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Heroísmo fajuto de Bolsonaro só prova seu descaso e ignorância frente ao coronavírus

Durante entrevista concedida pelo governo federal, Bolsonaro adotou a postura do “herói renegado” da nação, numa tentativa de responder às críticas que veio recebendo de praticamente todo espectro político, até dos conservadores e liberais que apoiam fielmente seu programa de ataque à população trabalhadora. Disse que até entraria no metrô de São Paulo” para estar com “o povo”. Nada mais falso.

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

quarta-feira 18 de março de 2020 | Edição do dia

A imagem e semelhança de seu grande mestre, Donald Trump, a quem ele se dá o objetivo de ser uma cópia mal feita ainda mais reacionária, o ex-capitão esteve nos últimos dias fazendo uma campanha aberta de negacionismo da crise pandêmica que o Brasil e todo o mundo enfrenta. A “fantasia”, porém, atingiu os ministérios e agora até seu fiel escudeiro, Augusto Heleno, está infectado.

Assim como Trump fez antes, Bolsonaro decidiu hoje mudar o tom. Mas jamais reconheceria as críticas dos seus arqui inimigos “comunistas” da Folha de São Paulo ou Globo sobre sua convocação e presença nos atos da direita - esta sim, histérica - no último domingo (15). Saindo de uma “fantasia” já recorreu a outra: o herói incompreendido do povo.

As fantasias de Bolsonaro ainda persistem e vão além das suas teorias conspiratórias sobre os interesses da China com a crise. A figura de máximo poder do país disse para nos acostumarmos em ver ele se colocando em situações “de perigo” diante do “inimigo invisível”, como um soldado honrado, em defesa do e com o povo. O discurso recorrendo à analogias militares foi usado também pelos seus ministros militares.

Um herói falso e decadente que quer fazer com que o povo trabalhador e pobre pague pela pandemia

No que pareceu um intento de auto moralização de si mesmo e de suas tropas reacionárias, o ex-capitão tentou usar sua própria imagem como a de um messias que salvará o povo. Essa sim, é uma fantasia completa se comparada com a realidade de descaso com que o governo dos capitalistas vêm “gerindo” a pandemia. O “inimigo invisível” é bem nítido aos olhos e procura defender os empresários e bancos; os seus lucros acima de tudo, passar a crise nas costas da classe trabalhadora, acima de todos.

O governo se nega em garantir o acesso massivo e gratuito de testes contra o coronavírus, sendo que 80% dos contágios são feitos por pessoas que não apresentam sintomas logo de cara. Foram direcionados ao SUS menos verbas para enfrentar esta pandemia do que os cortes de mais de R$ 9 bilhões, só em 2019 graças ao Teto de Gastos, que se mantém intacto e protegido para manter o pagamento da dívida pública em dia, o que políticos capitalistas gostam de chamar de “equilíbrio fiscal”.

Por um lado, Paulo Guedes propõe aos trabalhadores informais medidas nada equilibradas. O ministro oferece um encardida ‘ajuda’ de 200 reais por mês aos mais de 41 milhões em todo o país, que serão um dos setores mais atingidos pelo alto desemprego. Não só insuficiente, como uma afronta àqueles que dependem do trabalho para sobreviver e estão jogados sem direitos na informalidade. O ex-banqueiro também estuda a possibilidade de autorizar empresas a suspenderem os contratos de funcionários por 60 dias, deixando milhões de famílias no desemprego, sem garantia qualquer de retornar aos seus postos de trabalho. Para as classes dominantes a abordagem é outra.

Por outro lado, aos empresários e bancos, não faltam medidas enérgicas de Paulo Guedes e do governo federal no auxílio e proteção dos lucros diante da crise, como bem apontamos neste artigo. As primeiras medidas anunciadas por Guedes tinham a promessa de liberação de R$ 147,3 bi para injetar na economia, leia-se bolso de banqueiros e empresários. Ao povo pobre e trabalhador basta a orientação para lavar as mãos evitar aglomerações e não se desesperar para que, logo em seguida, tenha que enfrentar um transporte público precarizado e abarrotado e patrões que mais se preocupam em salvar seus lucros do que a saúde dos trabalhadores.

Combater o coronavírus e o capitalismo

São os milhares de trabalhadores da saúde que, nos hospitais e postos de saúde, estão se arriscando para salvar a vida da população, estes sim, podemos destacar o heroísmo que terão de ter diante da crise, são os milhões de trabalhadores que, mesmo com medo e preocupados, enfrentam o transporte cheio e locais de trabalho insalubres. São eles que deveriam estar organizando o combate contra o Covid-19, através da centralização do sistema de saúde, com o SUS 100% estatal sob controle dos trabalhadores e da população

Se há alguém que pode ser o sujeito destacado frente a essa crise sanitária não é o presidente que chama sua filha de “fraquejada” e sim o exército de trabalhadoras da limpeza, em sua maioria terceirizadas e negras, que no momento arriscam suas vidas para garantir os seus salários e manter a cidade limpa, o mesmo vale para os garis e coletores de lixo.

É em nome dessa classe que produz toda a riqueza do mundo que precisamos de um plano de emergência, como expressamos neste editorial. Para que seja garantido o mínimo como álcool em gel e máscaras, mas principalmente testes massivos para toda população em risco; a contratação imediata de profissionais da saúde que estejam desempregados e a abertura urgente de milhares de novos leitos, especialmente de UTI e com respiradores, para atender a demanda; e uma série de outras medidas como a garantia de 100% do salário e direitos mesmo com afastamentos. É fundamental que os sindicatos e suas centrais sindicais organizem os trabalhadores não apenas para exigir as medidas de liberação ou contingenciamento nos locais de trabalho, mas para levantar um programa concreto de emergência frente à crise.

Se queremos falar de alguma glória aos heróis, que façamos justiça a classe trabalhadora que tudo produz. Lutemos por justiça aos doentes e as mortes que já ocorreram e vão ocorrer por conta da ganância capitalista, o verdadeiro inimigo, que nada tem de invisível.




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