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IMIGRANTES HAITI | Fetiere Sterlin, 33, haitiano, assassinado no Brasil

Todos os dias lemos notícias dizendo que em qualquer outro continente – menos o nosso –refugiados migram e acabam sendo mortos pelas intempéries do caminho, pelas péssimas condições ou pela própria repressão do país de destino. Desta vez conto do caso de Fetiere Sterlin, refugiado no Brasil há 4 anos devido às condições desumanas em que seu país se encontra em parte devido à presença de tropas brasileiras da ONU, que massacram, estupram e reprimem o povo haitiano há quase 12 anos com o aval do governo Lula e depois, Dilma.

terça-feira 20 de outubro de 2015 | 23:51

Na noite do dia 17 de outubro, quando saía de uma festa junto a sua esposa, Vanessa Nery, e o amigo também haitiano, Fetiere e seus acompanhantes foram abordados por um grupo de adolescentes que os xingavam de ‘macici’ (palavrão em francês criolo que significa “viado”) e após alguns minutos, foram abordados pelo mesmo grupo portando facas. Segundo Vanessa, os mesmos desse grupo instantes depois "Voltaram com faca, barra de ferro, pá e voltaram para agredir a gente. Não houve uma discussão. Veio um em cima de cada um de nós quatro, e os outros foram todos para cima do meu marido, e começaram a esfaqueá-lo". Fetiere morreu no local.

A cidade de Navegantes, litoral de Santa Catarina, próxima ao Balneário Camboriú, jamais havia testemunhado uma agressão que levasse à morte, mas já havia visto outros casos de agressões a haitianos, verbais e físicas, dentre as quais a tentativa de assassinato de um imigrante que após ter sobrevivido aos cinco tiros que levou, desistiu de viver no Brasil.

Infelizmente, apesar de seu discurso pró imigração e de boas vindas aos povos refugiados, o governo brasileiro é o principal responsável, no caso do Haiti, por este país ter chegado a uma situação de calamidade pública. Afinal, apesar do que se diz, o terremoto de 2010 foi um pequeno catalisador de uma crise histórica enfrentada pelo povo haitiano.

Exigimos justiça a Fetiere Sterlin e a todos os refugiados assassinados, agredidos e hostilizados no Brasil, assim como um combate de classe por parte dos trabalhadores com campanhas anti-xenófobas em todos os sindicatos e entidades estudantis. Basta de assassinatos e xenofobia! O Governo Brasileiro é o culpado!

Porque os haitianos fogem do Haiti?

A verdade nua e crua é que nem Europa nem Estados Unidos foram capazes de aceitar que esse país levasse um futuro imaculado após ter realizado a única Revolução Negra de todo o mundo. Tal Revolução, que se inicia em 1791 com a revolta de escravos que acaba por colocar esses mesmos escravos com controle sobre 1/3 de toda a Ilha, leva a que a França responda à revolta enviando mais 6000 soldados para conter a Revolta.

A resposta francesa não obtém resultados, e apesar de repetidos esforços de repressão por parte da França e da Inglaterra, a Revolução Haitiana acaba em 1804 declarando o país livre do colonialismo e decretou-se república livre de escravidão e com um governo próprio. É de pasmar que a própria França que vivia nesse mesmo período suas lutas revolucionárias, o que aprofunda ainda mais as ideias de liberdade, igualdade e fraternidade em um poço de contradições sem fim. A nascente burguesia, que passava a buscar representatividade política comparável ao seu já fortíssimo poder econômico, mandava assim uma mensagem a todos os países e ilhas colonizadas por ela: a liberdade, a igualdade e a fraternidade retringe-se a uma classe de um único povo: o branco. Para financiar essa dita “liberdade”, afogariam em sangue as correspondentes lutas de liberdade em todas as suas colônias.

Desde 1825, o governo norte americano associado aos impérios franceses e britânicos, já estabelecia um preço para a liberdade haitiana, levando a que o país fosse multado em 150 milhões de francos suíços, que faliu o tesouro do Haiti e o relegou desde então a uma situação de profunda dependência econômica dos EUA, sendo sujeita a entrada de tropas imperialistas americanas – ou da ONU, que não muda muita coisa – em seu território para “regular” suas relações internas e manter em silencio um povo com tamanha tradição de revolta. Desde 2004, é o Brasil que com a Minustah – tropas brasileiras da ONU – atualiza o processo colonizatório do Haiti à serviço dos interesses norte-americanos e da burguesia brasileira, a quem o silêncio e o sofrimento dessa nação negra revoltosa serve muito subjetivamente para calar sua própria massa negra revoltosa.

