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14J | Guarnieri: "A greve geral não é ’em casa’, como diz a CUT: temos de ser milhões nas ruas das principais cidades do país"

Entrevistamos Felipe Guarnieri, operador de trem do Metrô de SP e diretor da Federação Nacional Metroferroviária (FENAMETRO), que falou sobre a luta contra a reforma da previdência e os cortes na educação, sobre das mobilizações em curso no país e a greve geral marcada para o próximo dia 14 de junho.

quinta-feira 6 de junho de 2019 | Edição do dia

Entrevistamos Felipe Guarnieri, operador de trem do Metrô de SP e diretor da Federação Nacional Metroferroviária (FENAMETRO), que falou sobre a luta contra a reforma da previdência e os cortes na educação, sobre das mobilizações em curso no país e a greve geral marcada para o próximo dia 14 de junho.

ED: Como você está vendo estas grandes manifestações contra os cortes na educação e a reforma da previdência, assim como a greve geral para o dia 14 de julho?

Guarnieri: As mobilizações do 15M e 30M que levaram mais de 1 milhão de jovens e estudantes para as ruas de todo país, contra os cortes à educação, mostraram a grande insatisfação com os planos de ajustes do governo, e a enorme disposição de sair à luta e a importância da unidade entre juventude e trabalhadores no país. Bolsonaro tentou responder de duas formas, com "contra atos" em apoio à Reforma da Previdência no dia 26M, e apoiando-se nisso, pela via de um pacto entre os 3 Poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário para alavancar a nefasta reforma da previdência, atacar os direitos dos trabalhadores e os sindicatos. A 8 dias de uma greve geral marcada pelas centrais sindicais, Paulinho da Força, Noventa (UGT) Orlando Silva (PCdoB), com aval da CUT, seguem negociando com Maia e o Centrão a reforma da previdência e apostando suas fichas neste congresso corrupto e mercenário. Não é diferente dos partidos que dirigem estas centrais: a UGT é dirigida pelo PSC, aliado de Bolsonaro; Paulinho já disse no 1º de Maio que o objetivo é "desidratar" a reforma, mas que não haveria força para derrubá-la; os governadores do PT, que dirige a CUT, estão defendendo sua própria versão da reforma da previdência, diferente da de Bolsonaro mas que resultará igualmente no ataque a milhões de trabalhadores (agora querem que a reforma do governo valha para os estados, assinando carta comum com vários partidos da direita golpista). Isso para não mencionar deputadas como Tábata Amaral, do PDT de Ciro Gomes, que faz emendas para alterar a reforma da previdência do governo, mas que considera fundamental aprovar. Não podemos confiar nosso futuro a quem já está preparando a derrota. As grandes organizações de massas, estudantis e sindicais, sabem que a insatisfação da população com Bolsonaro não nasceu hoje, mas buscam controlá-la pois ela pode sair do controle do que esta própria burocracia estudantil e sindical deseja, atropelando sua estratégia de negociação com o Congresso.

Essas direções devem romper as negociações que estabeleceram com o governo pela aprovação de um tipo diferente, "desidratado", da reforma da previdência, que de todo modo busca destruir as aposentadorias de milhões. Devem, sim, convocar milhares de assembleias de base e uma jornada de manifestação nacional ativa, nas ruas, para derrubar a reforma

ED: Em que sentido você avalia que podem controlar a greve geral?

Guarnieri: Um exemplo categórico de controle foi dado essa semana na plenária das centrais sindicais que ocorreu em SP para discutir a greve geral, onde o representante da CUT, a maior central sindical do país, nesta reunião defendeu que no dia da greve geral "a população deveria ficar em casa". Parece brincadeira, mas não é: seria como defender que o melhor método para remover um obstáculo da que nos ameaça fosse deitar na frente dele. A politica das centrais sindicais é uma greve controlada sem ação, sem gente protestando nas ruas, é greve "de pijama", o que mostra que não querem colocar o trabalhador como um sujeito ativo. Fazer pressão sob o governo somente, pura e simplesmente, não irá derrotá-lo. É necessário um plano de luta que fortaleça cada dia mais a mobilização, e também muita gente nas ruas no dia 14 de junho. Ninguém deveria ficar em casa num dia de luta tão importante quanto este de greve geral, e sim deveria ser organizado manifestações massivas nas ruas nas principais cidades do país, com milhões de jovens e trabalhadores unificados dizendo claramente que não querem trabalhar até morrer, que o direito a aposentadoria tem que ser garantido, que não vamos aceitar nenhum corte na educação que já está sucateada no país, que é necessário mais investimento para a educação, e não menos, dizer que nossas vidas valem mais que o lucro dos capitalistas!

ED: Como você acha que este desvio poderia ser evitado?

Guarnieri: Não existe plano de luta construído pelas centrais para escalonar a luta e derrotar o governo definitivamente, ainda mais com as pouquíssimas assembleias que estão sendo construídas nas bases das categorias em todo país. Milhares de assembleias de base, em que os trabalhadores discutam como colocar milhões nas ruas nas principais cidade de todo o país, é uma questão chave para colocarmos o governo contra a parede. As direções das grandes centrais sindicais (PT, PCdoB, etc) optam por realizar assembleias em poucas categorias, as mais "centrais" como transporte, e a ampla maioria não tem assembleia para que os trabalhadores possam decidir democraticamente como melhor construir a paralisação. Não aceitamos essas negociações entre as centrais e os principais articuladores da reforma da previdência: romper imediatamente as negociações com Maia, e dedicar energias em convocar milhares de assembléias de base organizando milhões de trabalhadores para preparar a greve geral do dia 14.

ED: Como vê o papel da juventude hoje neste processo?

Guarnieri: Neste grande processo de mobilização que o Brasil atravessa a juventude mostrou que é a vanguarda da luta contra os ajustes de Bolsonaro. É este setor hoje que está sofrendo mais profundamente os cortes: na faixa entre 18 e 24 anos, o desemprego chega aos 30%, a precarização do trabalho, a alta rotatividade, a perda sem precedentes de direitos trabalhistas só aumentam. Não é só cortes na educação que querem, não é só retirar nossa aposentadoria, querem tornar o Brasil numa colônia novamente para seguir pagando religiosamente a fraudulenta dívida pública. Querem fazer com que a juventude, assim como os trabalhadores, paguem por uma crise que não criaram. A unidade entre eles, trabalhadores e juventude, é explosiva e fundamental para derrotarmos o governo. A juventude hoje pode potencializar muito a luta dos trabalhadores, por isso é fundamental a unificação das pautas de todos os setores para derrubar com um só punho os plano de ajuste de Bolsonaro.

Com a força da juventude nas ruas junto conosco, podemos ir além, e batalhar pelo não pagamento da fraudulenta dívida pública, que sequestra o orçamento nacional anualmente em favor dos lucros de especuladores financeiros bilionários; e atacar o desemprego de massas exigindo a redução da jornada de trabalho sem redução salarial, distribuindo as horas de trabalho entre todos aqueles disponíveis para trabalhar. Somente assim podemos avançar para que os capitalistas paguem pela crise.




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