Ontem, dia 18 de julho, um homem avançou com carro contra manifestantes do MST e matou seu Luís, em Valinhos. Prestamos aqui nossa homenagem, com um poema.
sábado 20 de julho de 2019 | Edição do dia
Imagem MST
Que chorem as mortes calados?
Em algum país africano
que não me recordo nome
pois não se fala de nomes
quando se fala de África,
morreu uma vendedora de peixes,
ela também sem nome,
nem mesmo o primeiro nome,
morreu de ebola.
As autoridades orientam que a população evite tocar nos cadáveres
E cantar
E dançar
Em volta dos mortos
Como é de costume na região.
Que chorem as mortes calados.
No Brasil, em São Paulo
Seu Luís, eu sei o teu nome,
Eu queria saber da tua história
Da tua luta,
Das sementes que o senhor distribuía na manifestação,
Do aluno assíduo
Que aos 72 anos
Aprendia a ler.
A tua morte me doeu.
As autoridades
estão apurando o caso
De seu Luís
Da Marielle
Do mestre Moa...
Mas a balança da justiça
Nunca pesa o que devia.
É por isso que eu não quero chorar em silêncio
Eu quero a sua morte cantada
E eu quero em canto de guerra.