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ABC PAULISTA | Frente a corrupção e a precarização que atingem a escola pública: “Que todo Político ganhe o mesmo que uma professora”

A campanha lançada pelo Esquerda Diário contra o salário exorbitante e os privilégios dos políticos chegou ao ABC Paulista. Enquanto a greve de 92 dias se encerrava, professores de Santo André tiraram fotos denunciando os privilégios dos políticos e exigindo que todos ganhem o mesmo salário que uma professora.

Maíra MachadoProfessora da rede estadual em Santo André, diretora da APEOESP pela oposição e militante do MRT

sexta-feira 19 de junho de 2015 | 01:00

Durante a longa greve dos professores de São Paulo, um questionamento tomou as redes virtuais e os locais de trabalho e de estudo: a brutal diferença da vida dos políticos, que votam seus próprios aumentos salariais, e dos trabalhadores que com muito suor e muita luta se enfrentam com os governos para conseguir um salário capaz de suprir as necessidades de uma família.
Logo no início da nossa greve, a prefeitura de São Bernardo do Campo, gerida por Luiz Marinho do PT, cortou a merenda escolar das escolas municipais dizendo que era para combater a “obesidade” dos alunos da escola pública. Antes, os alunos almoçavam na escola e os pais tinham a certeza de que seus filhos estariam alimentados e bem cuidados enquanto passavam longas horas do seu dia trabalhando. O corte da merenda não tem desculpa, mas tem explicação!

No ABC a educação infantil, e a pré-escola para crianças de 4 e 5 anos, atende 67,14% das crianças, incluindo as redes municipal e privada, as creches atendem 24,20% e o ensino médio 69%. Em São Bernardo a prefeitura pagou 1,5 milhões para fazer 6 creches e o serviço não foi feito.

Cleuza Repulho, também do PT, é Secretaria de Educação da cidade e ao longo de seis anos no cargo, a secretária acumulou uma coleção de denúncias e problemas graves de corrupção. Uma das denúncias mais graves é o superfaturamento na compra de salsichas para a merenda escolar! Cleuza também é acusada de desvio de recursos públicos e formação de quadrilha na aquisição de tênis e mochilas para os alunos do ensino público.

A secretária recebe um bom salário oficial, sem contar é claro com o montante que recebe “por fora”, muito maior do que a prefeitura paga aos professores e funcionários de escola. Os auxiliares de educação que tem jornada de trabalho de 8 horas por dia, recebem mensalmente R$1800,00 e acumulam uma série de problemas na coluna, pois ficam horas com as crianças no colo já que a prefeitura não contrata dois professores por sala. Trabalhadores revelam que tem dia que chegam a trocar 70 fraldas fruto das salas superlotadas e da precarização do trabalho.

As merendeiras da cidade, terceirizadas, acumulam atrasos constantes do pagamento de salário e recebimento de vale transporte e alimentação. Contam com descontos indevidos de sua folha de pagamento e cumprem uma jornada extenuante de trabalho.

Vemos com esse quadro que a crise na escola pública atinge todos os níveis e que a corrupção do estado garante por um lado a boa vida dos políticos e por outro uma situação de miséria e carestia para alunos, pais, professores e funcionários. Essa situação tende a se aprofundar no ABC já que na região a crise na indústria vem gerando muita instabilidade e preocupação com o aumento do desemprego, que já chega a 12% na região.

Por que nós que trabalhamos duramente todos os dias temos que viver com um salário de miséria enquanto os políticos ganham fortunas?

Karl Marx conta que a Comuna de Paris de 1871 foi “formada por conselheiros municipais, eleitos por sufrágio universal nos vários bairros da cidade, responsáveis e revogáveis em qualquer momento. A maioria de seus membros era naturalmente de operários ou representantes reconhecidos pela classe operária. A comuna havia de ser um corpo parlamentar, mas operante, executivo e legislativo ao mesmo tempo (...) Desde os membros da Comuna para baixo, o serviço público tinha de ser feito em troca de salários de operários".

Por isso, para além do desafio dos políticos viverem como vivem os trabalhadores, o questionamento dos salários é uma porta aberta a questionamentos muito maiores dos privilégios, do suborno direto, dos altos salários, assim como da própria instituição do Estado - corrupta por natureza - a serviço da reprodução da desigualdade social e da dominação de uma minoria sobre a massa de trabalhadores e pequenos comerciantes. Essa é a democracia propagada pelo estado capitalista!

No Brasil, país da impunidade, os políticos mesmo depois de filmados recebendo dinheiro de corrupção respondem em liberdade. A corrupção afeta o conjunto dos partidos da ordem que atuam sem nenhum tipo de controle (nem formal como a eleição) frente a política econômica do país. Os representantes do Banco Central, Petrobrás, Receita Federal, BNDES estão do lado oposto do conjunto dos trabalhadores e contam justamente com um parlamento que existe somente para defender seus interesses.

Não tem dinheiro pra merenda, mas tem pros políticos

Luiz Marinho cortou a merenda em São Bernardo ao mesmo tempo em que anunciava o gasto de 2 bilhões de reais para a construção do Museu do Lula, queremos deixar claro que essa é a democracia dos ricos. Os governos cortam da educação, saúde, transporte e moradia para seguir garantindo os lucros dos empresários.

Enquanto cada função parlamentar (senado e câmara dos deputados) gasta por ano 1 bilhão de reais para viver sua vida de regalias, o Congresso Nacional, o senado e os parlamentares brasileiros votam as medidas provisórias 664, 665, a PL da terceirização, a redução da maioridade penal e a retirada do debate de gênero nas escolas. A campanha que fazemos para que todo político ganhe o mesmo salário que uma professora é para questionar esse estado de coisas e levar até o final o rechaço da população contra os políticos e seus privilégios e sua efetivação é a única maneira de transformar o parlamento burguês num corpo político que possa atender os interesses dos trabalhadores e não uma casta separada e privilegiada em relação ao conjunto da população.

Os professores devem ser exemplo na luta contra a corrupção

Consideramos um enorme avanço que no II Congresso da CSP-CONLUTAS essa campanha tenha sido aprovada e agora com o fim da greve essa discussão será levada a todas as escolas, mostrando que uma agitação como essa ganha papel decisivo em meio a enorme crise de representatividade e desgaste das instituições.

Os professores ao tomarem para si essa campanha podem mostrar que sua luta não é apenas salarial ou coorporativa, demonstra a necessidade de que os trabalhadores estejam a frente para responder a crise nacional da educação, aprofundada pelos milhares de escândalos de corrupção e pela falta de representatividade no parlamento.

Não defendemos que nossa luta seja para que todo professor ganhe o mesmo que um político, pois sabemos que esse nível de privilégios só pode existir porque é para poucos. Queremos que a maioria da população tenha uma vida justa e que todos possam com seu salário sustentar suas famílias, ter acesso a educação, transporte e lazer, isso só é possível acabando com a casta de privilegiados e não aumentando as regalias. Lutamos para que o salário do professor se eleve e seja o mínimo determinado pelo DIEESE (R$ 3,377,62) para uma família viver com qualidade.

No próximo sábado a executiva ampliada da subsede de Santo André se reunirá pela primeira vez depois do fim da greve. Consideramos que é muito importante que essa discussão seja feita no marco do balanço da greve e que todos os conselheiros e membros do combativo Comando de Greve que formamos nesses 92 dias de luta façam parte dessa campanha, politizando as discussões nas escolas e ajudando os professores a questionarem o que está para além da sala de aula.




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