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LUTA DE CLASSES NA FRANÇA | França: o movimento de luta contra a reforma trabalhista continua e pode se radicalizar

Poucas vezes um movimento social durou tanto tempo na França. Nesta quinta-feira aconteceu o 14º dia de greves e de mobilização desde a primavera. A luta segue.

terça-feira 20 de setembro de 2016 | Edição do dia

Ainda que dezenas de milhares de pessoas tenham saído às ruas, o governo e os meios de comunicação retomaram os velhos métodos: dizem que a jornada de mobilização foi “modesta”; ou que se trata “da última cartada”. Ou inclusive mais, segundo eles esta jornada jamais existiu. Black out. Mas o que contradiz este conto é o fato incontestável de que o uso dos CRS (polícia antidistúrbios) foi enorme nas principais cidades e que a repressão foi muito violenta em Paris.

Como é habitual, foi a cidade Le Havre a que abriu o baile das manifestações com ao redor de 12.000 trabalhadores e jovens encolerizados nas ruas da subdelegação do governo do município Sena-Marítimo que voltou a se transformar, uma vez mais, na capital da greve ou inclusive da luta contra a repressão.

Com exceção de Paris, com 40.000 pessoas, as manifestações foram mais modestas no resto dos lugares, mas estiveram compostas por centenas de grupos sindicais combativos e pela juventude: um pouco menos de mil pessoas na comuna de Saint Nazaire, mais do que esperavam os sindicatos, com uma forte participação operária, incluída a presença dos portuários entre outros setores. 3.000 em Rennes e mais de 1.000 em Nantes; e em ambos casos as provocações policiais estiveram muito presentes. Nos lugares onde a mobilização tinha sido mais fraca, o calendário “social” recomeçou, como é o caso da cidade de Belfort, onde 2.000 pessoas marcharam em apoio aos trabalhadores da Alstom.

E, no entanto, ao longo de duas horas, aconteceu um verdadeiro black out midiático em relação à jornada de quinta-feira. Se antes, com Sarkozy, a mídia difundia a mensagem de que “a rua não deve governar”, com Hollande, diretamente “não existe”. Enquanto nos manifestamos por todas as partes, faz apenas 8 dias que a Ministra do Trabalho recebia a CFDT (Confederação Interprofissional de Sindicatos Franceses de Trabalhadores), que exige os decretos de aplicação rápida. Por que tanta vontade de que nada se mova?

Paralelamente, as provocações por parte da polícia, assim como a repressão, foram muito duras contra o cortejo parisiense, e especialmente contra o movimento estudantil que o governo quer neutralizar de uma vez por todas. Para fazer esquecer a violência dos tiros repetidos e das inúmeras granadas lançadas para dispersar a manifestação, os meios de comunicação abordam a mobilização parisiense, e isto só nos casos que mencionaram a jornada de luta, tomando unicamente a notícia do policial antidistúrbios que foi ferido.

O que os analistas mais lúcidos temem é saber que, apesar de um enfraquecimento real em relação às grandes manifestações da primavera (mas de um aumento em relação à que aconteceu em 5 de julho), a questão da Reforma Trabalhista pode se transformar em um movimento permanente até as eleições e que pode adquirir, cada vez mais, formas mais radicais.

Como fazer para que o movimento não se afogue em uma multidão de armadilhas sobre o terreno; controladas pelo alto por um “combate jurídico” que é carregado de “questões prévias de constitucionalidade” é muito provável que não possamos obstaculizar mais do que alguns dos decretos de aplicação e não os principais? [Esta linha é defendida pela burocracia sindical.]

Faz falta que a frente sindical se mantenha unificada: isto é o que deu força a nosso movimento. É também por isso que independentemente de uma nova data de mobilização, que alguns asseguram que está próxima, nos faz falta manter o essencial nos métodos: o que faz forte a mobilização em Le Havre é a massividade do movimento tendo em conta a importância da cidade. O que fez forte a manifestação de Belfort, nesta quinta-feira, foi o apoio massivo aos trabalhadores da Alstom, que estão ameaçados com o fechamento. o que permitiu o êxito, alguns dias atrás, da greve da fundição de Poitou foi a greve dos CDI (contratos indeterminados) pela contratação e efetivação de todos os precários da fábrica.

Estes três ingredientes combinados voltariam a dar ar ao movimento. Uma nova onda na qual a juventude poderia cumprir um papel determinante como força de impulso, ligando a luta pela revogação da Reforma Trabalhista a outros terrenos, como a luta contra a precariedade estudantil, contra o racismo ou contra o serviço militar.

Um vento fresco que poderia ser também uma ginástica para o movimento operário. Uma das condições necessárias para esta nova onda é também a luta contra a repressão, assim como contra a patronal e o governo. E as ações ligadas à luta contra a repressão da primavera são numerosas. Na presente data, começando pelos dias 19 e 20 de outubro em solidariedade com os camaradas da Goodyear que irão a julgamento e que chamam uma ampla concentração.

Aqui está a perspectiva que deve-se defender contra todos os demagogos perigosos. Por um lado, nesta quinta-feira Hollande colocou como hipótese um governo de “grande coalizão à la Alemanha”, ou seja, a soma do PS (Partido Socialista de Hollande)-LR (os republicanos de Sarkozy), para se oporem à FN (Frente Nacional de Marine Le Pen).

Frente a esta declaração de impotência que aparece no cenário político do regime, a FN se perfila como partido “antissistema”; mas temos visto como se colocaram na defensiva quando os trabalhadores saíram às ruas. Depois da primavera; o verão foi desastroso e a demagogia racista e islamofóbica voltou a crescer.

Coordenar e reforçar o movimento a partir das bases atuais; esta será a melhor via para se opor à ofensiva reacionária em curso do governo e daqueles que fazem seu jogo, com Marine Le Pen à frente.




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