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PARALISAÇÃO NA ARGENTINA | Horizontes e limites de uma nova paralisação expressiva

quinta-feira 11 de junho de 2015 | 08:30

Assim como na paralisação do 31M, a paralisação de 9 de junho teve sua origem no chamado da Confedereção do Transporte com a paralisação de todos os seus sindicatos. A confedereção, que lidera o mundo sindical opositor na argentina, pela sua capacidade de paralisar o país, havia pedido que as cinco centrais sindicais se somassem. O acordo da CGT opositora, da CGT Azul e Branca e da CTA Autônoma transformaram a medida em uma greve nacional.

Como cobriu o Izquierda Diario - Argentina, a paralisação foi contundente em todo o país. Bastava sair na rua na cidade de Buenos Aires para ver algo parecido com um domingo ou um feriado. A forte paralisação do transporte e os piquetes da esquerda e dos setores combativos foram chave para que se repetissem cenas similares, ainda que com desigualdades, em todo o país. O transporte público foi a principal atividade afetada, não funcionaram os trens, os aviões, os ônibus e o metrô. Também não funcionaram as estações de serviço, os pedágios e os caminhoneiros paralisaram o transporte de carga, o recebimento bancário, a coleta de lixo, o transporte de bebidas, lácteos, logística e combustíveis.

A greve também foi sentida no setor da Saúde (sobretudo nos estados) onde tem peso a ATE, e nos setores da administração estadual e nacional. Entre os professores a greve voltou a ser forte em cidades como Rosário, La Plata e Entre Ríos, com um destacado número da SUTEBA opositora. Em vários estados houve piquetes para garantir que os trabalhadores dos sindicatos oficiais ou os precarizados sem direito a sindicalização pudessem se somar à greve. Os cortes de rua mais fortes estiveram nos acessos norte e sul da cidade de Buenos Aires. Ao numeroso piquete do kilômetro 23,5 da Panamericana [principal rodovia argentina] e outro corte na altura da estrada 202, somou-se o da Ponte Pueyrredón. Também houve cortes em cidades como Córdoba, Mendoza, Rosario, Neuquén, La Plata, Bahia Blanca, San Salvador de Jujuy, San Miguel de Tucumán e Paraná.

Ao avaliar a greve, Hugo Moyano assinalou que havia tido uma “adesão muito importante” e que mostrou o “desacordo” dos trabalhadores “com as políticas do governo nacional”. Apesar do seu alcance, a quinta paralisação nacional sob o governo Cristina Kirchner foi um pouco menor se comparada com o 31M. Nesta oportunidade pararam mais setores da indústria. A UOM de António Caló tinha deixado acontecer a greve. Também tinham convocado o Sindicato da Alimentação (STIA) e os bancários.

No entanto, apesar das limitações, muitos trabalhadores aproveitaram a greve para não ir trabalhar. Vários leitores afirmaram ao La Izquierda Diario - Argentina que em lugares onde as direções sindicais não aderiram havia apenas 15 ou 20% de alguns turnos, impedindo começar as linhas de produção. Assim aconteceu em fábricas da zona oeste e zona norte de Buenos Aires.
Fábricas da alimetação como Kraft e Pepsico, aonde tem peso a oposição a Daer, estiveram paralisadas. Na FATE houve paralisação apesar da direção ligada à CTA oficialista ter chamado contra. Na Volkswagen 50% estiveram ausentes e a empresa não trabalhou por falta de materiais. Na Lear também houve 50% de absenteísmo e a Ford deu folga no dia.

As “bandeiras” da direção burocrártica

A greve aconteceu com força apesar da preparação nula dos convocantes. A media se confirmou quando vários sindicatos já tinham assinado as paritárias com o teto “oficial” e depois que sindicatos chave (do ponto de vista da combatividade) como metalúrgicos e bancários leventaram suas medidas de força depois de forçar, com grandes lutas com o governo e os patrões, a assinar um reajuste muito acima dos 27%.

