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PSOL | Estratégia parlamentar pra esperar 2022 ou organizar a luta agora? Um debate com o PSOL

No último ato da Frente Povo Sem Medo Guilherme Boulos dedicou sua intervenção a convocar a luta de resistência contra Bolsonaro, as reformas e os ataques as liberdades democráticas. Mas a concepção desta "resistência" é heterogênea; é também utilizada por estratégias que visam conter todo tipo de mobilização independente dos trabalhadores e da juventude contra Bolsonaro, a fim de aguardar 2022 abrigados sob as asas de uma "oposição parlamentar" impotente para frear os ajustes. Esta é a estratégia do PT. Diante disso, o PSOL seguirá diluído na política petista?

Thiago FlaméSão Paulo

terça-feira 6 de novembro de 2018 | Edição do dia

Nós do MRT participamos dos atos e paralisações que ocorreram até agora levantando a necessidade de massificação desses movimentos e exigindo das entidades estudantis e centrais sindicais que convoquem assembleias e comitês de base para construir um plano de lutas unificado que esteja à altura dos ataques que Bolsonaro e os golpistas pretendem fazer. Abrimos aqui um debate com o PSOL sobre como seguir essas batalhas.

Desde a vitória de eleitoral de Bolsonaro tem se desenvolvido um incipiente movimento para lutar contra a ameaça que representa a extrema direita, especialmente nas universidades. Assembleias, manifestações e principalmente uma grande presença em debates de intelectuais mostram que existe energia para organizar a batalha. Entretanto, nestes mesmos meios, não pode ser desconsiderada a influência que ainda preservam certas "esperanças institucionais" de resistência a Bolsonaro. Ou seja, a ideia de que se pode enfrentar (ou conter) Bolsonaro institucionalmente, por meio dos mecanismos do regime político burguês cada vez mais autoritário - especialmente o poder judiciário que, nunca é demais lembrar, foi o pilar principal do golpe institucional e das eleições mais manipuladas da história recente do país, pleito que levou Bolsonaro à presidência.

No debate realizado no vão livre da História e da Geografia da USP, "Construindo a resistência", essa proposta exclusivamente institucional - contra a organização da luta pelas bases - teve como portavoz Marilena Chauí, expoente do PT. Uma "frente democrática", confiando nestes dispositivos institucionais, seria a conclusão desta forma de resistência.Não somos contra utilizar todos os espaços institucionais possíveis, como o parlamento, para a luta contra Bolsonaro. Mas essa atuação tem que estar subordinada a luta de classes extra parlamentar, e não o contrário como faz o PT. Menos ainda, organizar uma oposição “propositiva” como quer o bloco capitaneado por Ciro Gomes e pelo PDT.

A estratégia que "capitaneia" estas ilusões institucionais é a do próprio PT. O PT pretende seguir, nas novas e mais difíceis condições abertas com a vitória de Bolsonaro, sua mesma política que se mostrou impotente para evitar esse triunfo da extrema direita. Por um lado, busca liderar uma "frente democrática parlamentar" com todos os setores de partidos burgueses que podem ser oposição a Bolsonaro, dentro da qual se abre uma forte disputa entre Haddad e Ciro Gomes do PDT pra ver quem vai liderar essa frente. Se somariam a esta "frente democrática" setores que, apesar de apoiadores convictos do golpe institucional, podem ter diferenças com a política do novo governo, como a Folha de São Paulo ou setores empresariais que dependem profundamente das relações comerciais com a China.

Por outro, o PT estimula de maneira controlada o movimento de resistência da juventude, apenas o suficiente para servir de apoio extraparlamentar à essa "frente democrática parlamentar" que busca bloquear qualquer protagonismo da luta de classes, ou o surgimento da classe trabalhadora como sujeito político independente contra Bolsonaro, com o objetivo de conter algumas questões secundárias e permitir que Bolsonaro faça o "trabalho sujo" de aprovar grandes ataques econômicos como a reforma da previdência (com a ajuda inestimável das burocracias sindicais ligadas ao PT, como a CUT e a CTB) . Ao fim sua estratégia se resume a desgastar o governo Bolsonaro e esperar uma sorte melhor nas eleições de 2022.

Esta estratégia impotente é a continuidade das traições do PT. Há que enfrentá-la para batalhar no movimento de massas por uma estratégia que unifique os trabalhadores e a juventude para fazer com que os capitalistas paguem pela crise. Não é o que o PSOL vem fazendo.

O PSOL como ala esquerda da estratégia petista

O PSOL, que saiu fortalecido das eleições elegendo uma bancada de dez deputados federais, está levando adiante uma política acrítica de adaptação ao PT – justamente no momento em que essa critica é mais necessária do que nunca – e atuando como ala esquerda dessa política petista. Boulos nesse sentido é a "ala radical" da mesma estratégia petista de utilizar os movimentos de rua como apoio extraparlamentar dessa frente democrática.

