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IMIGRAÇÃO | Governo na Hungria usará exército para fechar fronteiras aos imigrantes

O partido ultraconservador da Hungria, o Fidesz, que governa o país, anunciou nesta quarta-feira que convocará as comissões de Defesa e de Segurança Nacional do parlamento para preparar uma lei que autorize a mobilizar o exército para defender as fronteiras.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

quinta-feira 27 de agosto de 2015 | 00:00

Viktor Orban, primeiro ministro húngaro vinculado a seitas religiosas de ultradireita, anunciou que reforçará a fronteira com a Sérvia – via de entrada de sírios, afegãos, paquistaneses e iraquianos a caminho do norte da Europa – com mais de 2100 agentes policiais, auxiliados pelo término de um grotesco muro de arame farpado com os 175 km de extensão de sua fronteira com o país sérvio.

O auge da campanha xenófoba de Orban veio com cartazes e outdoors em que se lia a mensagem da construção da “muralha de ferro” contra os asiáticos. Supostamente dirigida contra os imigrantes ilegais, exibem consignas que exigem o “respeito à cultura e às leis húngaras”, e adverte que “Se vier à Hungria, não deve tirar o trabalho dos húngaros”.

Esta campanha antiimigratória coincidiu com a necessidade de distrair a atenção da população húngara dos constantes escândalos de corrupção do governo e a taxa de pobreza do país, que faz com que o apoio do Fidesz caia vertiginosamente em favor da força de extrema-direita Jobbik, partido reacionário neonazista.

"A Hungria não tem que defender só suas fronteiras, mas também as da União Europeia, mas os últimos meses mostram que Bruxelas é incapaz de enfrentar a situação atual", declarou Szilard Nemeth, deputado do Fidesz, publicou o partido em seu site.

O governo também enviou um “questionário nacional” equiparando a imigração com o terrorismo. Segundo o ministro de Assuntos Exteriores húngaro, Péter Szijjártó, o governo deve “cercar de muros todo o país se for necessário”.

As autoridades húngaras interceptam diariamente mais de duas mil pessoas, que cruzam sua fronteira com a Sérvia ilegalmente, principalmente sírios, afegãos e paquistaneses.

As respostas da população mostram que o governo não teve sucesso em controlar absolutamente a opinião pública contra os imigrantes. Apesar de que, segundo enquete de abril, 46% da população se considerava contra a entrada de estrangeiros, há enfrentamentos com a política de Orban, como na cidade ferroviária de Szeged, sul da Hungria, em que moradores sabotam os cartazes antiimigratórios, arrancando suas mensagens.

Nesta cidade que é uma zona de passagem de refugiados em direção à Alemanha e à Áustria, as empresas ferroviárias fazem campanha contra a permanência de imigrantes nas estações, colaborando com as bandas armadas de Jobbik, que fazem “patrulhas fronteiriças”, nos mesmos moldes que os grupos de extrema-direita vinculados ao Aurora Dourada na Grécia fazem ao prender e torturar imigrantes muçulmanos.

Inferno migratório

A fronteira entre a Hungria e a Sérvia se converteu numa das portas de entrada mais transitadas para a Europa (faz fronteira com a Áustria, destino de muitos imigrantes do Oriente Médio, que dá acesso à Alemanha e Dinamarca).

A questão migratória envolve uma cadeia de países. Simultaneamente à chegada dos imigrantes na Hungria, quase 2 mil pessoas, em sua maioria refugiados sírios que buscavam chegar à Europa Ocidental, faziam sua travessia pelo “estágio anterior”, a Macedônia, onde estavam bloqueadas pela polícia junto à fronteira da Grécia.

Outro grupo de imigrantes que já havia conseguido entrar na Macedônia durante o dia se dirigiu a Gevgelija em busca de algum meio de transporte que os levasse à Sérvia.

Na Grécia do "governo de esquerda" do Syriza, existem centenas de campos de refugiados, sem acesso à água ou eletricidade, esperando sua vez para atravessar o calvário que os separa do inferno das guerras civis provocadas pela Europa e os sofrimentos de uma vida ilegal numa Europa em plena campanha xenófoba.

Outra porta de entrada é a Itália. A 20 de abril deste ano, 700 pessoas provenientes da Líbia, que rumavam para a costa da Sicília, morreram afogadas depois na maior tragédia da história do Mediterrâneo. Em todo o ano de 2015, já são mais de 3000 imigrantes que perecem tentando cruzar a fronteira para as costas européias.

Este itinerário infernal é feito por refugiados que normalmente procuram parentes que conseguiram escapar para a Europa, atravessando a Itália, a Grécia, a Sérvia, a Hungria. A maior parte é composta de jovens, cujos pais enviam sozinhos para a difícil jornada, pagando milhares de euros aos traficantes ilegais para que os filhos na sejam sacrificados nas guerras civis como a da Síria e da Líbia, por perseguições do Estado Islâmico, ou pelas ditaduras sangrentas do Egito.

Não é apenas Orban que destila o veneno nacionalista de “a Hungria para os húngaros”. O primeiro ministro britânico David Cameron disse recentemente que sua política era acabar com a “praga de imigrantes” que tentava atravessar o Canal da Mancha que liga a França à Grã-Bretanha.

Seu cartão postal de racismo e xenofobia imperialista chegou ao cúmulo de buscar impor uma lei que prescreve seis meses de prisão para imigrantes que trabalhem ilegalmente no Reino Unido.

Os trabalhadores não tem pátria: a bandeira de defesa dos imigrantes contra o imperialismo

Esta odisséia de migrações tem sua origem nas violentas relações estatais capitalistas, e suas misérias não podem terminar nos marcos das divisões entre fronteiras nacionais.

A causa destas verdadeiras viagens do terror estão no estado de desespero social no qual vivem os migrantes em suas terras, estrangulados pela espoliação exercida pelas principais potências imperialistas da União Europeia e os EUA, que com seus capitais exploram os trabalhadores submetendo-os às piores condições de vida.

Frente ao endurecimento das leis xenófobas, dos centros de detenção, a repressão que sofrem os imigrantes que chegam à Grécia pelo governo de "esquerda" do Syriza, ou que nestes momentos passam os imigrantes na Macedônia e na Sérvia, assim como os ataques racistas que acontecem na Alemanha, o desenvolvimento de um amplo movimento em defesa dos imigrantes é uma necessidade.

São os Renzi, os Hollande, as Merkel, os Cameron e os Obama, com suas políticas de saque, ajuste, suas leis racistas, seus exércitos e suas polícias, os responsáveis por este horror social, que só a classe trabalhadora pode enfrentar unindo sua luta e organização à escala internacional para derrubar estes estados capitalistas, e levantar sobre suas ruínas uma nova sociedade de homens e mulheres livres, onde as fronteiras não sejam propriedade de nenhum estado e sim desapareçam em favor do território mundial livre para a humanidade sem classes.




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