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GOVERNO TEMER EM CRISE | FHC em entrevista, “não quero que Temer caia, mas...”

A frase que intitulamos o artigo não foi dita em nenhum momento da entrevista, mas nas entrelinhas estava dita com muita força. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conversou com o jornalista Mário Sérgio Conti da GloboNews que repetidas vezes o questionou sobre as debilidades de Temer e se já não era hora de ir a eleições. FHC defendeu a necessidade de diretas, tentando cuidadosamente argumentar como um plano B, que por hora preferia apoiar o governo ponte, uma pinguela quebrando.

sexta-feira 2 de dezembro de 2016 | Edição do dia

FHC em todos momentos da entrevista concordou com o entrevistador que está muito difícil de vislumbrar uma situação que Temer conclua seu mandato. Não afirmou "Temer vai cair" mas um cuidadoso "veja, quero que conclua o mandato". Temer atravessa uma tempestade que combina crise econômica, social e política e crescentemente essa se mostra como uma grave crise institucional opondo legislativo a judiciário. No empresariado cresce a insatisfação, ou ao menos a declaração de insatisfação para pressionar por maiores ataques. O tucanato sempre muito conectado com o que os milionários e bilionários tem a dizer também ergue o tom.

FHC foi questionado se não era o momento de partir para um governo com a legitimidade do voto e se ele aceitaria ser presidente. O ex-presidente não negou que aceitaria um terceiro mandato e afirmou que não trabalha (oficialmente) pela queda de Temer: “farei todo o possível para fortalecer a passagem, governo Temer é passagem, para que não ocorra [sua queda], caso ocorra é preciso fazer logo uma emenda no Congresso para ter eleição direta, por que não vejo alguém sem ter o leme na mão possa fazer o que tem que fazer”.

Em outro momento o entrevistador insistiu: “Não tem nenhuma reforma fiscal que produza resultado que não seja daqui a um ano, país aguenta, não era melhor partir para alguma emenda, partir para eleições [agora]?”. Ao que FHC prontamente respondeu: “Mas isso não é constitucional”. Sem destacar uma pressão (que ainda não iniciariam oficialmente) pela renúncia, FHC emendou: “só se o presidente Temer quiser”. Por enquanto Temer está tentando mostrar serviço na economia. Suas “conquistas”, para FHC são a “PEC do teto e a reforma da previdência”, mas que isso só não mostra um plano, não anima a economia.

A sempre presente metáfora da ponte, a “pinguela” que FHC se refere, está balançando e pode cair. Curiosamente o governo-pinguela de Temer, uma travessia até 2018 como FHC reafirma, e que tem um plano “A ponte para o Futuro” que seria o mesmíssimo plano que o tucanato também implementaria. Parte do erguer de voz do tucanato e de empresários com o governo Temer é que suas “conquistas” com a PEC 241 não são suficientes para atrair os investidores, há uma parte importante que está andando muito devagar aos olhos tucanos, imperialistas e de setores empresariais, como a FIRJAN: as privatizações.

Com todas costumeiras pompas de estrangeirismos essa “Ponte para o Futuro” seria o road map para mostrar aos investidores. Segundo FHC, está “sobrando dinheiro no mundo” e onde ele poderia ir é para “infraestrutura”. É preciso começar um avançada e rápida “Black Friday” de tudo. Sem entrar esse dinheiro e algumas módicas obras que depois serão pagas com pedágios, serviços caros e dinheiro do BNDES não sairemos da recessão. Esse é o recado de Armínio Fraga, que está costurando seu lugar no governo, e do próprio FHC nessa entrevista. As privatizações são uma aposta bem tucana, bem anos 90, que se ergueria a economia com maior subserviência ao imperialismo. Eis o bote salva-vidas debaixo da pinguela quebrando.

Em outras partes da entrevista FHC também destacou como a Lava Jato está se arvorando acima da lei, com propostas como fim do habeas corpus, obtenção ilegal de provas. Mas, claro, ressalvou como ela “deve continuar”. Também voltou a mostrar-se preocupado com a exaustão do regime partidário e consciente de que eleitorado pode identificar seu partido com todos os outros, “quem se sustenta”, indagou.

Apesar de declarar-se formalmente favorável a uma eleição direta como “plano b” sua dúvida sobre a efetividade de tal plano não fecha as portas a um “plano C” – eleição indireta, pela via do Congresso – caso Temer venha a cair no ano que vem. FHC sabe que “tomar o poder” é mais fácil que mantê-lo ainda mais com essa agenda que seu partido, os empresários e o imperialismo desejam.

Os conchavos palacianos, entre canapés no Congresso enquanto se reprime manifestantes, na FIESP, FIRJAN, a luta encarniçada entre o judiciário em defesa de seus superpoderes que não levam a um verdadeiro combate a corrupção e do legislativo em defesa de sua impunidade mostram como no “andar de cima” há muita disputa pelo poder de cada um, mas um consenso que nós “aqui de baixo” que temos que pagar as contas. As respostas a profunda crise que vivemos não pode vir junto a esses e seus programas, mas a um questionamento de todas essas podres “regras do jogo”. Por isso o Esquerda Diário defende uma saída independente, uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana imposta pela força da mobilização.




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