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CINEMA | Greve dos metroviários é retratada em documentário na 39ª Mostra Internacional de Cinema

O filme "Futuro Junho" da diretora Maria Augusta Ramos se baseia no cotidiano de 4 paulistanos no mês que antecedeu a Copa do Mundo no Brasil, em 2014.

quinta-feira 5 de novembro de 2015 | 02:02

O filme acompanha a vida privada e pública de 4 trabalhadores e a partir da exposição de suas vidas coloca a realidade daqueles que viviam a beira do evento mais lucrativo do mundo para os grandes capitalistas. Em meio à uma batalha da qual os metroviários travavam contra o sucateamento dos transportes públicos, a greve enfrentava não apenas o Governo do Estado, mas também os grandes empresários que viam na Copa um grande balcão de negócios. O documentário, que não contém entrevistas ou comentários, mostra a influência direta e indireta que o torneio organizado pela Fifa exerceu no cotidiano de cada trabalhador acompanhado pela diretora:

Alex Fernandes, que participou da greve dos metroviários, enfrenta o aparelho repressivo da polícia e também o governador Geraldo Alckmin em meio a uma greve que poderia ter se confrontado com o primeiro jogo da Copa, na qual o Brasil jogaria contra Croácia. A luta por melhor transporte na cidade de São Paulo era acompanhada pelos olhos do mundo inteiro, e quanto mais chegava próximo a abertura da Copa, maior era o enfrentamento da greve e aumentava mais a preocupação dos governos com os metroviários. Cenas que muitos não viram, o filme mostra a votação dos desembargadores que tornariam a greve como ilegal, a repressão da polícia e os momentos finais da greve. O trabalhador, que no filme está prestes a ser pai, perde o emprego com uma covarde demissão, junto a outros 41 metroviários.

O motoboy Alex Cientista que mora em Guaianazes, tem o sonho de terminar de construir sua casa enquanto seu filho passa por um problema de saúde. Usuários do SUS, a família é informada sobre a falta de atendimento profissional para seu filho doente. O filme, que questiona o destino das fortunas brasileiras para garantir a Copa, apresenta as inúmeras manifestações da juventude que foi às ruas por melhor saúde pública, educação e transporte, e coloca a contradição da realização do campeonato no "país do futebol", mas também no país em que milhares de pessoas seguem morrendo por falta de atendimento nos hospitais públicos.

Anderson dos Anjos, que trabalha na Volkswagen montando portas de automóveis, começa a sentir os efeitos da crise econômica com na fábrica em que trabalha com possíveis férias coletivas e demissões da qual o sindicato, dirigido pela CUT, busca uma saída negociada com a patronal e com a preocupação central de não enfrentamento com os operários.

Enquanto os 3 trabalhadores seguem em meio a esta conturbada realidade, o mercado financeiro se apresentava instável e o quarto personagem, o economista André Perfeito, é acompanhado pela dramaticidade da compra e venda de ações na bolsa de valores. O nome do documentário "Futuro Junho" se remete a expressão dada pelos corretores da bolsa, que negociam contratos para os meses posteriores. O economista que então faz parte do jogo do mercado internacional, é o único dos personagens relatados com uma condição mais burguesa, diferente dos demais, pode então usufruir dos prazeres da Fifa.

No "país do futebol" o filme de Maria Augusta Ramos relata a realidade turbulenta com uma bela fotografia dos trabalhadores e da juventude que questionam a situação de miséria do país enquanto os grandes empresários e governos lucram rios de dinheiro. Em meio manifestações, lutas, repressão policial, demissões e análises sobre o cenário econômico, o filme mostra as relações sociais e escancara os problemas estruturais brasileiros.

trailer: https://vimeo.com/139971356


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Cultura



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