O prestígio que o PSOL tem atualmente entre um setor da vanguarda que quer resistir poderia estar sendo utilizado não para secundar a política petista, mas para abrir caminho a um movimento que superasse a estratégia petista. Boulos e os parlamentares do PSOL deveriam dispor suas forças a serviço de exigir que o PT, a CUT e seus sindicatos impulsionem um plano de luta sério construído desde as bases para unir os trabalhadores, a juventude e os movimentos sociais em um grande processo de mobilização de massas capaz de enfrentar seriamente os ataques de Bolsonaro e Paulo Guedes. Poderiam se colocar na linha de frente para desmascarar a política petista e atuar para romper essa divisão entre o político e o sindical, estimular a auto-organização desde as bases e planos efetivos para que a mobilização seja cada vez mais massiva. Ao não fazer isso, acaba se tornando uma cobertura pela esquerda da política eleitoral e parlamentar da "resistência democrática" petista.

Ao levantar um programa de rechaço aos ataques, mas de reformas do capitalismo similar ao do PT e uma estratégia de convivência pacífica com o PT e suas burocracias sindicais e estudantis, abre mão de organizar fortes correntes militantes nas universidades, escolas e locais de trabalho que sejam uma real alternativa para o combate à extrema-direita. Esse programa segue a linha dos manifestações que já criticamos, da plataforma do Vamos, ou do chamado “manifesto de fevereiro”, um programa de reformas suaves de sentindo neodesenvolvimentista, assinado pelo PT e PCdoB e partidos burgueses como PDT e PSB. Nas entrevistas e nessa intervenção de Boulos no ato da Frente Povo Sem Medo essa convivência fica evidente: nenhuma crítica ao PT, nenhum programa de ruptura com o capitalismo, nenhuma política efetiva de frente única e exigência às centrais sindicais.

Inclusive, o PSOL termina adotando o mesmo discurso do PT de esquecer os caminhos do golpe institucional que prepararam a eleição de Bolsonaro numa eleição profundamente manipulada pelo judiciário. Se já durante a campanha o PSOL foi menos incisivo do que deveria em denunciar a prisão arbitrária de Lula e toda manipulação eleitoral (o que facilitaria também a crítica ao PT, praticamente ausente da campanha), agora sequer citam mais a prisão de Lula e o caráter antidemocrático dessas eleições. Nesse ponto também atuam de forma adaptada ao PT, que ainda que tenha ajustado o discurso com a entrada de Moro no ministério, não coloca ênfase da denuncia de que essas eleições foram preparadas pelo golpe institucional e pela prisão arbitrária de Lula, se preparando para atuar como oposição dentro do novo regime mais autoritário que está em formação.

Para uma resistência efetiva contra os ataques de Bolsonaro é preciso superar essa combinação entre atos restritos à vanguarda e uma oposição parlamentar impotente. Os sindicatos da CUT e da CTB, assim como as entidades estudantis, a UNE e os DCEs e CAs que dirige, deveriam tomar a linha de frente na organização de comitês de mobilização em todo o país, de assembleias e outros instrumentos de organização nos locais de trabalho, para organizar a luta contra a reforma da previdência e outros ataques de Bolsonaro, que até agora não são apoiados nem pelos próprios votantes de Bolsonaro.

A CUT, a CTB, o PT, o PCdoB, o PSOL, assim como os sindicatos e entidades estudantis, precisam organizar assembleias e comitês de base para organizar uma resistência séria contra as reformas, as privatizações e os ataques autoritários do golpismo judicial apoiado pelos militares.

A juventude e os trabalhadores que começam a se organizar contra Bolsonaro precisam de uma estratégia que supere o gradualismo e a conciliação de classes petista, mais impotente do que nunca. A "oposição parlamentar" esperando as eleições de 2022 vai conduzir a novas e mais profundas derrotas se ela não é superada pela esquerda. Ao passo que lutamos para massificar o combate que está apenas em seu inicio e exigimos das centrais sindicais uma unidade efetiva na luta de classes, também batalhamos para a construção de correntes militantes nos locais de estudo e de trabalho, com uma estratégia e um programa de ruptura com o capitalismo, que vai mostrar seu rosto mais brutal e autoritário com o governo Bolsonaro.

Nós do MRT colocamos o Esquerda Diário a serviço dessas batalhas e chamamos todos os jovens e trabalhadores que querem efetivamente derrotar os ataques de Bolsonaro e não esperar por uma resposta meramente eleitoral no distante ano de 2022 e se somarem conosco nessa luta.




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