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FHC SUGERE QUE DILMA RENUNCIE | FHC eleva o tom contra Dilma em meio às disputas internas tucanas

Adriano FavarinMembro do Conselho Diretor de Base do Sintusp

terça-feira 18 de agosto de 2015 | 00:00

Mais do que a insatisfação popular contra o governo Dilma, demonstrado na menor taxa de popularidade de um presidente na história, as manifestações de 16 de agosto trazem também uma disputa dentro do principal partido que representa a oposição ao PT, outro pilar do regime político do país desde o fim da ditadura militar, o PSDB.

Dividido entre prestar apoio às manifestações, para manter sua base eleitoral e não se ver prejudicado em futuras eleições – principalmente no reduto paulista, mas sem uma estratégia unificada dentro do próprio partido sobre como aproveitar o espaço político aberto pela crise do PT e do governo, o PSDB vem ensaiando movimentos ora mais ofensivos, elevando aqui e ali o tom das críticas, ora mais afastado e freando movimentos que possam desestabilizar o conjunto da dinâmica política do país e dificultar a aplicação dos ajustes econômicos.

Para ser uma alternativa e hegemonizar o fim do ciclo PTista, o PSDB precisaria primeiro alinhar os interesses das distintas alas do conservadorismo que se amontoam sob sua bandeira. A participação tucana nessas manifestações, porém, demonstram o inverso disso. Tanto Aécio quanto Serra decidiram participar dos protestos junto de suas bases eleitorais, o primeiro em São Paulo e o segundo em Belo Horizonte.

Aécio, a expressão mais popular do PSDB após as eleições de 2014, mas também parte da sua bancada parlamentar, esta mais propensa a dialogar com as movimentações das redes sociais, chegando a tomar às vezes medidas mais ofensivas contra o governo que vão contra a história do próprio partido, como a votação contra o fator previdenciário, que foi um ataque às aposentadorias costurado e aprovado pelo governo do FHC e mantido pelo governo Lula e Dilma, do PT, contra os trabalhadores.

Ao mesmo tempo, Fernando Henrique Cardoso, que vinha se mantendo mais cauteloso nos tons das críticas ao governo, subiu o tom nessa segunda-feira, e postou em sua conta de facebook uma sugestão de renúncia à presidente “Se a própria Presidente não for capaz do gesto de grandeza - renúncia ou a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional -, assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de Lava Jato. Até que algum líder com força moral diga, como o fez Ulysses Guimarães, com a Constituição na mão, ao Collor: você pensa que é presidente, mas já não é mais”.

Todo esse jogo político é parte da divisão interna de preparação para as eleições de 2016 e 2018. Conforme a avaliação de Sérgio Fausto, superintendente executivo do Instituto FHC (o equivalente tucano do “Instituto Lula”), sobre o obstáculo da fragmentação do PSDB, existe “a sobreposição de uma clivagem que é orientada por legitimas ambições pessoais, com pelos menos três grandes figuras (José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves)”.

No dia seguinte das manifestações, aliados de Geraldo Alckmin, que vem mantendo uma distância segura da defesa de algum processo que retire a presidente e o vice, Michel Temer (PMDB), pois pretende disputar internamente no partido a indicação de candidato a presidente em 2018, avaliaram com preocupação a presença de Aécio Neves nas manifestações do dia 16 de agosto, preocupado se este poderia estar ganhando a dianteira na disputa interna no partido. A localização de Aécio, bem conhecido do eleitorado graças as últimas eleições, permitiriam o mineiro se posicionar melhor do que Alckmin com a base social tucana presente nas manifestações. Os interesses de Alckmin e Aécio, divergem, quanto mais rápida a saída de Dilma melhor para Aécio, quanto mais demorada melhor para Alckmin se preparar para ganhar o PSDB debaixo de sua candidatura.

No meio da confusão interna dentro do partido que mais poderia cristalizar e hegemonizar eleitoralmente pela direita, figuras reacionárias como Bolsonaro e Cunha terminam se fortalecendo por expressar, sem nenhum compromisso nem responsabilidade (segundo argumentos dos grandes empresários e do Globo), os anseios ideológicos mais atrasados dos setores da pequena burguesia e da classe média branca que participam desses protestos.

Ao mesmo tempo, essa dificuldade da direita em hegemonizar, mantém por mais tempo aberto o espaço vazio da crise do lulo-petismo. É necessário que a esquerda classista, anti-governista e anti-burocrática apareça como uma terceira via frente a crise do PT e a confusão do PSDB.

Medidas como a construção de um pólo sindical que atue em solidariedade às lutas operárias e greves em curso e movimente os sindicatos ligados à esquerda, como a CSP-Conlutas e a Intersindical, e se dirija aos trabalhadores da base das centrais sindicais governistas e pelegas. Para isto é fundamental a ruptura do PSOL com o ato do dia 20/08, em defesa do governo Dilma, e o posicionamento público dos parlamentares ligados ao PSOL à serviço da construção de um terceiro ato contra os ajustes, contra o governo Dilma e a direita. Estes são passos que o Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) e o Esquerda Diário vem insistindo para que a crise do PTismo seja canalizada para a esquerda.




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