capital.

A classe trabalhadora e os povos oprimidos, mulheres, pessoas LGBTI, migrantes, camponeses sem terra, precisam mais do que nunca de uma ferramenta política revolucionária internacional para liderar sua luta até a derrubada do capital. Reconstruir um internacionalismo pela revolução dos trabalhadores e socialismo. A atual crise capitalista mostra a urgência dessa perspectiva.

Tradução para o Esquerda Diário: Débora Fontoura




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