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EUA | Gastamos mais em defesa que a soma dos oito países que nos seguem na lista, diz Obama

Na última terça-feira (12), Obama fez o discurso do “estado da União” que começa as sessões do Congresso dos Estados Unidos. Foi seu oitavo discurso e o último de sua carreira, e estava cheio de referências às conquistas de sua própria gestão e aos “desafios” que condicionam a agenda eleitoral.

Juan Cruz FerreLeft Voice, EUA

sexta-feira 15 de janeiro de 2016 | 00:00

Gozando de sua – invejável – habilidade discursiva, Barack Obama fez um discurso triunfante. Estava eufórico e audacioso, mostrou um presidente sólido e não poupou ataques aos republicanos. Como já é de costume, combinou uma forte defesa aos “valores americanos” de sucesso individual e à ordem capitalista com gestos demagógicos em relação às minorias afro-americana e latina. Entre outras frases, que soaram como música para sua base democrata-liberal, ele disse que "os beneficiários do vale-refeição não causaram a crise financeira, foi a imprudência de Wall Street".

O ponto alto do discurso foi a reivindicação de uma série de políticas que realizou na cadeira presidencial, como a recuperação dos empregos, e da economia em geral, impulsionada por injeções milionárias e pelo resgate financeiro aos grandes bancos.

Também reivindicou a reforma da saúde e o programa “No Child Left Behind” (“Nenhuma criança deixada para trás”), em vigência de 2002 a 2015 que obrigava as escolas que não alcançavam um rendimento adequado segundo testes padrões a fechar as portas ou a funcionar como “charter schools” (escolas que recebem financiamento público, mas são administradas por empresas privadas). Essa lei foi substituída no ano passado pela lei “Every Student Succeeds” (“Todo estudante obtém sucesso”), que mantem os testes padronizados, e, portanto, é uma continuação da anterior.

Nos primeiros minutos do discurso, Obama sinalizou que os primeiros desafios que teriam pela frente era a fixação de um sistema de imigração desmembrado, a proteção das crianças contra armas de fogo, salário igual para trabalho igual (referindo-se à diferença de gênero), licenças em situação de maternidade e de doença e o aumento do salario mínimo. Obviamente, todas essas demandas são muito urgentes para a classe trabalhadora, que conta com 50 milhões de latinos e outro tanto de imigrantes de outras regiões do mundo. Além disso, os EUA é o único país industrializado em que a licença-maternidade não é um direito. Existem apenas 3 estados (dos 50 estados do país) que oferecem esse benefício e a licença por doença.

Tanto o aumento do salário mínimo quanto as licenças por maternidade e por doença, assim como a reforma migratória, foram apresentados como promessas no discurso do ano passado.

A discussão sobre o controle de armas é a ordem do dia nos EUA. Não apenas porque tiroteios em lugares públicos são uma verdadeira epidemia, mas também porque se tornou um debate interno no Partido Democrata. Hillary Clinton, a queridinha de Wall Street e de toda a base do Partido Democrata, se mostrou audaz quanto a esse controle, enquanto Bernie Sanders, o “socialista independente” que decidiu se apresentar às internas do Partido Democrata, é mais reticente sobre implementar controles estritos. A referência no discurso de Obama foi um claro aceno a Hillary Clinton. Depois disso, o conteúdo se organizou em quatro áreas: a economia e o emprego, a tecnologia e as mudanças climáticas, as ameaças à segurança nacional e, por último, a política partidária.

Quanto à economia, enfatizou a recuperação dos níveis de produção e a surpreendente recuperação dos empregos, mas, claro, sem mencionar que a grande maioria dos postos de trabalho criada apresenta baixos salários e/ou precarização.

Também destacou a revitalização da indústria automotiva no último ano. O outro lado dessa revitalização, mais uma vez, é o avanço das leis anti-sindicais nos estados do Sul (que agora também se estendem além), para onde as fábricas de automóveis se mudaram nos últimos anos.

Ao abordar o tema das mudanças climáticas, não perdeu a oportunidade de zombar daqueles que negaram sua existência durante muitos anos: os setores mais conservadores do Partido Republicano. “Se alguém ainda insiste em negar as mudanças climáticas, deverá dizê-lo aos mais de duzentos países que assinaram o acordo de Paris”.

Em seguida ele acenou à indústria verde: “Ainda que o planeta não estivesse com problemas, porque iríamos negar à indústria dos EUA a oportunidade de produzir e vender a energia do futuro?”. Tom Steyer deve ter ficado encantado com essa parte.
Ele é um dos principais empresários da indústria de energias renováveis, e, ao mesmo tempo, foi o maior contribuinte (com 75 milhões de dólares) do Partido Democrata, em 2014.

Obama também se vangloriou de como os EUA escapou da dependência do petróleo estrangeiro, mas não disse que este feito foi quase exclusivamente graças à meteórica expansão do fracking (faturamento hidráulico) para o comprimento e a largura do território norte-americano.

Quando ele falou das ameaças externas, Obama adotou um tom que surpreendeu a muitos. Criticou a estratégia do medo que os republicanos têm usado, agitando o fantasma do Estado Islâmico e dos imigrantes sírios. Sem nomeá-lo, atacou Donald Trump e sua retórica anti-imigrante e reacionária, e disse, finalmente, que “nos ameaçam mais os Estados falidos do que as ‘forças do mal’”. E continuou, “É mentira que nossos inimigos se fortalecem (...) Gastamos mais em defesa militar do que a soma dos 8 países que nos seguem na lista. Depende de nós reconstruir a ordem mundial que criamos depois da Segunda Guerra”.

Imediatamente depois, ele pediu ao Congresso que autorizasse o uso de força militar para combater o Estado Islâmico. Ele tentou moderar o teor imperialista e belicista de seu discurso, tentando separar-se de experiências militares frustradas do passado: “Vietnã e Iraque nos ensinaram que não podemos reconstruir todos os países que caem em uma crise profunda”.

Criticou os ataques a mesquitas e a muçulmanos em território norte-americano e defendeu tanto aos manifestantes que “nos mostram como fazer justiça” quanto aos policiais que “cuidam de nós”. Terminou com um apelo aos republicanos para trabalhar em políticas públicas, um pedido de aprovação do Tratado Transpacífico e prometeu (mais uma vez) que iria fechar a prisão de Guantánamo.

Original: Obama’s Final SOTU: Silence Speaks Louder Than Words




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