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FRANÇA | França: “mesmo se Berguer não quiser, a base está aqui!”, canta em palavras de ordem um cortejo de militantes da CFDT

Nesta sexta (24), blocos de militantes da CFDT estão presentes dentro do ato chamado por toda Paris. E sua mensagem é clara: “Estamos aqui, estamos aqui, mesmo se Berger não quiser, a base está aqui”. Essa é a ilustração baseada num fenômeno mais profundo que remete não só à linha de Berger. Uma franja dos militantes da central sindical recusam a “vitória da idade pivô” e o jogo de negociações em curso. Os cartões da CFDT começam a ser rasgados.

sexta-feira 24 de janeiro de 2020 | Edição do dia

Por Philomène Rozan

Nesses últimos dias, a CFDT está no centro da atenção midiática, pois as sedes dos locais da central sindical foram atacadas por grevistas. E esses tipos de ataques não começaram agora. Há uma semana atrás, houve a ocupação de sedes em Paris pelos grevistas da coordenação de ferroviários e rodoviários, lembrando que desde 5 de dezembro é a base que faz a greve, e que eles a fazem para que seja totalmente retirada a reforma previdenciária, e que está, portanto, fora de questão que pessoas como Berger, que não as representa, faça negociações de demandas que os trabalhadores não querem, e ainda por cima, em nome da classe. É nessa linha de ação, e contra a repressão e as condenações que ela engendrou pela parte da classe política e de certas direções sindicais, que os grevistas da energia cortaram a eletricidade na sede, em que declararam num comunicado feito no local: “aqui perdeu-se a eletricidade e foi por causa da colaboração de classe que ela se encontra na escuridão”. Portanto, são ações que condenam notavelmente a linha colaboradora da CFDT com o governo.

Por sua vez, Laurent Berger, se apressou para responder que o movimento da base “é inaceitável. Não precisam estar de acordo com a CFDT, estamos numa democracia, mas tem que se reconhecer que ela representa 620.000 filiados”. Porém, Marlyne, metalúrgica da CFDT, lhe respondeu claramente: “Esse é o principal sindicato da França, mas se as pessoas forem embora, ele (Berger) não terá ninguém nas equipes sindicais para votar na CFDT nas eleições profissionais”. Berger se apoia sobre os sindicalizados da CFDT para condenar essas ações. Mas, o que acham os sindicalizados da CFDT da política de Berger dentro do movimento grevista?

Nós, como outras redes midiáticas, perguntamos aos trabalhadores, e a resposta não vai agradar Berger

Entre os sindicalizados, já há algum tempo, cartões da CFDT estão sendo devolvidos, jogados fora ou mesmo rasgados, “reduzidos a confetes” ou simplesmente queimados. Um fenômeno que não surgiu do nada, pois foi resultado de uma reivindicação feita pelas bases locais da CFDT - e também por ações individuais - para que continuasse a convocação da greve dos dias 5 e 17 de dezembro, e a de 9 de janeiro.
Isso pôde ser visto, por exemplo, na seção do hospital psiquiátrico do Rouvray, no bairro de Rouen, que entrou em greve e participou pela primeira vez de uma manifestação, como chamou a atenção a TV France 3 Normandie. Esse também foi o caso de Michel Tanner, assistente social de Nancy e então sindicalizado pela CFDT: “Participo da greve contra a reforma previdenciária. Da mesma forma vou para as manifestações. Fiz dois dias de greve em dezembro e muitas em janeiro”.

O fato que a direção da CFDT criou literalmente, sobre a história da “vitória”, através da colação de pequenos cartazes depois do acordo pela retirada provisória da “idade pivô”, não colou. Isso é o que diz Jean-Louis, professor que devolveu seu cartão justamente depois dessa declaração: “É difícil de compreender porque a CFDT aceitou isso”. É o caso também de Jean-Louis Alfred, representante da CFDT do grupo têxtil Vivarte, que com suas responsabilidades sindicais locais na região de Indre declara raivoso: “Minhas posições são claras, eu acho tudo isso escandaloso. Criam-se vitórias quando elas já tinham sido preparadas”. E esse desacordo com a linha imposta pela direção também se expressa na fala de Michel: “Muito bem, a confederação CFDT é favorável à retirada parcial da reforma, mas não toda. Sou pela retirada dessa reforma inaceitável e que não deve passar porque ela constitui uma mudança radical da sociedade, em que a previdência será entregue ao poder do dinheiro”. À base da CFDT também a questão da retirada total se faz presente, pois ouvimos da boca de muitos grevistas que desde 5 de dezembro se encontram em ação, portanto, a história da idade pivô não convenceu.
Michel segue: “Laurent Berger não está feliz de defender a retirada total, por isso ele participou dessa comédia da idade pivô. Quis manobrar para enfraquecer o movimento no qual ele jamais participou. E é isso que não o faz leal aos interesses dos assalariados e de outros sindicatos!”

Isso que foi demonstrado não se constitui apenas como uma palavra de ordem, mas também expressa o método, a estratégia para ganhar. O que Michel disse sobre “participar da comédia da idade pivô”, é em realidade toda uma estratégia de colaboração de classe que foi posta de forma nua e crua, e também profundamente criticada. Inclusive o jornal Médiapart destacou esse fenômeno, ao afirmar que: “Sobre a condição de anonimato militantes afirmam que a CFDT não buscou mobilizar os trabalhadores do setor privado”. Essa recusa em mobilizar, em entrar na batalha e por não convocar ações com um plano sério para muitos não passa.

Esses setores que fizeram greve e que convocam em seus seguidos comunicados para que seja retirado o projeto de lei instituindo um sistema universal de aposentadoria são a imagem de uma dinâmica de ruptura entre a direção e a base. Stéphanie, depois de trinta anos na CFDT, nos disse que o sindicato “não escuta mais a base”. Jean-Louis Alfred, o representante da central na região de Indre, igualmente destaca: “No caso dos filiados locais, há um sentimento sobre essa questão, de que a direção federal representa apenas a ela mesma e está desconectada da base”. E com essa constatação ele também resolveu deixar a CFDT: “Eu tenho a luta na Vivarte para terminar, mas depois disso devolverei meu cartão, isso é uma evidência”.

O descompasso crescente entre a política de colaboração de classe de Berger e as aspirações da base em acabar com a reforma se fazem sentir. A CFDT não escapou da dinâmica que tem marcado a greve contra a reforma da aposentadoria: a voz da base que dá o tom e a cor do movimento. E se em todos os sindicatos muitas direções que negociam sobre as costas dos grevistas são compreendidas, no caso de Berger não acontece o mesmo, e por ele escutar mais o governo do que os sindicalizados, a separação aumenta e os cartões da CFDT continuam a ser rasgados.




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