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FHC NO RODA VIVA | FHC no Roda Viva: a miséria da política e a política da miséria

“O sistema político brasileiro fracassou”, disse o sociólogo e ex-presidente do PSDB Fernando Henrique Cardoso em entrevista no programa Roda Viva da Cultura na última segunda-feira. Ao contrário de outros representantes da direita como Aécio Neves, o discurso de FHC não servia apenas a uma “apaixonada” defesa do impeachment: visava apresentar um quadro de crise política e econômica no país e a enorme debilidade que as classes dominantes tem tido de oferecer uma resposta, que nem o ajuste recessivo em curso poderia resolver - afinal, quando o assunto é descarregar a crise nos trabalhadores, FHC sempre acha que se pode “ir por mais”.

sexta-feira 30 de outubro de 2015 | 21:01

Em primeiro lugar, para FHC, era necessário caracterizar o regime político como falido, em crise profunda. A preocupação se referia a constatar a enorme debilidade de um regime político feito de poros e fisiologismo que inviabiliza mesmo tendências políticas do pensamento burguês a se desenvolveram, já que “os partidos não são controlados pelos presidentes, as lideranças não controlam os deputados”, em suma, prevalece um terreno para a ação anárquica do capital na política em suas distintas frações, restando conduzir e acordar como “atraso”, o coronelismo, a democracia degradada brasileira, o que dificultaria uma ação mais decidida das classes dominantes num “projeto de país”.

Para o líder do PSDB seria necessário uma modificação no sistema político que restringisse, portanto, os partidos e formasse um regime mais compacto. Ou seja, um regime em que os partidos dominantes tivessem mais peso político, que estivesse menos fragmentado, espelhado no modelo norteamericano, o que permite aos partidos dominantes maior estabilidade, já que o nível de corrupção, venda de votos, partidos de aluguel, acordos espúrios da democracia degradada brasileira de hoje faz a situação “fugir ao controle” dos partidos dominantes muitas vezes.

Essa alternativa vem sendo expressa por distintos setores da intelectualidade burguesa e só pode ter consequências drásticas para qualquer perspectiva de “democracia”, já que a primeira (e mesmo mais fácil) medida a ser adotada seria aprofundar a proscrição de partidos da esquerda, que já começou com a retirada deles dos debates televisivos. A segunda proposta afetaria uma série de interesses de pequenos partidos de aluguel e necessitaria uma situação especial na situação nacional brasileira.

Num país de república do café com leite, varguismo e Estado Novo e mais de vinte anos de ditadura militar, querer fazer uma mudança drástica no regime político passaria por reformular os acordos com o ruralismo, coronelismo e toda a combinação das classes dominantes brasileiras que não parece estar ao alcance imediato do sonho de regime político de FHC. E ele sabe bem disso. Então aonde visa chegar suas reflexões?

Aqui entra o segundo elemento da análise: a economia e o ajuste fiscal. Ao contrário do uníssono a favor do ajuste que se encontra entre intelectuais do pensamento conservador nos jornais e revistas, FHC argumentou que a dívida pública já ultrapassa 2,2 trilhões, que o juros da dívida irão para 400 bilhões e que toda a política de ajuste poderá economizar no máximo 50 bilhões, que seria totalmente insuficiente nesse sentido. Assim, por derivação lógica do argumento, mesmo a saída reacionária que está sendo dada no país pelo governo Dilma Rousseff seria insuficiente para FHC e a tendência seria mais catastrófica para economia.

Ou seja, no marco política a enorme crise de representatividade não poderá ser resolvida com reformas cosméticas e, no plano econômico, mesmo a saída de descarregar a crise nos trabalhadores com o ajuste fiscal seria insuficiente. Crise política e crise econômica, só podendo ser resolvidas por uma resposta mais “radical”. Se evidentemente a saída de FHC não é pela esquerda, o que resta?

Retomar sua ideia de “desenvolvimento associado”. Sem utilizar esses termos, FHC falou da nova constituição de classes no mundo para além do capitalismo industrial, na conformação da interconexão da economia mundial (globalização) e na impossibilidade de um país pensar apenas a partir de seu mercado interno e sua economia nacional. Ou seja, desenvolvendo o ponto de vista de FHC o argumento só pode ser de abrir a economia ao capital estrangeiro e buscar alianças com potencias imperialistas (sabendo que os EUA sempre foram a preferência do ex-presidente).

Eis a “miséria da política” de FHC: sem solução no sistema político brasileiro, o centro deveria ser buscar uma “agenda”, um “rumo”..de entrega do país ao imperialismo, o mesmo imperialismo que domina o mundo pela via do capital financeiro que arrancará 400 bilhões do Brasil em juros de dívida, como o próprio FHC apontou nos dados. Em suma: uma resposta política de miséria para o país.

Ou seja, só se atesta o seguinte: as duas soluções dos principais partidos que FHC quer fortalecer no regime político, o ajuste fiscal brutal do PT ou a entrega maior do país ao imperialismo (PSDB paulista), e a combinação entre a crise política e econômica no país vão dar as cartas dos próximos capítulos do cenário nacional.

E antes que alguém se aventure a pensar no “mal menor” entre as duas tendências dominantes, é necessário concluir que com o fortalecimento da direita nas eleições argentinas desse outubro/novembro, com o crescimento da direita venezuelana e a oposição burguesa no Brasil, fica patente que o “fim de ciclo” latinoamericano e sua resposta produzindo um fortalecimento da direita neoliberal nos distintos países é produto direto dos governos ditos “mal menor” do passado, que desarmaram os trabalhadores e abriram alas para a reação de direita do presente.


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