A burocracia sindical não impulsionou assembleias para que se pudesse decidir parar e a UTA enganou até o último momento que iria parar. Também deram as costas aos piquetes. A contundência da greve foi mérito dos trabalhadores que sabem que têm motivos para parar e assim o fizeram. Participando da greve ou ausentando-se do trabalho. A inflação não diminui, os cortes salariais, os aposentados que ganham em sua maioria recebem apenas $3.800, a enorme porcentagem de trabalhadores informais ou precarizados, mais o imposto que afeta os setores mais altos do proletariado formal, foram razões mais do que suficientes para aderir.

Com exceção do imposto ao salário e os tetos salariais, o drama dos trabalhadores informais e precarizados só foi lembrado pela CGT opositora na coletiva de imprensa de balanço da paralisação. Já é um clássico de Moyano utilizar os trabalhadores precários quando quer dar um golpe de efeito. Outra vez citou o Ministro do Trabalho, pela grande quantidade de contratados no seu ministério.

As CGT convocantes tampouco buscaram apoiar os trabalhadores em conflito, que sofrem demissões na WorldColor, Cresta Roja ou Coca Cola FEMSA. Para os dirigentes trata-se de mostrar força buscando se posicionar para a sucessão de Cristina Kirchner. Desde o 31M preparam o caminho aos políticos patronais. A última de Moyano foi ontem (9) mesmo, quando mostrou seu apreço pelo neoliberal Mauricio Macri dizendo que há setores “já estão trabalhando” para conseguir uma “convivência política e social com um eventual governo de Macri” e considerou necessário “deixar para trás os conflitos”.

Luis Barrionuevo também deu declaração, onde vergonhosamente criticou a falta de “diálogo” do governo comparando-o com “a época dos militares, onde fazíamos paralisação, greves, lutas...se conversava, se negociava”.

As bandeiras do sindicalismo combativo e da esquerda

As organizações de esquerda e o sindicalismo combativo levantaram sua voz nos piquetes pelo conjunto das reivindicações operárias. Por isso os cortes tiveram enorme repercussão. Como o da Panamericana, encabeçado pelos trabalhadores da World Color, da ex-Donneley, Lear, Kraft, Pepsico, Cadbury (Kraft Victoria), Printpack, Siderca, outras fábricas da zona norte e os aeronáuticos da capital em conflito salarial. Também esteve ali o PTS.
Rubén Matu, delegado da Lear, diferente dos burocratas que querem canalizar a insatisfação operária pela via dos canditados do ajuste como Scioli, Macri ou Massa, é parte dos candidatos operários que propõem a partir do PTS e da Frente de Esquerda, para que os trabalhadores tenham uma expressão política
independente dos capitalistas”. Matu também declarou no piquete que ali estavam “os trabalhadores das principais lutas em curso” e terminou dizendo que esse corte de rua foi “para levantar uma voz independente das direções burocráticas que convocam esssa greve. Para lutar contra o imposto ao salário mas também contra os tetos salariais, a precarização do trabalho e pelos direitos das mulheres”.

Também esteve no corte o deputado nacional e pré-canditado presidencial pelo PTS na FIT, Nicolás del Caño. O chefe de gabinete da presidência, pela manhã, havia apelado a uma frase que costuma utilizar para referir-se ironicamente aos piquetes dos trabalhadores que são acompanhados pela esquerda: “o essencial é invisível aos trotskistas”. Del Canõ respondeu que “Se vê que Aníbal Fernández não quer ver os problemas que sofrem os 280 trabalahadores da fábrica Worldcolor que lutam contra a tentativa de fechamento da patronal. Ou dos trabalhadores da ex-Donnelley que exigem a expropriação da fábrica para manter os postos de trabalho.

Os operários e delegados da Lear que enfrentam as gangues sindicais ligadas ao governo (SMATA). Nem aos trabalhadores da Kraft e PEPSICO que estão na luta para romper o teto salarial, ou os operários da FATE que sofrem suspensões. Todos esses trabalhadores são muito visíveis, ainda que o governo queira ocultá-los”. “Estivemos na Panamericana os acompanhando como em cada luta, já que também muitos deles são invisíveis para as direções que convocam a paralisação”.




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