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Governo Temer gerou novos milhões de desempregados. Como resolver esse problema?

Os índices de desemprego assumiram contornos trágicos para a vida de milhões de trabalhadores. A força da greve geral do dia 28 de abril pode oferecer um caminho para responder esse problema.

Danilo ParisEditor de política nacional e professor de Sociologia

quarta-feira 3 de maio de 2017 | Edição do dia

O Brasil tem atualmente 14,2 milhões de desempregados, o maior índice desde 2012. No trimestre encerrado em março houve uma elevação de 14,9% em relação ao trimestre anterior. Levando em consideração apenas essa variação, hoje existem a 1,8 milhão de pessoas a mais desocupadas.

Esses dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada no dia 28, no Rio de Janeiro, pelo IBGE. Enquanto o desemprego cresce o faturamento dos grandes industriais aumenta. Foi no setor industrial onde mais aumentaram as demissões desde 2015 segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). No mês de março o faturamento do setor cresceu 2,4%.

Esses dados são a expressão gráfica da política do governo Temer e tende a aumentar caso as reformas que estão em trâmite no Congresso e no Senado sejam aprovadas.

Qual a relação entre as reformas e o aumento do desemprego?

Um dos argumentos recorrentemente utilizados por Temer e os paladinos das reformas é que elas gerariam novos empregos. No entanto o conjunto dos seus artigos beneficiam exclusivamente os patrões e grandes empresários em detrimento dos trabalhadores.

A reforma trabalhista, por exemplo, prevê agora o regime de trabalho intermitente. Isso significa que o empregador poderá pagar apenas pelas horas trabalhadas e não precisa mais implementar uma jornada de trabalho continua. Assim sendo, em um mesmo emprego os trabalhadores poderão trabalhar 3 horas de manhã, 2 a tarde e 2 a noite. Todo o tempo que ele permanecer no local de trabalho não será remunerado. Essa flexibilidade só favorecerá o patrão, já que agora poderá adequar sua força de trabalho como quiser, fechando postos de trabalho de acordo com a demanda de sua empresa.

A lei das terceirizações, que amplia e generaliza esse regime de trabalho para todas as atividades, também irá contribuir com o aumento do desemprego. Entre outras implicações, como os trabalhadores terceirizados recebem em média 25% a menos de salário, essa lei estimulará que o mesmo trabalhador tenha dois empregos diferentes para conseguir suprir sua renda mensal necessária para o pagamento das suas necessidades básicas. Além disso, o regime de terceirização se caracteriza pela alta rotatividade dos empregados, ficando ao prazer dos patrões e empresários demitirem de acordo com seus interesses.

A reforma da previdência também será outro fator que irá contribuir para o aumento do desemprego. Seu impacto não se restringe apenas ao aumento da idade da aposentaria, pois, o trabalhador não conseguindo se aposentar, seu posto de trabalho também não será preenchido por um novo trabalhador. Na prática, essa reforma cria um efeito em cadeia que incrementará as filas do desemprego.

Como acabar com o desemprego?

Todas essas medidas têm um único objetivo: descarregar a crise econômica sobre os ombros dos trabalhadores. Para enfrentar o desemprego bastaria dividir as horas de trabalho entre todos, empregados e desempregados, sem a diminuição dos salários. Mas os patrões e governos nunca irão colocar isso em prática já que significaria diminuir seus próprios lucros. Além do que, necessitam de um grande contingente de trabalhadores desempregados para pagar salários baixos aos empregados. Quando um trabalhador reclama das suas condições de trabalho já se transformou em jargão a resposta dos chefes e patrões: “está descontente com o salário? Procure outro emprego que muitos outros querem a sua vaga.”

Medidas como essa só podem ser implementadas a partir da força dos trabalhadores. Na greve geral do dia 28 de abril vimos um imenso levante da classe trabalhadora que foi uma grande demonstração dessa força. Não houve sequer uma capital ou grande cidade do país que não sentiu o seu abalado. A classe trabalhadora em movimento é capaz de promover grandes mudanças, já que é ela quem tudo produz e movimenta em nossa sociedade.

Devemos exigir de todas as centrais sindicais uma greve geral até derrubarmos as reformas e o governo Temer. Para efetivá-la e tomar a luta nas mãos cada trabalhador é necessário construir comitês para reunir centenas de trabalhadores e jovens, para que não sejam as cúpulas das centrais que decidam os próximos passos da luta, mas sim os milhões que foram protagonistas do histórico 28A.

Através dos comitês podemos elaborar e propor um plano de lutas para enfrentar os ataques, desde os calendários de mobilização, passando pelos métodos de lutas e todas as formas necessárias para alcançarmos nossos objetivos. Com a criação de milhares de comitês em todo o país, poderia se exigir das centrais não só que mobilizem suas categorias ou sindicatos, mas também um encontro de delegados de base, onde cada comitê, fábrica, escolas, universidades ou bairro tenham seus representantes defendendo suas propostas para a construção de um plano de lutas unificado.

Essa auto-organização dos trabalhadores é uma questão vital para os rumos da luta contra Temer e as reformas. As grandes centrais já sinalizaram que seu objetivo não é fazer uma luta implacável para derrotá-las. A CUT em seu site diz que a tarefa é pressionar os senadores onde tramita a reforma trabalhista, e sua preocupação central é como reeleger Lula em 2018. Já a Força Sindical, que foi base de apoio do golpe, pretende negociar alguns pontos para uma reforma mais “amena”, como se isso fosse significar alguma melhora para as condições de vida da classe trabalhadora.

Não será uma eleição, um negociando com os corruptos do Congresso e do Senado que iremos reverter os imensos ataques já implementados e os que estão por vir. Para acabar com o desemprego, e derrubar as reformas, a única eleição que interessa aos trabalhadores seria aquela que fosse contra este regime político para mudar todas as regras do jogo, invertendo as hierarquias para favorecer a massa da população brasileira e não os capitalistas. Uma eleição para eleger os representantes de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que tenha como primeira tarefa anular todas as leis e reformas do governo golpista de Temer e dos governos anteriores. Além disso, poderíamos avançar para debater todos os grandes problemas do país como a redução da jornada de trabalho sem redução salarial, como dissemos acima, garantindo que todo o trabalhador ganhe o salário mínimo previsto pelo DIEESE. Através desse caminho, com a classe trabalhadora sendo sujeito do seu próprio destino, que garantiremos nosso direito ao futuro.




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