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ELEIÇÕES 2016 | Expansão da base de Temer, ocupações e rechaço ao PT, pulverização partidária e do não-voto. Eleições da crise

O resultado das eleições do segundo turno deve consolidar a expansão da base do governo Temer e seus partidos aliados, contudo como vimos no primeiro turno esse fortalecimento é relativo, seja “por cima”, vide a crise dos últimos dias com o Renan e o STF, mas também “por baixo” com as ocupações de escola se espalhando pelo país. Além da expansão também das abstenções e votos brancos e nulos, consolidando o desgaste com os partidos tradicionais.

Isabel Inês São Paulo

domingo 30 de outubro de 2016 | Edição do dia

O resultado do segundo turno das eleições deste ano vai confirmar a consolidação da base municipal formada pelos principais partidos alinhados ao governo Michel Temer e, ao mesmo tempo, a ampliação do espaço ocupado pelas chamadas legendas nanicas. O PMDB e os partidos que têm assento na Esplanada dos Ministérios, a base de Temer elegeu 4.400 prefeitos no primeiro turno e pode comandar de 72% a até mais de 90% do eleitorado do País após a votação de hoje.

O PSDB também é visto como o partido “vitorioso” nas disputas municipais, enquanto o PT o maior perdedor. A sigla tucana tem chance de governar mais de 20% dos eleitores no Brasil - a maior proporção entre as 31 legendas que conseguiram eleger algum prefeito em 2016. Além de São Paulo, anteriormente comandado pelo PT, e que em 2017 será governado pelo tucano João Dória, a maior expressão de um novo “perfil” de candidatos antipolítica, da eficiência e empresariais, que tentam surfar na onda do desgaste com os políticos tradicionais.

Essas novas expressões de direita também são marcas da crise orgânica, de representatividade. Nesse segundo em capitais importantes estão em disputas candidatos com esse perfil, como Alexandre Kalil (PHS) e João Leite (PSDB) que disputam em Belo Horizonte, dois milionários do futebol, também Marchezan Junior (PSBD) em Porto Alegre com o mesmo discurso de empresário e anti político. São como Macris (presidente da Argentina) brasileiros, a fusão descarada entre os interesses dos empresários no Estado.

Dessa forma a votação nesses candidatos de direita empresarial tem uma expressão distorcida, uma vez que uma parte dos seus votos não são diretamente aprovação a um programa privatista e de ataque aos direitos sociais, mas sim o desgaste com a política tradicional e a busca por alternativas. Por outro lado a decadência do PT deixa um “espaço” a esquerda, no qual o PSOL vem se localizando, com a principal expressão sendo Freixo no Rio de Janeiro, candidato que apesar de expressar uma base social de esquerda e anti direita, leva um programa no qual não tem nenhum enfrentamento com os capitalistas, seja no não pagamento da divida pública aos bancos, à luta contra as privatizações ou o combate aos privilégios dos políticos.

Em São Paulo o declínio da legenda petista deve ficar explicitado no ABC paulista. Pela primeira vez desde que foi fundado, em 1980, o PT não deve governar nenhuma prefeitura da região.

Reflexo da rejeição às legendas tradicionais, candidatos de partidos nanicos disputam 52% do eleitorado que hoje volta às urnas. No primeiro turno, os partidos sem tradição ou representatividade no Congresso conquistaram um total de 569 prefeituras. O segundo turno ocorrerá em 57 cidades brasileiras e envolve cerca de 33 milhões de eleitores.

As eleições deste ano também podem bater o recorde no número de abstenções, votos em branco e votos nulos. Na primeira etapa de votação, no dia 2 deste mês, esse índice chegou a 28,8% do total de votos, o maior dos últimos 20 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Assim a política no Brasil ganha marcos mais incertos e dinâmicos, para quem pensava que as eleições municipais seriam a ante sala das eleições de 2018, só viu o leque de possibilidades se abrir ainda mais. Apesar do fortalecimento do PSDB ainda temos que ver como se desenvolve uma vez que a base que votou nessa legenda esperando o “novo”, deve se testar com a velha política neoliberal e se enfrentar com duros ataques, seja nas prefeituras, seja pelo governo Temer que tem esse partido como aliado.

Por sua vez, o próprio governo Temer esta tendo que enfrentar, apesar do fortalecimento nas prefeituras, a crise dentro do próprio governo com os rumos da Lava Jato e as alas opostas de Renan Calheiros e Gilmar Mendes por um lado, e Carmem Lucia e Moro por outro. Nessa última semana essa crise ganhou grandes patamares, onde Temer teve que mediar uma vez que este precisa de Renan para aprovar a PEC 241, sendo os ajustes que ainda unem o governo. Contudo o que vemos é uma maior debilidade do próprio Temer e um fortalecimento do Judiciário e da Lava Jato, que ainda tem seu futuro incerto, e é justamente parte da crise entre esses dois setores, se a mesma deve expandir até uma mudança completa do regime, ou parar buscando um novo pacto do regime.

“Por baixo” as ocupações de escola e universidade são a expressão política da resistência aos ajustes, e podem representar aqueles que querem defender a educação, a saúde e o direito ao emprego e aposentadoria. Frente a esses inúmeros atores, é urgente a necessidade de unificação dos processos de luta, para que a partir da juventude se expanda um processo de resistência aos ajustes e uma alternativa política chamando os trabalhadores e a população a se somar. O desgaste visto nas urnas precisa ganhar força organizada para fazer frente a direita, e que se enfrente com os lucros dos patrões, os ajustes, e os privilégios dos políticos.




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