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DEBATES | Impulsos políticos e ensaios táticos de uma nova vanguarda estudantil na França

O surgimento do movimento Nuit Debout da juventude francesa junto com a entrada em cena se setores chave do movimento operário, marcaram o retorno a ação direta na França.

quinta-feira 11 de agosto de 2016 | Edição do dia

Versão traduzida do artigo original em francês de Guillaume Loïc: “Jeunesse et loi Travail. Elans politiques et tâtonnements tactiques d’une nouvelle avant-garde étudiante”

O surgimento do movimento Nuit Debout na junto com entrada em sena de setores chave do movimento operário, marcaram o retorno da ação direta na França, através de lutas contra a "Lei de Trabalho". Desenvolvemos um debate sobre as estratégias em conflito.

Desde março se vive na França uma enorme luta contra "A Lei o Khomri" (lei que adotou o adotou o nome da Ministra do Trabalho) protagonizada pela juventude e amplos setores do movimento operário, o qual ainda não vimos o final. Essas são algumas conclusões que começaram a desenvolver os jovens da Corrente Comunista Revolucionária, integrante do NPA (Novo Partido Anticapitalista) francês.

Nuit Debout: Movimento reivindicatório ou fenômeno político?

Se o movimento operário esteve submetido, em geral, a sua condução sindical e burocrática, apesar de sua entrada ofensiva em cena, não foi o mesmo que aconteceu com a juventude e os estudantes. Junto com o surgimento do Nuit Debot depois de 31 de março, teve um tsunami que marcou o começo da mobilização. Três meses depois já eram milhares e milhares de trabalhadores e os jovens que acumularam uma enorme experiência de mobilização e enfrentamento nos postos de trabalho e de estudo através de suas ações, enfrentando a repressão e rompendo com as fronteiras que dividem e separam, em tempos de normalidade, os distintos setores da sociedade capitalista. Uma experiência que foi posta em discussão nos marcos da auto-organização do movimento e deu lugar a distintas interpretações por vezes convergentes, por outras, não.

Comitês de mobilização, Nuit Debout, ações: Uma nova vanguarda?

Uma coisa nos marcou logo do início, os militantes organizados, que haviam dado a "má sorte" de dar nossos primeiros passos na política em uma monótona fase de "Holandismo", e foi o caráter explosivo deste movimento contra a Lei Khomri. E ainda que as assembleias gerais e as manifestações não alcançaram a quantidade de jovens como na luta contra o CPE (Contrato de Primeiro Emprego), em 2006, foram igualmente importantes.

Em vários bairros de Paris, assim como em outras cidades, foram organizados piquetes, as vezes durante vários dias, iniciativa que permitia manter unido o movimento e romper com a disciplina das classe e do poder contínuo, uma condução central para que a mobilização se estendesse. Porém, não tomaram a magnitude dos grandes movimentos dos anos 2000. A energia transbordante que se expressa desde o início do movimento foi canalizada em boa parte pela "auto-organização"

Esta primavera manifestamos uma imaginário radical, um retorno a ação direta para saciar a passividade de 4 anos, do reacionário "diálogo social" do Partido Socialista. Surgiu uma vontade de retomar o espaço, de transgredir as fronteiras.

Os comitês de mobilização não foram mais que uma das tantas formas ativas que caracterizou o movimento. Rapidamente, conviveram com diferentes expressões do autonomismo, mas também com centenas de jovens que queriam manisfestar de uma maneira muito mais política e ofensiva.

As organizações estudantis, estão sobrecarregadas? É um pouco mais que isso...

A confrontação entre democracia estudantil das assembleias gerais e de sua coordenação, por um lado, e os chamados das organizações de estudantes, principalmente da UNEF (União dos Estudantes da França, a única de alcance nacional) por outro, foi o "clássico" de todas as mobilizações. Assim como o movimento contra a Lei Khomri explodiu profundamente logo no 31 de março, o fez também contra a burocracia da UNEF. No primeiro momento, a UNEF acompanhou o movimento para evitar ser ultrapassada, e talvez "inspirada" por alguns "abundantes" socialistas do parlamento que se opunham parcialmente a lei. A UNEF se viu de fora, não pela quantidade, se não pela determinação dos estudantes, opostos as organizações tradicionais e por uma ruptura profunda com o Partido Socialista.

Um anticapitalismo romântico

A primavera de 2016 viu o ressurgir da juventude da cena politica, fazendo saltar o "parafuso" das mediações que tentavam manter as manifestações como uma luta meramente corporativa. É de se destacar a volta as ruas do slogan como o "anticapitalismo", não só pela parte dos jovens mobilizados, mas também pelos operários, como os ferroviários. As discussões nas assembleias de Nuit Debout na praça da República, foram profundamente anti-sistema e, de conjunto, mais radicais, que o 15M do Estado Espanhol.

