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EDUCAÇÃO - ELEIÇÕES | Haddad, amigo dos monopólios do ensino privado

Danilo ParisEditor de política nacional e professor de Sociologia

segunda-feira 1º de outubro de 2018 | Edição do dia

Diante da polarização eleitoral, e com uma figura grotesca da extrema direita no páreo, a ascensão de Haddad nas pesquisas eleitorais tem gerado certa expectativa que um eventual futuro governo do PT poderia melhorar a vida da população. Outros defendem o voto em Haddad como um “mal menor”, diante do “mal maior”, representado pelo candidatura de Bolsonaro. Porém quando o assunto é educação, essa lógica não é tão simples quanto parece.

Com o lema “O Brasil Feliz de Novo”, Haddad elegeu o tema da educação para cativar esse eleitorado e apresentar seu projeto. Não são poucas as entrevistas e sabatinas que o candidato diz que foi por sete anos o ministro da educação de Lula.

No entanto, na sombra de Haddad mora um inimigo da educação pública muito pouco conhecido pelo seu eleitorado. Pelo medo da extrema direita, muitos são empurrados para o projeto de educação que está mudando estruturalmente a educação brasileira em benefício dos grandes monopólios privados do ensino. Haddad é um dos seus articuladores.

No livro “Todos Pela Educação? - Como os empresários estão determinando a política educacional brasileira”, Erika Moreira Martins apresenta uma interessante análise sobre como cresceu e prosperou um movimento de forte aspiração empresarial cujo objetivo é influenciar políticas educacionais privatizantes e neoliberais. O Movimento Todos pela Educação tem como alvo promover uma agenda específica dos grandes capitalistas para a educação.

Sob a máscara da “responsabilidade social empresarial”, grupos como o "Movimento Todos pela Educação" têm sido parte fundamental para promover alterações estruturais na educação de países de todo o mundo. No Brasil são entusiastas da Reforma do Ensino Médio e da Base Nacional Comum Curricular, por exemplo.

Entre seus fundadores encontramos as Organizações Globo, o Itaú/Unibanco, o Bradesco, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Grupo Votorantim, a Odebrecht, a Telefônica e a FIESP, só para ficarmos entre os mais notáveis. Somam-se a essas poderosas instituições empresariais, intelectuais e personalidades políticas, entre eles o próprio Fernando Haddad.

Não foi casualidade que o nome que o governo Lula e então ministro da educação, Fernando Haddad, escolheram para o principal conjunto de políticas educacionais fosse justamente “Compromisso Todos pela Educação”.

Esse compromisso não se restringiu ao nome, já que, de fato, eles formularam suas políticas educacionais junto com o empresariado. Assim, também não foi por acaso que com suas políticas para a educação se produziu a conformação do maior monopólio de ensino privado do mundo, Kroton-Anhanguera e a expansão do ensino privado em todos níveis e modalidades da educação. Programas como o Fies e o Prouni subsidiaram, através do dinheiro público a criação desses gigantes do ensino superior, que agora querem avançar para o ensino básico. A própria Kroton reconhece que metade de suas matrículas presenciais, devem-se ao Fies e que ela cobra mais dos alunos com Fies do que dos que pagam diretamente suas mensalidades.

Com o veto do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) em relação à fusão da Kroton com a Estácio, em uma operação que superava a cifra dos R$ 5 bilhões, e, posteriormente, com a Reforma do Ensino Médio, aprovada após o golpe institucional, a Kroton passou a mirar sua sanha monopolista para a educação básica.

Com a relativa saturação do mercado no ensino superior, a Kroton adquiriu grandes redes privadas do ensino básico, como a aquisição da Somos Educação por 4,6 bilhões de reais (com cerca de 35 mil alunos próprios e marcas fortes como o colégio Anglo), e recentemente com o grupo Centro Educacional Lato Sensu, que agregou mais 3,5 mil alunos.

A gigante Kroton, filha legítima do governo Lula e do ministro Haddad, está com toda a sua artilharia voltada ao ensino básico. Assim, a Reforma do Ensino Médio e a BNCC, cujos resultados serão milhares de professores desempregados, aumento da privatização e diminuição do conteúdo escolar, só podem ser entendidos nesse contexto.

Elas são políticas que tem como objetivo justamente abrir mais espaço para que os interesses desses grandes monopólios possam se realizar. Quando plenamente implementadas, essas reformas irão abrir uma avenida para que essas empresas atuem também na educação básica pública. Segundo dados do IBGE a rede pública concentra 73,5% dos estudantes da rede básica, o que se tornará um novo oceano para ser explorado por esses grandes monopólios.

Além do executivo e do legislativo, o Conselho Nacional de Educação (CNE) também é um ator fundamental para a implementação dessas políticas. A análise de sua composição mostra a ação desses monopólios do ensino diretamente nas políticas de Estado. Entre seus membros podemos encontrar, por exemplo, Antonio Carbonari Netto, fundador e presidente da Anhanguera Educacional S.A. (grupo que integra a Kroton) e Arthur Roquete de Macedo, da Laureate International Universities (monopólio do ensino que têm suas ações negociadas na bolsa de valores dos EUA), além de todo um setor de representantes da educação privada. Vemos, então, os grandes monopólios do ensino tomando cadeira nos conselhos estatais para influenciar e definir diretamente as políticas públicas para a educação.

Visto desse ângulo, a tese de que o PT seria um “mal menor” para educação na verdade mostra o seu inverso. Essa política petista, defendida, sustentada e aplicada por Haddad nos seus anos como ministro da educação gestaram e fortaleceram os monopólios do ensino privado: o “mal maior” para educação.

O sujeito econômico promovido pelo PT agora é um poderoso sujeito político que ataca promovendo diretamente as contrarreformas na educação pública. O novo pacto com os golpistas que pretende Haddad para seu eventual futuro governo, ecoa entre esses grandes monopólios do ensino que há tempos contam com o candidato do PT como um homem de confiança para seus interesses.

É certo que Bolsonaro e a extrema direta precisam ser combatidos e derrotados, mas isso não poderá ser feito fortalecendo os interesses do grande capital, como fez e seguirá fazendo Haddad e o PT.

Foto: Ricardo Stuckert




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