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Jornada de Lutas na Argentina | Ganhamos as ruas: grande jornada em apoio a todas as lutas

Na cidade de Buenos Aires e outros pontos do país se mobilizaram organizações sociais e importantes setores de trabalhadores junto à esquerda. Houveram marchas, cortejos, caravanas e atos, uma da “Plenária do Sindicalismo Combativo” na Plaza de Mayo e outro no Obelisco. Escutaram-se as vozes dos representantes das lutas.

sexta-feira 18 de setembro de 2020 | Edição do dia

Tínhamos que ganhar as ruas. Nesta quinta-feira, conforme havia sido convocado, a demanda pelo direito à moradia, contra a repressão às ocupações de terras, pelos salários, contra as demissões, a precarização do trabalho, por justiça à Facundo Castro e pelo fora Berni, entre outros, todas foram sentidas na cidade de Buenos Aires e em outras partes do país como Rosário e Jujuy.

A partir do meio-dia em frente ao Ministério do Desenvolvimento Social, a jornada de luta começou em Buenos Aires, que continuaria com uma caravana convocada pela “Plenária do Sindicalismo Combativo” que culminou em um ato na Plaza de Mayo, em que trabalhadores e dirigentes do SUTNA, de Madygraf, do Sindicato Ferroviário de Haedo, trabalhadores da saúde, professores, metroviários, servidores públicos, o Polo Obrero, MTR, Teresa Vive e outros, junto aos partidos de esquerda, o PTS, PO, MST, IS, NMAS.

Entre outros oradores, falou Alejandro Crespo, da SUTNA, que afirmou que “diante da pandemia a classe trabalhadora é atacada e por isso a organização sindical é mais importante do que nunca. Viemos lutar para quebrar os pactos sociais”.

Por sua vez, Claudio Dellebonara, da Secretaria Executiva do Sindicato dos Trabalhadores do Metrô (AGTSyP) e deputado provincial do PTS-FIT, destacou “é urgente que sejamos uma grande força nas ruas. Motivos e urgências não faltam. As e os companheiros que estão ameaçados de despejo precisam disso. Precisamos disso também nas fábricas e nos serviços, que são os locais de maior contágio porque nos mandam para o trabalho sem nenhum protocolo”.

Por sua vez, o “Pollo” Sobrero da União Ferroviária de Haedo, destacou que “desde o Governo, tratam como criminosos os que lutam pela terra, quando o que mais sobra neste país é terra. Criminoso é quem rouba o país."

Guillermo Pacagnini (CICOp) afirmou que “somos os protagonistas de uma grande jornada de luta no país. Com este ato, nós nos demarcamos do Governo. Enquanto eles propõem desvalorizações e ajustes, se ajoelham diante dos abutres e colocam o dinheiro no bolso. A burocracia tira uma soneca e assina o pacto social”.

Por fim, a partir das 18h00 no Obelisco teve lugar um importante ato e comício onde representantes de lutas de enorme importância como das ocupações de terras, trabalhadores precários -como a Glovo-, os que estão na linha de frente da luta contra a pandemia e muito mais.

Ao falar, um lutador pela habitação destacou que “estamos fazendo ocupações por necessidade, para mostrar a eles que mesmo havendo perseguições da polícia e ameaças de despejos, vamos continuar lutando pelo nosso terreno. Porque é uma necessidade e um direito de todos. Queremos agradecer aos companheiros de ‘Ni Una Menos’ que foram os primeiros a vir. Somos trabalhadores e temos direito a um telhado digno ”.

Por sua vez, Nicolás del Caño destacou que “nós saímos às ruas, porque as ruas são nossas, não somos do tipo que saíram para defender os golpistas de Vicentín, os grandes milionários e seus privilégios. Não somos do tipo que se mobilizam para que se abra a quarentena e que os trabalhadores fiquem sem qualquer proteção e se infectem. Aqui estão os trabalhadores cujos salários foram rebaixados, que sofreram as demissões, parentes de casos de ‘gatillo fácil’* por aquela polícia assassina a quem foi dada aumento de salário para que continuem a reprimir, e como querem fazer com a tomada de Guernica, com todas as famílias que reivindicam seu direito à moradia. Elas são acusadas de cometer um crime por reivindicar um terreno para morar. Em 2016, as grandes multinacionais tomaram para si paraísos fiscais por 21.000 milhões de dólares. Com estes recursos, 80% dos bairros populares do país poderiam ser urbanizados. O Governo cede à direita e a polícia os dirige. Os líderes sindicais se aproximam da UIA, com os empresários para ver como seus interesses são atendidos enquanto os trabalhadores sofrem a crise.
Se querem reprimir as famílias de Guernica, não o permitiremos. Temos que estar juntos para evitar esse despejo. "

NdT: “Gatillo fácil” é análogo ao “auto de resistência da polícia brasileira”. Algo como “primeiro atira, depois pergunta”.

Em seu discurso, Celeste Fierro indicou que “cada uma dessas lutas são respostas aos ataques aos nossos direitos por parte dos empresários, do governo, da polícia e dos diferentes setores do poder. É por isso que estamos aqui para lhes dizer ’chega’. A crise vai piorar e eles vão querer que os trabalhadores a paguem. Não vamos permitir. Enquanto dão aumento à polícia, os trabalhadores da saúde, os precários, nada. Chega de colocar falsas soluções. É preciso propor outro modelo que garanta os direitos das maiorias”.

Os trabalhadores da saúde intervieram para dizer “somos essenciais para os nossos deveres, mas não para os nossos direitos. Nestes 180 dias o governo não resolveu os profundos problemas de esvaziamento que temos hoje nos hospitais. Estamos perante a pandemia com o menor orçamento da história. Temos dois, três e até quatro empregos. Precisamos de um salário igual à cesta familiar, que as horas de trabalho sejam divididas para não corrermos de um emprego para o outro e que nossas vidas não continuem em risco e nem a dos pacientes. Precisamos que a saúde seja centralizada. Precisamos de todos os recursos para enfrentar seriamente esta pandemia ”.

Projetado na tela gigante, quem presenciou o ato também pôde ver uma mensagem enviada por Cristina Castro, mãe de Facundo, o jovem desaparecido por mais de 100 dias antes de aparecer morto, em um caso em que todas as pistas levam à ação da maldita Polícia de Buenos Aires.

Lá ela afirmou: “Cuidemos de nossos jovens, que têm direito de sair, de não serem perseguidos pela polícia por reivindicar seus direitos ou por serem diferentes. A polícia de Buenos Aires ou qualquer força não tem o direito de ser cruel com nossos filhos. Nem o Sr. Berni tem direito a nos tratar como ele fez desde o primeiro dia. Ele não tem o direito de pisar em nossas cabeças e interferir nos direitos humanos. Fora Berni! Chega de desaparecidos na Argentina, que o ‘Nunca mais’ seja ‘Nunca mais pra valer’. "

Nicolás del Caño, Myriam Bregman e Cele Fierro do PTS e do MST na Frente de Esquerda e Unidade dos Trabalhadores, respectivamente, também fizeram parte dessas mobilizações e transmitiram as reivindicações pela televisão com os diferentes setores. Ao longo do dia, as ações tiveram significativa cobertura na mídia.




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