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ATO DA ESQUERDA ARGENTINA 19N | Frente de Esquerda argentina encherá estádio: ato histórico para esquerda anticapitalista

No dia 19 de novembro a esquerda argentina fará um ato histórico, enchendo o estádio de futebol de Atlanta no mais importante ato político da esquerda em décadas. Nicolás Del Caño, do PTS na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, fará a intervenção de encerramento.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

sábado 5 de novembro de 2016 | Edição do dia

No dia 19 de novembro a esquerda argentina fará um ato histórico. O estádio de futebol de Atlanta se encherá com milhares e milhares de trabalhadores, mulheres e jovens que expressarão a força da esquerda como única alternativa independente frente ao governo de direita do presidente Mauricio Macri, e de todos os partidos patronais ajustadores, como o de Cristina Kirchner e as forças do peronismo. Nicolás Del Caño, dirigente do PTS e ex-candidato presidencial da esquerda nas eleições, fará a fala de encerramento do ato.

Trata-se do ato convocado pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT), uma frente eleitoral de independência de classe composta pelo PTS (Partido dos Trabalhadores Socialistas, organização irmã do MRT na Argentina), o PO (Partido Obrero) e a IS (Esquerda Socialista), organizações que reivindicam a tradição do trotskismo. A referência que se tornou a Frente de Esquerda desde 2011, e particularmente desde 2015 com a emergência de Nicolás Del Caño como a principal figura da esquerda nacional, permite que o ato do 19N seja um marco histórico para a esquerda: o ato mais importante da esquerda argentina em décadas que possui transcendência não apenas nacional mas mundial.

Sobretudo para a América Latina, trata-se de um ato de grande relevância, no ano em que se consumou o golpe institucional da direita no Brasil. Uma direita absolutamente reacionária e pró-imperialista que foi fortalecida durante todos os governos do PT, que assimilou a corrupção própria dos capitalistas e atacou duramente os trabalhadores. O governo de direita de Michel Temer – agraciado por Macri – já deu largada a uma série de ataques contra os direitos trabalhistas e previdenciários, com o auxílio inestimável do judiciário, para convencer os capitalistas de que podia aplicar ajustes mais duros do que os do PT.

Estes movimentos reacionários tiveram ressonância também no subcontinente, especialmente na Venezuela, em que os Estados Unidos e a Igreja tratam de utilizar “instrumentos institucionais” para substituir Maduro e o autoritarismo chavista em decadência por um novo governo autoritário da direita mais reacionária.

Por tudo isso, o ato de Atlanta é uma demonstração de forças da esquerda independente latinoamericana. A inserção orgânica do PTS no movimento operário argentino, assim como sua participação nas grandes lutas operárias da última década contra o kirchnerismo, a patronal e a burocracia sindical (como Zanon, Kraft, Lear e Donnelley), deu energia e vitalidade ao parlamentarismo revolucionário dos principais referentes da FIT no Congresso Nacional. Essa atuação é amplificada pela existência do diário digital La Izquierda Diario, impulsionado pelo PTS e que já alcança mais de 2 milhões de visitas mensais, uma verdadeira revolução na chegada das idéias da esquerda a setores amplos, parte da Rede Internacional em cinco idiomas e 11 países.

O parlamentarismo revolucionário do PTS na FIT

Cumpre lembrar que Nicolás Del Caño, desde o início de seu mandato como deputado federal abriu uma campanha nacional denunciando a casta parasitária dos políticos milionários, exigindo que todo político recebesse o mesmo salário de uma professora. Conduta essa adotada por cada um dos parlamentares do PTS na FIT, que doam o restante da verba parlamentar para as lutas dos trabalhadores. Fruto desta batalha incessante, a denúncia dos deputados do PTS foi capaz de barrar o aumento que deputados e senadores queriam votar a seus próprios salários neste mês de novembro.

Como parte da tradição dos revolucionários, que colocam sua intervenção nos parlamentos a serviço da luta extraparlamentar dos trabalhadores, Del Caño esteve ombro a ombro nas jornadas de luta em defesa dos trabalhadores da metalúrgica Lear, sendo reprimido junto a dezenas de operários com balas de borracha pela polícia, causando enorme comoção nacional.

Myriam Bregman, deputada federal do PTS na FIT, pediu duas vezes ao Congresso argentino que se pronunciasse categoricamente contrário ao golpe institucional no Brasil, tanto depois da votação na Câmara quanto no Senado brasileiro. Junto a Del Caño, encabeçou o maior ato internacional de repúdio ao golpe no Brasil na data simbólica do 1 de maio, em solidariedade internacional à luta dos trabalhadores e jovens no Brasil contra o avanço da direita, e de maneira independente do PT.

