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25M | França: milhares de mulheres nas ruas contra a violência de gênero, em plena ofensiva de segurança

25 de novembro, dia internacional de luta contra a violência contra as mulheres, tendo como cenário a crise sanitária e econômica, acompanhada por uma escalada repressiva do governo Macron, milhares de manifestantes se reuniram em várias cidades da França, apesar do confinamento.

sexta-feira 27 de novembro de 2020 | Edição do dia

O movimento internacional de mulheres lançou uma nova luz sobre o tamanho e a multiplicidade da violência contra as mulheres e, acima de tudo, sobre a violência sistêmica do patriarcado, que está longe de ser uma opressão individual. No dia 25 de novembro, dia internacional contra a violência à mulher, aconteceram, em várias cidades da França, diversos atos e manifestações.

Este dia de luta internacional ocorre em um contexto muito especial: o da pandemia global, que acelerou uma crise econômica sem precedentes em que, na França, estamos testemunhando uma verdadeira gestão policial da crise sanitária por parte do governo. Frente a um discurso islamofóbico, que se concretiza no projeto de lei do separatismo, prestes a ser votado na Assembleia, o governo faz uma instrumentalização nauseante da luta feminista para justificar esse giro xenófobo e profundamente racista. Em vários atos manifestou-se a indignação, em particular, contra o “governo da vergonha”, colocando “um estuprador como cúmplice da justiça”. Isso em um cenário de aumento crescente da violência de gênero, devido às restrições repressivas e autoritárias postas em prática por governos em todo o mundo. Enquanto o governo tenta dialogar com o 25 de novembro, após um ano do "Fórum contra a violência doméstica”, foram realizadas apenas algumas medidas de fachada, fora o aumento do orçamento para a polícia, mas, algumas correntes feministas reafirmaram a necessidade de se mobilizar nas ruas e de se organizar com total independência do Estado.

Por outro lado, a gestão governamental da crise sanitária foi e continua sendo catastrófica: com a gestão policial da crise sanitária, que é acompanhada por um reforço drástico da força policial, e da Lei de Segurança Global, entre outros, despertou reações especialmente nos sindicatos de jornalistas e entre certas frentes da juventude que foram para as ruas. Esta crise sanitária, econômica e social, levou milhões de mulheres e LGBTI a uma situação de extrema precariedade e, ao mesmo tempo, coloca setores inteiros do mundo do trabalho, especialmente feminilizados, na linha de frente da gestão de crises.

Milhares de pessoas na França para dizer: “pare com a violência contra as mulheres”

Toulouse

A mobilização foi impressionante em Toulouse. Preparada durante vários meses por iniciativa de muitos coletivos feministas e, em particular, da assembleia "Todas em greve", o dia 25 de novembro viu 5.000 pessoas marchando no centro da cidade.

Atrás de um cortejo liderado por grupos de mulheres, numerosos cortejos sindicais, de políticos e de associações. Contou com trabalhadores da saúde e da educação, relembrando a luta contra a islamofobia estatal e pelo direito das mulheres e meninas se vestirem como desejarem, ecoando a polêmica liderada por Blanquer sobre as “roupas republicanas” nas escolas de ensino fundamental e médio. As ativistas Du Pain et des Roses estiveram presentes para reafirmar a responsabilidade do Estado e dos patrões, que continuam a nos tornar vulneráveis ​​e a nos reprimir. Ironicamente, em Toulouse, a força policial, que acompanhava esses milhares de manifestantes, começou a reprimir assim que a manifestação foi dissolvida.

É notável a presença cada vez maior de feministas latino-americanas nas manifestações de Toulouse e, em particular, da comunidade chilena, que ocupa um lugar importante na história e na população da cidade rosa. Assim, em uma sequência comovente, os manifestantes se reuniram para cantar a Cancion sin miedo.

Paris

Aconteceram vários atos na região parisiense, na République, em Saint-Denis, Saint-Michel e Montreuil, onde várias centenas de pessoas se mobilizaram. Apesar do confinamento, esses atos foram convocados por vários sindicatos, feministas ou mesmo partidos políticos e reuniram, especialmente, muitas jovens.

Paris

Em Paris, o caso de Julie, em torno da ação Justice Pour Julie, foi destacado como um símbolo da violência institucional e judicial infligida às mulheres vítimas de violência. Corinne Leriche, mãe de Julie, interveio com várias falas para fazer ouvir a sua voz e as das vítimas de violência sexual, e para travar esta longa luta, agora de quase dez anos para obter justiça para a sua filha que foi vítima de estupro, cometido por vinte bombeiros.

Iniciaram, aos pés da Estátua da República, uma rodada de falas após relembrar o contexto particular em que se insere esta jornada e a importância de não "limitarmos nossas lutas feministas". Em seguida, seguiram-se os Union Solidaires, Attac, o CNDF, os Effrontées, bem como as intervenções da France Insoumise e do NPA. Os atos foram uma oportunidade para colocar também sobre mesa a “remodelação da vergonha”, que suscitou uma forte reação no movimento feminista, assim como o vergonhoso registro de um governo que se gabava por colocar as mulheres como o principal objetivo de seu mandato de cinco anos. Outro elemento da mobilização muito presente diz respeito à virada repressiva do governo, com a Lei de Segurança Global e a impunidade policial.

Nantes

Em consonância com a ofensiva de segurança do governo, e enquanto as imagens da evacuação terrivelmente violenta da Place de la République em Paris ainda estavam na mente de todos, os manifestantes em Nantes sofreram forte repressão.

Bordeaux

Em Bordeaux, centenas de pessoas se reuniram em frente à Câmara Municipal, com a presença de muitos jovens e de diversas organizações, antes de partirem em manifestação.

A gestão autoritária e de segurança da pandemia, que colocam o lucro antes de nossas vidas, passaram a cumprir o papel de acelerar a violência contra as mulheres e têm servido de pretexto para o Estado fortalecer seu arsenal repressivo, racista e islamofóbico, o que agrava a violência que é feita aos mais precarizados. Com o coletivo Du Pain et des Roses, analisamos a violência contra as mulheres em sua manifestação mais dramática (violência sexual, estupro, feminicídios ...) como o último elo de uma longa cadeia de violência, que se enraíza em um sistema capitalista patriarcal que procuramos combater.

Diante da ofensiva de segurança do governo e da crise econômica da qual as mulheres, muitas vezes, são as primeiras vítimas, é importante que as feministas exijam a retirada da Lei de Segurança Global, como a do projeto de lei ”reforçando os princípios republicanos”. Chamamos todas as organizações feministas, anti-racistas, jovens e do movimento trabalhista a se posicionarem e a construir uma frente única contra esses projetos que são ataques contra a maioria das mulheres. Esta é uma luta essencial que, acreditamos, deve ser travada sem negociações, com total independência do governo e de suas instituições, pelo futuro das mulheres, da juventude e de nossas futuras batalhas.




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