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OPINIÃO | Freixo, Jean Willys, e PSOL estão em uma frente com senador petista denunciado na Lava-Jato

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quarta-feira 25 de novembro de 2015 | 00:00

Lindbergh abraçando Collor, Lindbergh era presidente da UNE na época do Fora Collor

Ontem, terça-feira, foi lançada a Frente do Povo Sem Medo na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Presidiram a mesa do evento os deputados do PSOL Marcelo Freixo, Jean Willys, Chico Alencar. A presença anunciada do senador petista Lindbergh Farias foi amplamente divulgada nas redes sociais pelo mesmo e pela frente. O mesmíssimo senador denunciado por envolvimento na Lava Jato e que era combatido pelo candidato a governador do PSOL, Tarcísio Motta como "um dos quatro cabrais".

Em nome de combater a direita e o conservadorismo esta frente não está somente blindando o governo Dilma de críticas, não está somente ignorando as mobilizações como fez na mesma UERJ ao ignorar a manifestação de centenas de estudantes, como está jogando fora todo perfil discursivo de independência política da casta governante do Rio de Janeiro (sem nunca ter elevado o mesmo tom em relação a Dilma, PT, e o governo federal). Este discurso político, sem desenvolver efetivamente uma força militante que apoiasse as mobilizações, as greves, limitando-se a discursos midiáticos e não na estruturação nos locais de trabalho e estudo de uma verdadeira força anticapitalista, foi, mesmo assim um fator de atração de votos a Tarcísio e outros candidatos do PSOL. Passado um ano e pouco o PSOL está disposta a costurar todo tipo de acordo político com quem ele mesmo combatia meses atrás. Esta "novidade" de 2015 já havia se mostrado em 2014 quando os parlamentares do Rio se engajaram de cabeça na campanha de Dilma. Hoje o episódio eleitoral de outubro virou uma frente permanente. Tudo em nome de combater a direita, mas também, é evidente, costurando acordos de boa convivência funcionais tanto ao próprio PSOL como ao PT nas eleições de 2016.

Quais denúncias pairam sob Lindbergh

O senador petista é acusado de receber propina via doações legais de empreiteiras da Lava Jato. Ele nega que seriam propinas, mas "doações legais". A partir de roubos na Petrobras, obras e contratos superfaturados estas empreiteiras garantiam o enriquecimento dos sócios na corrupção e por vias ilegais ou legais (doação registrada) favoreciam determinados padrinhos políticos. Lindbergh entre eles.

O senador não nega ter ido buscar doações na sede da Petrobras, não da própria estatal, proibida por lei de patrocinar algum político mas das empreiteiras contratadas por ela. Um negócio um tanto obscuro feito em plena Avenida Chile no centro do Rio...mas segundo ele "de fato, você pode até dizer que é impróprio. Só que não é ilegal." (entrevista à Folha de São Paulo em 8/3)

Lindbergh tal como muitos políticos deste regime político de ricos e para os ricos tem um senso "particular" do que é justo ou não. Algo digno das explicações de Cabral sobre suas viagens nos jatinhos de Eike Batista e passeios de bicicleta com o empreiteiro Cavendish em Paris.

Com este tipo de político pode-se combater a direita?

Lembrando o discurso de Tarcísio que "mitou"

A fala de Tarcísio Motta naquele debate de TV quando acusou Crivella, Garotinho, Lindbergh e Pezão de serem "4 Cabrais", "mitou" para usar uma expressão da internet. Viralizou em comentários e expressava profundamente a denúncia de um estado sob o rescaldo de junho de 2013 e que em uníssono repudiava o ex-governador. O herdeiro político de Cabral, Pezão, se esforçava para mostrar-se de alguma forma que não fosse a continuidade do governo do qual foi vice-governador. Garotinho bancava o opositor enquanto havia apoiado até recentemente o governador. Lindbergh bancava-se opositor mas não mostrava como o PT sempre apoiou Cabral e seguia apoiando (até hoje) o prefeito Eduardo Paes.

O PSOL carioca conta com a memória curta dos trabalhadores e da juventude. Quer fazer um inimigo de ontem virar um parceiro, um aliado em uma frente de mobilização, só não se sabe qual e contra quem. Contra os muitos "Cabrais" da política carioca e nacional que não será.

Para 2016 vale tudo??

O pano de fundo deste acordo com quem era inimigo ontem não é um verdadeiro combate à direita. Não se combate a direita junto a partidos burgueses, como os que compõem esta frente como o PDT, REDE, PSB e parlamentares do PT. Não se combate a direita erguendo como parceiros "progressistas" políticos denunciados em corrupção.

O que na verdade está em jogo é o começo do costurar de alianças em 2016. O PT teoricamente apoiará o PMDB em 2016 para a prefeitura carioca, nem poderá deixar de fazê-lo sob pena de tornar ainda mais frágil sua base de sustentação no governo federal. Mas em meio a diversas denúncias afetando todos principais candidatos como o agressor de mulheres Pedro Paulo e a notoriamene corrupta família Picciani, o PT terá resistência de seguir abraçado com o partido de Cunha, Temer, Pezão e Paes. Nada mais agradável ao PT fazer o que já fez em 2012, formalmente ter uma candidatura mas liberar sua militância para apoiar Freixo, de quebra com isto buscar salvar sua imagem de progressista com uma parcela do eleitorado carioca e nacional e mais importante, "na hora H", como no segundo turno de 2014 Freixo não faltou a seu lugar de retribuir o favor e suou a camisa para defender em praça pública "o mal menor" nem que para isto teve que passar por cima de resolução de plenária do PSOL carioca que proibia os militantes de se engajarem em campanhas no segundo turno...

O PSOL abraçado a um ou mais dos "Cabrais" de ontem tem a ganhar não somente votos nesta operação, mas também ganha por oferecer à burguesia uma cara menos radical, que torne mais aceitável que vençam alguma capital importante, como o próprio Rio. Tornar-se aceitável à burguesia e ao regime político brasileiro vai na contramão daqueles discursos de Tarcísio. Vai também na contramão da necessidade de mobilização dos trabalhadores e da juventude que tem que derrotar não somente a direita mas também o PT, Lindbergh incluído.




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