Estes, dentre outros exemplos, possibilitaram que a fórmula presidencial Del Caño-Myriam Bregman, em 2015, recebesse a maior votação da história da esquerda desde 1983, com 800.000 votos e mais de 1 milhão para deputados, contradizendo a hipótese de que para “chegar às massas” é necessário rebaixar o programa e adaptar-se a projetos sem uma estratégia anticapitalista e socialista. Mostra que é possível conquistar peso em setores amplos sem abandonar a luta para que o movimento operário se transforme em sujeito político, avance das lutas sindicais à militância política e construa um partido com independência de classe que lhe seja próprio.

Sintomas de descontentamento contra Macri

Sem lugar a dúvidas o fenômeno mais massivo que vemos hoje são as impressionantes mobilizações de milhares de mulheres contra o feminicídio e a violência machista. O grito de #NiUnaMenos (“Nem uma a menos”) após o assassinato brutal de Lucía Pérez encheu as ruas e transpôs as fronteiras nacionais, paralisando fábricas inúmeros locais de trabalho. Reflete o despertar de milhões de mulheres e de homens fartos de uma violência machista tolerada e impulsionada pela Igreja e o Estado. O Pão e Rosas, agrupação de mulheres impulsionada pelo PTS (também impulsionada pelo MRT no Brasil) junto a milhares de companheiras independentes, que encheu o Encontro Nacional de Mulheres com mais de 3.000 companheiras, participa deste movimento denunciando o papel do Estado e dos governos, chamando os homens à unidade da luta contra o machismo e estará com força no 19N.

Ainda que de outra magnitude que o fenômeno feminino, há também sintomas de descontentamento em trabalhadores e jovens. Em outubro, a chapa antiburocrática de operários da alimentação, composta pela agrupação Bordó (impulsionada pelo PTS) junto a setores independentes, ganhou a comissão interna da ex-Stani (Mondelez Victoria), derrotando a chapa da burocracia sindical vendida. Este fato, que confirma o peso do PTS e da esquerda na recuperação de organizações operárias contra as máfias burocráticas sindicais, também se expressou em diversas diretorias do sindicato dos professores em Neuquén (onde fica a fábrica Zanon sob controle operário), em que a esquerda recuperou numerosas seccionais.

Também no movimento estudantil podem ver-se estes “novos ares”, com a marcha de 40 mil estudantes e professores em Buenos Aires contra os cortes na educação feitos pelo governo federal. O triunfo da Frente de Esquerda no centro acadêmico da faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires, contra a chapa do kirchnerismo, assinala um curso à esquerda da juventude estudantil em algumas estruturas centrais do mundo universitário.

O fortalecimento da Frente de Esquerda argentina tem relevância mundial

Importantes setores de trabalhadores e jovens, como dizíamos, já não acreditam no kirchnerismo. E isto não é um fenômeno exclusivamente nacional. Depois de anos de incendiados discursos “nacional e populares” ou “bolivarianos” na América Latina, a ofensiva do capital e da direita contra os trabalhadores no subcontinente revelou a degradação dos “governos progressistas” que fortaleceram essa direita. No Brasil, o PT de Lula e Dilma se encontra em franca decadência, depois de ter aplicado um ajuste brutal e ter se negado a impulsionar a resistência ao golpe de Temer. A Bolívia vive o desencanto com o evomoralismo, e na Venezuela a direita se alia com a Igreja e o imperialismo para substituir a corrupção autoritária do chavismo pela sua própria.

A Frente de Esquerda e dos Trabalhadores e o PTS se delimitaram como princípio destas manifestações políticas do “progressismo latinoamericano”, que governaram para os capitalistas com uma estratégia de conciliação de interesses entre empresários e trabalhadores. Combateu as ilusões “neoreformistas” vindas da Europa com o Syriza da Grécia e o Podemos no Estado espanhol, expressões da estratégia reformista de humanizar o capitalismo. Tornou-se a mais forte alternativa independente de classe da esquerda latinoamericana, e na Argentina a única força independente do Estado, das grandes patronais e da burocracia sindical. Está à frente da oposição pela esquerda ao macrismo e a todos os partidos patronais.

No Brasil, a classe trabalhadora e o povo merecem superar a tradição conciliadora do PT e construir uma esquerda à altura de sua missão histórica, de destruir o poder burguês. O exemplo da FIT precisa ser conhecido e estudado amplamente pela esquerda brasileira. Faremos a cobertura completa deste evento histórico no Esquerda Diário, mostrando a preparação, a militância dos trabalhadores, das mulheres e dos jovens junto a cada detalhe da construção do ato de Atlanta.




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