A politização radical que começou a se ver desde março, fruto da ruptura com o reformismo do PS, do descrédito da democracia burguesa, a raiva contra a exploração no trabalho e o fim das expectativa de ascensão social, deixa aberto a questão sobre os métodos necessários para vencer. O marxismo revolucionário deve retomar a discussão com suas propostas, mas antes de tudo está a urgência da discussão estratégica, que se impõem com o calor da chegada de um novo ascenso da luta de classes.

Aliança operário-estudantil

A unidade das lutas, a greve geral, eram inspirações que estavam desde o começo no coração dos estudantes mobilizados, junto com os ferroviários, os trabalhadores da saúde, os carteiros, os portuários de Havre que, em uma assembleia em Paris, decidiram por bloquear o porto cada vez que a polícia tocava um jovem mobilizado.

Mas o central da experiencia contra a lei trabalhista é a contradição brutal entre as aspirações das bases e o controle conservador das burocracias sindicais, que separaram o setor mais ativo da juventude mobilizada dos trabalhadores, em vez de uni-los.

Por sua vez, as correntes do autonomismo avançaram com uma crítica a democracia do próprio movimento, descrevendo-o como uma reprodução das formas parlamentares burguesas e propondo como forma de organização o simples agrupação de todos aqueles e aquelas que saem a lutar, inclusive os que estavam sobre a estrita influencia da burocracia sindical.

É assim que uma questão estratégica que deve ser avaliada por todos que reivindicam a derrocada por esse sistema: Como eliminar o obstáculo da burocracia sindical? Nosso debate com o autonomismo se situa em boa parte neste terreno, tanto quanto ideológico da auto-organização dos grevistas, setor por setor, e a coordenação em grande escala destas formas de apropriação democrática de todos aqueles sobre a que se estende, como o único método capaz de abrir a possibilidade de derrotar a dominação burguesa.

"Todo mundo odeia a policia"

A onipresença do Estado e seu arsenal repressivo seguido aos ataques a Revista Charlie Hebdo em janeiro de 2015, é outro dado importante nesses messes. Cada marcha tinha um novo dispositivo repressivo, chegando inclusive a tentativas de proibir diretamente as mobilizações. As imagens das repressões foram das mais compartilhadas nas redes sociais. Um nível repressivo e violento que não pode ser compreendido fora da "guerra contra o terrorismo", e a permanência do estado de exceção e a vigilância generalizada. Esta situação fomenta uma discussão profunda que permite das resposta radicais e ofensivas a esta encenação do Estado.

Concordando com o ódio ao Estado opressivo (esse Estado que vigia, golpeia, detém, coloniza) nossa diferença com o autonomismo vem dessa maneira individualista de localizar o problema da emancipação, que não permite ver até o fim as raízes e o papel deste Estado burguês, sua relação com a exploração capitalista e o caráter de classe da luta pela sua destruição.

Tomar seriamente a questão da insurreição, no nível político e militar, e partindo de uma analise de forças do adversário, é um projeto que transcende o plano simbólico e pacifista ou o legalismo reacionário.

Os trotskistas devem tomar a ofensiva em um país onde a tradição revolucionária republicana se utiliza desde muitos séculos e que plantou no movimento operário uma "confusão" sobre a natureza do Estado burguês e de sua polícia.

Existe algo imponente para os jovens que levantaram no Nuit Debout, que é a entrada em cena, com uma potência que foi sublinhada pelos editorais dos grandes meios, de setores chave da classe operária, em uma segunda fase do movimento. Assistimos operários e a juventude, com um nível enorme de radicalidade, inconformados pelo ódio que se gestou durante quatro anos de reação do partido "socialista" e do "diálogo social".

Um partido revolucionário

O balanço desta etapa, desde o ponto de vista daqueles e aquelas que desejam preparar os próximos combates, deve dotar-se de um plano de batalha e de uma organização, de um partido revolucionário, que segue estando ausente na cena da vanguarda atual. É uma questão chave para os revolucionários e é uma das debilidades preexistentes ao movimento, isto é, a ausência de uma alternativa frente à direção dos sindicatos e de sua política de conciliação, a todo custo, com os exploradores.

O marxismo revolucionário pode ser uma ferramenta em uma verdadeira ofensiva, frente às lutas mais duras que se anunciam, discutindo com um espírito de época impregnado profundamente pelas derrotas do século XX e da ideia reacionária de que estas derrotas haviam condenado toda possibilidade para os explorados e os oprimidos de construir uma consciência coletiva e estratégica.

Se há uma coisa que demonstrou esta luta é que o ceticismo instalado em grande escala através do neoliberal "there is no alternative" [não há alternativa] é ignorado e resulta, simplesmente, como antiquado.




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