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REPRESSÃO AO GRAFITE EM SP | Grafiteiro Mauro Neri é liberado: "deve ter triplicado o número de pichadores essa semana"

O grafiteiro Mauro Neri, um dos curadores do mural da 23 de maio que está sendo coberto de cinza pela prefeitura de João Doria, foi preso nessa sexta-feira, 27, enquanto removia a tinta cinza para revelar novamente os grafites apagados. Ao ser liberado, conversou com veículos de imprensa presentes. Veja um pouco do que ele disse.

sexta-feira 27 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Neri afirmou que acredita que a atitude de João Doria de apagar os grafites tem relação com a disputa eleitoral e a vontade do prefeito eleito de dar satisfação ao setor da sociedade que é contra o grafite e a pichação. Ele disse que os grafites serão feitos novamente pela nova gestão com a "sua cara".

Na opinião dele, a criminalização irá incentivar o aumento no número de pichações, que deverão aumentar após a repressão feita pela prefeitura. Ele disse que existe uma mudança ideológica no sentido da criminalização do grafite. Neri denunciou que o movimento que existe hoje por parte do próprio prefeito de apagar o grafite já ocorria antes, mas que em geral partia das subprefeituras, e afirmou que o motivo disso é que as empresas terceirizadas contratadas ganhavam dinheiro por cada pintura feita, e assim os apagavam para aumentar seus lucros.

Neri foi questionado pelos repórteres sobre a diferença entre a pichação e o grafite, e respondeu:

"Essa pergunta é muito recorrente. Não existe um limite entre uma coisa e outra, é difícil determinar onde começa uma coisa e termina a outra. São movimentos que fazem parte desse movimento de rua. Há quem se sinta enaltecido em ser chamado de pichador, há quem se sinta enaltecido em ser chamado de grafiteiro. Eu percebo que essa denominação tem muito mais a ver com uma atribuição de valor: se você quer depreciar à sociedade como um todo se chama de pichação; quando acha legal chama de grafite. E aí quando fica ’muito legal’ chama de obra de arte ou mural. Então tem muito mais a ver com agregar valor ou não."

Relatando sua trajetória de trabalhos em parcerias com a prefeitura, Neri afirmou que o primeiro foi com o projeto cartografitti, que teve início na gestão Kassab e nessa própria gestão os trabalhos feitos foram apagados porque "é de praxe apagar murais indiscrimidamente", e na gestão Haddad foi feito o projeto do mural de grafite na 23 de maio.

Outro ponto levantado por ele é que "a remoção depende muito do CEP: nos lugares onde tem essa especulação maior, onde tem uma circulação de pessoas interessadas ou não, onde tá a opinião pública, foram retirados antes; enquanto que o projeto [de edital que foi feito nas gestões Kassab/Haddad] tinha o interesse de ligar a periferia ao centro, os grafites no centro foram removidos primeiro."

Ele disse, ironizando, que a atitude de Doria, ao colocar em pauta a questão da pichação e do grafite, fez muito por eles, afirmando que "os pichadores devem estar agradecendo, deve ter triplicado o número de pichadores essa semana. O movimento do grafite, embora tenha tido suas perdas nos muros da cidade, já sabe que o grafite é efêmero. Então, colocar essa discussão em pauta é muito positivo, a gente tem que agradecer, não sei se era a intenção dele enaltecer o movimento, mas ele conseguiu. A gente espera que ainda haja tempo de haver diálogo e que ele possa perceber nessa gestão, que é de uma figura vaidosa, e já vai perceber que a cidade de São Paulo é a primeira no mundo em street art e ele pode se gabar disso também. Não precisar mais comparar com Miami, e fazer com que Miami copie São Paulo."

A prisão de Neri se deu quando ele estava removendo a tinta cinza que cobria os grafites para que eles pudessem aparecer nos muros novamente. Sobre isso, afirmou: "Sim, a intenção era remover o cinza - parte do cinza já está sendo removido pela chuva - mas a intenção é isso mesmo: remover a tinta cor de concreto e revelar novamente o grafite que tinha ali." Ele afirmou que em partes já conseguiu fazer isso. Ele contou que no projeto de Cartograffiti essa prática já era utilizada para restaurar os murais apagados.

Ao ser perguntado se a abordagem da polícia foi violenta, Neri contou que em outros momento já apanhou e foi agredido com spray de pimenta por fazer grafite, mas que pela situação atual e por estar sendo filmado e acompanhado, a abordagem foi mais tranquila do que em momentos anteriores.




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