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UNESP | Estudantes da Unesp de Ourinhos e de Franca fazem paralisação esta semana por permanência estudantil

Estudantes da Unesp de Ourinhos deliberaram em assembleia do dia 06/04 utilizar a tática de paralisação das aulas por uma semana, até o dia 13/04. Já estudantes da Unesp de Franca deliberam por paralisação de um dia para próxima quarta-feira, dia 14. Nos dois casos as pautas principais se referem à dificuldade dos estudantes de baixa renda conseguirem permanecer na Universidade.

sábado 9 de abril de 2016 | Edição do dia

Os estudantes da Unesp estão vivendo um cenário de calamidade. A universidade é profundamente marcada em sua história pelo elitismo e pela exclusão sistemática da classe trabalhadora pobre. Estudantes de baixa renda além de ter maior dificuldade em ingressar na Unesp, por ter acesso a instituições de ensino básico precárias, e por maior precarização da vida em vários sentidos, quando conseguem passar pelo funil do vestibular ainda se deparam com uma série de problemas. Para cursar uma universidade pública, gratuita, mantida pelos impostos cobrados dos trabalhadores, em geral muitos estudantes têm que mudar de cidade, pois muito dificilmente o curso escolhido tem na cidade natal. Alguns dos cursos possuem carga horária integral, o que impossibilita ter um emprego para se sustentar. Os cursos de período único em geral exigem uma carga enorme de estudo e de leitura, e uma série de atividades extra-aula, como projetos de pesquisa e extensão.

Nestes casos, ou estes estudantes tem alguém que os sustente, com dinheiro suficiente para pagar um aluguel, alimentação, entre diversas outras necessidades, ou a universidade mantém políticas de permanência estudantil, como moradia estudantil, restaurante universitário, bolsa socioeconômica, etc, para aqueles que a família não possui esses recursos. O fato é que quando a Universidade não possui essas políticas de permanência de forma suficiente, os estudantes de baixa renda na prática são impedidos de estudar, e têm o sonho de ingressar em uma universidade pública interrompido, tendo que abandonar seus cursos. Nesta lógica, o ensino superior público pago com os impostos de todos acaba não sendo aberto a todos, mas apenas a quem já possui recursos financeiros para se manter, excluindo a grande maioria da classe trabalhadora pobre. Quer dizer que todos através dos impostos sustentam uma universidade voltada não a todos, mas apenas a estudantes com melhor condição econômica.

Com uma grande luta no ano de 2013, com greves e ocupações, o movimento estudantil da Unesp conseguiu barrar a política elitista do Pimesp, que dificultaria o ingresso de negros e indígenas na universidade, desta forma passou a ser implementado de forma progressiva o sistema de ingresso pelas cotas. Contudo, a expansão das cotas sem a expansão das condições de permanência estudantil significa um abandono destes estudantes quando adentram, e se torna uma política falsa, demagógica de democratização da universidade.

No campus de Franca este ano muitos estudantes que chegaram novos ou que já estudavam na Unesp convivem com o drama de possivelmente não ter onde morar, ou o que comer, vislumbrando terem que abandonar seus cursos. 125 estudantes ficaram sem bolsa BAAE I (Bolsa de Auxílio Acadêmico e Extensão I), 65 pessoas ficaram sem moradia e/ou auxílio aluguel, ou seja, por volta de 36% dos pedidos por moradia e/ou auxílio aluguel não foi atendido. Há apenas uma vaga (!) para estudantes no Centro de Convivência Infantil, que atende crianças de professores, funcionários e estudantes, impossibilitando também assim a permanência de estudantes mães da classe trabalhadora pobre. É neste cenário que os estudantes da Unesp de Franca decidiram pela paralisação: sem repostas da reitoria e do governo do Estado de São Paulo, que conhecem de longa dada esta demanda, e à beira do abandono dos cursos.

No campus de Ourinhos não é diferente. 60% dos pedidos de bolsas de auxilio socioeconômico não foram atendidos. O cenário é ainda mais grave, pois neste campus nenhum estudante é atendido por moradia estudantil, ou restaurante universitário, havendo ausência total destas políticas.

Em todos os campi da Unesp há um cenário de profundos cortes em áreas importantes, inclusive na permanência estudantil, comprometendo a vida acadêmica de milhares de estudantes. Como exemplo temos também a Unesp de Marília, onde 57 estudantes tiveram a bolsa BAAE I negada só de veteranos, porque dos ingressantes ainda não saiu o resultado, 62 estudantes ficaram sem auxílio aluguel, e uma lista gigantesca de estudantes sem moradia estudantil, o que mantém a moradia superlotada, e com um movimento de ocupação de salas de aulas por moradia que já dura mais de um ano.

Os estudantes de Ourinhos divulgaram uma carta na qual além de denunciarem o problema da permanência, relacionam a falta de verba para a classe trabalhadora pobre na Unesp aos cortes de verba para as escolas do Estado de São Paulo, apontando que os ataques não são exclusividade da Unesp de Ourinhos, mas de todos os campi da Unesp, da USP e UNICAMP, e a diversas categorias da classe trabalhadora e setores oprimidos. Desta forma apontam a importância de unificação da luta para poder barrar estes ataques.

Em sentido próximo, a estudante da Unesp de Marília Mariana Galletti, que compõe o grupo Faisca – Juventude anticapitalista e revolucionária e o MRT afirmou: “A luta pela permanência estudantil é um combate de classe, pela defesa das demandas da classe trabalhadora dentro da universidade! Neste momento os governos e os patrões usam o argumento da crise para cortar verbas da educação, da saúde, para aplicar demissões, cortes de direitos, e não podemos aceitar isso! Os grandes milionários continuam recebendo uma série de benefícios dos governos! Devemos defender que os capitalistas paguem pela crise, e colocar de pé um movimento que unifique todos os setores do movimento estudantil da Unesp junto aos estudantes secundaristas que também passam por cortes nas escolas, e a todas categorias de trabalhadores para lutar contra estes ajustes, contra esses ataques sobre a juventude, seja do governo estadual, do PSDB, ou do governo federal, do PT! Também devemos nos posicionar contra essa oposição de direita que defende o Impeachment como meio a promover ajustes ainda mais duros aos trabalhadores, como o PMDB! Contra a manobra reacionária do Impeachment e os ataques desta direita, e contra os ataques do PT!”.




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