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Crime de Estado | Estado mexicano é responsável pelo desaparecimento dos 43 estudantes

O relatório aponta que militares e civis têm responsabilidade no desaparecimento, em 2014, dos 43 estudantes. Trata-se de um crime de Estado. É preciso exigir justiça.

sexta-feira 19 de agosto de 2022 | Edição do dia

Um relatório apresentado pelo subsecretário de Direito Humanos do governo mexicano aponta que militares e civis têm responsabilidade no desaparecimento dos 43 estudantes em 2014. Os 43 jovens viajam para a cidade de Iguala para participar de um protesto, quando foram interceptados pela polícia local e pelo grupo criminoso Guerreiros Unidos, que teriam assassinado os jovens e incinerado seus corpos.

A Comissão para A Verdade e Acesso à Justiça do caso Ayotzinapa chegou à conclusão preliminar de que autoridades civis e militares tiveram participação no desaparecimento forçado dos 43 estudantes de Ayotzinapa, em 2014.

Cai por terra toda a narrativa que o Governo de Enrique Peña Nieto tentou impor por anos. Trata-se, efetivamente, de um crime de Estado.

Alejandro Encinas, subsecretário de Direito Humanos, informou à imprensa: "A verdadeira história do governo de Peña Nieto é o resultado de uma ação orquestrada pelo aparato organizado do poder. Se ele tivesse intervindo, a repressão e o assassinato dos estudantes teriam sido evitados", declarou o funcionário.

Uma das conclusões mais duras da investigação é que os estudantes desaparecidos estariam mortos. Os familiares dos estudantes responderam que analisarão "profundamente o informe e a opinião técnica do GIEI" antes de tomar alguma decisão.

Os 16 pontos do informe:

1. O desaparecimento dos 43 estudantes da Normal Isidro Burgos de Ayotzinapa, na noite de 26 para 27 de setembro de 2014 constituiu um crime de Estado no qual atuaram integrantes do grupo criminoso Guerreiros Unidos e agentes de diversas instituições do Estado mexicano.

2. Autoridades federais e estatais do mais alto nível foram omissas e negligentes, existindo elementos que atuavam no sentido de alterar fatos e circunstâncias para estabelecer uma conclusão opostos à verdade dos fatos.

3. Em todo momento, as autoridades federais, estatais e municipais tiveram conhecimento da mobilização dos estudantes desde sua saída da Escola Normal Isidro Burgos até seu desaparecimento, e suas ações, omissões e participação permitiram o desaparecimento e execução dos estudantes, assim como o homicídio.

4. Em nenhum momento a presença dos estudantes em Iguala foi na intenção de boicotar o ato da presença municipal do DIF.

5. O grupo criminoso atuou com um amplo número de assassinos e informantes, a partir de um comando central, com ao menos três células de informantes e assassinos com o apoio de distintas polícias municipais e agentes do Estado.

6. Em nenhum momento existiu comunicação alguma entre os estudantes e o grupo criminoso durante os fatos.

7. Após a saída do Terminal de Saída de Iguala, em nenhum momento os estudantes estiveram juntos durante seu desaparecimento.

8. Se confirma a intervenção da polícia de Iguala para manter os estudantes no ônibus 1531.

9. Se confirma a presença de policiais de Huitzuco no Palácio de Justiça em Iguala e em Santa Teresa.

10. Se confirma o deslocamento do ônibus (Ecoter), até o estado de Morelos, burlando todos os postos de controle estabelecidos.

11. Se confirma que o comando militar da região não realizou ações para a proteção e busca do soldado Julio César López Patrolzin.

12. Pelas 22:45 horas de 26 de setembro de 2014, antes da violência e perseguição, foi dada a ordem de desaparecer com os estudantes.

13. Se confirma a identificação de três dos 43 estudantes desaparecidos.

14. Não há indício algum de que os estudantes se encontram com vida. Pelo contrário, todos os testemunhos e evidências dão a crer que estes foram assassinados e desaparecidos.

15. É necessário continuar com a busca em: nas margens do Rio Balsas e na lagoa do novo Balsas, em Atzcala, município de Eduardo Neri; na Barranca de Tonalapa, município de Tepecoacuilco; na Brecha de Lobos e na Paraje de Suriana em Iguala, e nas imediações de Tepeguaje.

16. Existem indícios suficientes para que a FGR inicie ou continue os inquéritos para definição de responsabilidades.

Quando se chegou ao reconhecimento de crime de Estado?

Para milhares de pessoas que tomaram as ruas depois daquele trágico 26 de setembro de 2014, indignados diante o desaparecimento forçado de jovens que sonhavam em ensinar a ler e escrever aos filhos da famílias trabalhadoras e campesinas, que durante o governo de López Obrador se admita que se cometeu um crime de Estado e possa se confundir com uma conquista.

A consigna #FueelEstado (Foi o Estado) parece ser confundida também com o resultado do informe preliminar trazido a tona pelo subsecretário de Direitos Humanos.

Entretanto, este reconhecimento não é a mesma coisa que justiça para os familiares e companheiros dos 43 jovens desaparecidos.

Ángel Aguirre, governador de Guerrero (que havia chegado ao governo estatal pelo PRD), o único que perdeu é sua carreira política. Peña Niero, outro dos responsáveis políticos e um dos autores da nefasta "verdade histórica", tem aberta três investigações da FGR pelo enriquecimento ilícito e levado dinheiro, porém nenhuma por reprimir - foi o responsável pela brutal repressão de San Salvador Atenco em 2006 - nem pelos desaparecimentos forçados. E assim pode seguir a lista de todos os altos funcionários que estão implicados neste crime de Estado.

A apresentação desse relatório se dá antes das eleições do Estado do México de 2023, o último reduto do PRI na região central e na entidade mais povoada do país e no marco de crescentes tensões entre o Morena e o PRI, diante do rechaço do tricolor de votar a favor da reforma elétrica de López Obrador.

Para que o reconhecimento oficial do desaparecimento forçado dos 43 estudantes de Ayotzinapa como crime de Estado não fique somente como um gesto político diante dos próximos comícios, é necessário recriar um amplo movimento democrático, onde participem sindicatos, trabalhadoras e trabalhadores, jovens e mulheres, organizações sociais e políticas, independente do governo e da direita, que tome as ruas por justiça e punição a todos os responsáveis pelo desaparecimento e assassinato dos jovens estudantes.




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