A prova da relação entre a repressão do povo Haitiano e a repressão do povo negro brasileiro se dá no fato de que para realizar de maneira efetiva as ocupações dos morros cariocas e soteropolitanos pelas UPPs, os governos estaduais e federais contaram com as experiências das tropas brasileiras enviadas ao Haiti. O resultado não poderia ser diferente: crianças e jovens assassinados, famílias desmanteladas, negociatas com o tráfico de drogas e uma situação atual de permanente vigilância e repressão.

Agora, imaginem a situação desse país. Como em diversos veículos de mídia já foi dite: para se sujeitar à possível morte indo a outro país ou dentro dele, a situação em seu país deve ser muito pior.

É necessário que se denuncie efusivamente o governo PT, responsável pela instalação e manutenção das tropas brasileiras no Haiti, exigindo a retirada imediata das tropas e o fim da dívida pública sobre o país. Para reconstruí-lo após o desastre de 2010, é preciso um plano de obras públicas apoiado internacionalmente pelos trabalhadores, negros e brancos, de todo o mundo, e levado adiante pelas organizações sindicais e de trabalhadores do povo haitiano.

Porque os haitianos estão em Santa Catarina?

Desde o ano de 2010, quando o terremoto do Haiti deixou mais 220 mil mortos e 1,5 milhão de desabrigados, “o Brasil emitiu 12.352 carteiras de trabalho para haitianos. Desse total, 5.670 estão registrados e trabalhando atualmente - mais da metade na região Sul” . A razão disso é que na Santa Catarina há um dos principais polos da agroindústria, que como uma produção necessariamente de baixo custo, contam com a “vantagem” de contratar trabalho precário para manter lucro e baixo valor de venda.

Numa situação de colonização do Haiti, matam-se dois coelhos com uma cajadada só. Ao passo que se mantém sob tiros e sangue uma situação de “passividade” do povo haitiano, as empresas enviam representantes a Brasileia e Epitaciolândia – que registram a entrada de quase 100% dos refugiados haitianos no Brasil, ambas na região do sul do Acre – onde “angariam” operários dentre aqueles que chegam ao Brasil com a esperança de escapar da miséria: “Semanalmente, em média três empresas enviam representantes para recrutar haitianos em Brasileia. O perfil ideal é o de homens que deixaram a família no Haiti. A maioria das empresas oferece moradia e alimentação nos três primeiros meses e transporte do Acre para Santa Catarina em um ônibus. Segundo empresários da região, o custo de 2.000 reais por haitiano compensa pela escassez de mão de obra para trabalhar em frigoríficos e a economia com a automação da produção.”

Parece piada, mas é o capitalismo. Como se tivessem fazendo benfeitorias, os gigantes da carne e da consequente exportação dela (Fetiere por exemplo era operário naval no porto de Navegantes) se utilizam da possibilidade de contratar trabalho precário para poder vender sua carne de “alta qualidade”. Dizem que no país de desemprego crescente, “falta mão de obra”, mas quem é capaz de acreditar nisso? A verdade é que não há salário que pague a situação de profunda precarização do trabalho em Santa Catarina. Até a Veja é obrigada a admitir: “A atividade é a mais perigosa no Estado de Santa Catarina, segundo o Anuário de Acidentes de Trabalho elaborado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) - foram 2.381 acidentes em 2011. No Brasil, no mesmo período, foram contabilizados 19.453 acidentes no setor.”

A hipocrisia é imensa. Contratam trabalho precário, pagam de benfeitores e seguem financiando o governo e todas as políticas de genocídio e miséria sobre o povo haitiano. Lucram sobre a miséria oferecendo salários de agronegócio e nada contribuem para acabar com a xenofobia, isso quando não compõem parte dos financiadores dos programas de televisão que ridicularizam negros, pobres, LGBTs, nordestinos e refugiados – vamos contar quantas vezes a propaganda da Aurora, Sadia, JBS aparece durante o Zorra Total?

Tudo compondo a melodia da hipocrisia, ou o quadro de bizarrices da burguesia nacional.

Fontes:
http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/haitiano-e-assassinado-por-grupo-no-interior-de-santa-catarina/?cHash=d42efb144e638dbf9289639bb1f3bc85

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/sem-mao-de-obra-santa-catarina-importa-haitianos

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/rota-dos-haitianos-para-o-brasil-perigos-no-caminho-e-superlotacao/

http://portal.mte.gov.br/trab_estrang/publicacoes.htm


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