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OPINIÃO | Filmes: uma memória e força para pensar o cotidiano

Desde o início do século XX, as mulheres vêm lutando para ganhar seu espaço político, social e profissional no cenário capitalista construído pelos expoentes burgueses do final do século XIX. Numa sociedade caracterizada por grandes limitações e premissas de conduta social muito bem estabelecidas, no qual as mulheres das classes mais abastadas eram educadas para serem boas esposas e, nas classes proletárias, exploradas como a mão de obra mais fraca, junto com seus filhos, o movimento feminista obteve várias vitórias, tristes derrotas e uma história marcada por muita luta e sofrimento. Subjugadas de todas as formas, principalmente intelectualmente (um dos argumentos usados para manter as mulheres fora da política era que sua capacidade intelectual era inferior à masculina), as mulheres se juntaram para conquistar seus direitos intrínsecos.

domingo 22 de outubro de 2017 | Edição do dia

Nesse cenário, a arte do cinema desempenha até hoje um importante papel como veículo dessa história. Cineastas fazem uso da indústria cinematográfica para evidenciar, com grande sensibilidade, as várias mulheres que construíram, e ainda constroem, os alicerces da liberdade de pensamento, sexual e profissional que esperamos que um dia todas tenhamos. Ainda que sabemos, o que é a indústria cinematrográfica e cultural, que faz muitas vezes com que os filmes que contam essas histórias não sejam veiculados amplamente, ou mesmo distorcem o que aconteceu. Porém, ainda assim, temos alguns exemplos de filmes que fogem a esse padrão e que na verdade nos ajudam a pensar e nos inspirar nesses exemplos.

Pensando nisso, juntamos alguns filminhos especiais para, no escurinho do cinema, pensarmos e nos inspirarmos nesses fortes exemplos que fazem parte da identidade de todas nós!

A cor Púrpura, filme de 1985 baseado no romance de Alice Walker, conta a história de Celie na Georgia de 1909, em uma cidade pequena. Depois de ter sido violentada por seu pai e separada de sua irmã, quando é vendida para Mister, que vai a tratar como uma escrava com muita violência física, sexual e psicológica. O que na verdade a mantém sã é a possibilidade de reencontrar a irmã, e as cartas que escreve em que conversa com ela. Sempre muito solitária, Cellie segue sua vida com a possibilidade se reencontrar com a irmã Nettie. O filme de forma muito sensível e ao mesmo tempo duro, mostra o racismo e o machismo muito presenta nos EUA, mostra os lugares destinados aos negros, e como eram as relações as mulheres negras, e muitas que viviam atreladas aos pais ou maridos e completamente submissas a isso. Entender essa dura realidade, é parte de pensarmos o racismo e o machismo naquela sociedade.

Esse ótimo filme francês conta com a participação de Sandrine Kiberlain, uma das atrizes preferidas do falecido Resnais, no papel de Simone de Beauvoir, e Emmanuelle Devos, atriz com participações como coadjuvante em filmes tais como”Coco antes de Chanel” e “Ervas Daninhas”(tbm de Resnais), como a escritora Violette Leduc. Leduc foi uma escritora que, apesar de não ter alcançado grande evidência, traçou novos caminhos na expressão da vida de uma mulher sozinha, bissexual, na sociedade francesa nos períodos da ocupação nazista e do pós guerra. Com uma forte história de vida, que se inicia com sua primeira paixão, subversiva na época, por sua colega de internato, seu casamento contraditório com um grande amigo gay e sua atuação no mercado negro de mercadorias(como comidas e roupas ) para se sustentar durante a ocupação nazista na França, os textos de Leduc chamaram a atenção de Simone de Beauvoir. Procurando fortalecer a literatura feminista, Beauvoir logo se torna patrona de Violette, inserindo seus livros nos círculos intelectuais franceses da época. Filme imperdível!

Em “Jornada da alma” assistimos sobre a incrível história de Sabina Nikolayevna Spielrein, uma das primeiras psicanalistas da história. Internada aos 19 anos com grandes traumas psicológicos devido à perda da irmã, ficou sob os cuidados de Carl Jung, aprendiz da nova escola de Sigmund Freud. Uma de suas primeiras pacientes tratadas sob o novo método psicanalítico, mais pessoal, apesar de ter superado seu trauma, Sabina desenvolveu uma paixão obsessiva por Jung. Mesmo com todos os seus conflitos, a sua grande inteligência e habilidade de percepção possibilitou que ela aprendesse o método com o qual foi tratada, graduando-se em medicina pela Universidade de Zurique no campo de Psicanálise, e o aplicasse no ensino infantil em Moscou, numa escola apelidada de “o berçário branco”.

Após a tomada de poder por Stálin, sua escola de ensino de vanguarda foi fechada e ela, perseguida. Seu próprio marido foi assassinado durante o período de perseguição. Durante a segunda guerra, por ser judia, foi morta pelas nazistas na cidade onde nasceu.

A linda fotografia, perfeita reconstituição histórica e ótima trilha sonora tornam esse um filme inesquecível sobre a vida e luta de uma forte mulher.

As sufragistas é um filme que vai contar sobre o movimento feminista na Inglaterra quando as mulheres estavam lutando pelo seu direito ao sufrágio universal. Um movimento que esteve muito presente e envolveu umm setor importante das trabalhadoras têxteis da época, que além de não terem seus direitos iguais, tinham que lutar pelo seu direito ao voto e lidar com o assédio cotidiano. O filme vai mostrar isso, e como as mulheres se organizaram contra o parlamento, e a partir da desobediência civil, quebra de vidraças, caixas de correios, foram mostrando para que veio. A trama vai mostrar a força da organização das mulheres, mas principalmente a força que tiveram as operárias nesse momento.

Pride é um filme que nos ensina uma lição bastante importante, um filme carregado de muito drama, e mostra uma realidade bastante difícil na Inglaterra de Margharet Thatcher. Uma forte greve de Mineiros está ocorrendo e um grupo de Gays e Lésbicas começam a perceber que a polícia por conta da greve não está mais indo atrás deles, porque agora está ali para reprimir e tentar acabar com a greve. Dessa maneira, eles começam a organizar um fundo de greve para os mineiros, porém se deparam com uma importante barreira que é o enorme preconceito existente. Com isso, encontram um grupo de mineiros dispostos aos receber e pegar as suas doações, e nisso o filme vai nos ensinando como é poderosa a aliança que se dá entre os setores oprimidos e a classe trabalhadora e como os seus interesses andam na verdade lado a lado.




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