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BALANÇO DA GREVE DOS BANCÁRIOS | Entrevistas com a Oposição Bancária de SP: companheiro Messias Américo e a companheira Juliana Donato

O Esquerda Diário entrevistou dois companheiros da Oposição Bancária de SP, Messias Américo, da Caixa Econômica e a companheira Juliana Donato, do Banco do Brasil.

sábado 7 de novembro de 2015 | 00:30

Esquerda Diário: Qual a avaliação que você faz do acordo?

Messias: Resultado do acordo muito aquém das necessidades do trabalhador bancário e muito aquém das possibilidades concretas colocadas a partir das potencialidades de uma greve muito forte. Não trouxe nada, nada, de conteúdo para a categoria..Mais uma vez a traição de uma burocracia submissa, governista e despudorada. Importante assistir aos vídeos que mostram ao vivo e a cores a esculhambação e a covardia cometidas por direções sindicais que precisam ser afastadas de uma vez por todas.

Juliana: Comparando 10% com os 5,5% oferecidos antes da greve, pode parecer um bom resultado. Mas é uma ilusão. O fato é que o setor financeiro é o mais lucrativo do país, graças à política do governo, que beneficia os bancos enquanto ataca os trabalhadores. As taxas de juros altíssimas praticadas por aqui beneficiam muito os bancos, que só no primeiro semestre deste ano, em plena crise econômica, lucraram mais de R$ 36 bilhões. Até mesmo os bancos públicos, controlados diretamente pelo governo federal, cujo objetivo principal não deveria ser o lucro, continuam lucrando bilhões à custa da maioria da população trabalhadora e, particularmente, dos bancários. Além do índice, que mal repõe a inflação oficial, não houve nenhum avanço nas pautas específicas do Banco do Brasil e Caixa Econômica, como a contratação de mais funcionários e a melhoria das condições de trabalho. Por tudo isso, acredito que o resultado da campanha salarial bancária reflete a política de ajuste do governo Dilma. É claro que, se não fosse a nossa greve, amargaríamos um arrocho maior, mas precisamos reconhecer que 10% ainda é arrocho para os bancários. E, considerando a força de nossa greve, poderíamos ter conquistado mais.

ED: Quais as principais dificuldades encontradas na campanha? Que relação vê entre elas e o cenário de crise e o ajuste fiscal aplicado pelo governo?

Juliana: Lutar contra os banqueiros não é fácil. Eles choram muito de barriga cheia. Torna-se ainda mais difícil no momento de ajuste fiscal por que passamos. O governo, que controla os bancos públicos, foi o mais intransigente nas negociações, pois a sua intenção era impor aos bancários um arrocho e, com isso, dar uma lição para os demais trabalhadores. Mas eu diria que a principal dificuldade de nossa campanha salarial é a sua direção, que se coloca como um obstáculo entre os bancários e aqueles que precisamos enfrentar. A maioria dos Sindicatos de bancários pelo país são ligados a CUT, que hoje é a principal base de sustentação do governo Dilma no movimento sindical. Eles fazem de tudo para evitar que as nossas greves se choquem com o governo e sua política, o que faz com que geralmente terminemos as campanhas com acordos rebaixados. Também fazem de tudo para evitar a unificação das lutas dos bancários com as de outras categorias. Neste sentido, seguraram a greve dos bancários até que terminasse a dos Correios e, depois, fizeram questão de termina-la antes que coincidisse com a dos petroleiros.

Os bancários fazem greve todos os anos, desde 2003, e o mesmo roteiro tem se repetido, com a burocracia sindical governista no controle. Isso gera um grande problema, pois muitos bancários não acreditam que seja possível mudar este roteiro e deixam de participar ativamente das campanhas. Muitos fazem a chamada “greve de pijama”, ou seja, aderem à greve, mas não participam das atividades, como as assembleias, por exemplo. Neste ano, o fenômeno da greve de pijama se repetiu, mas acreditamos que houve avanços em relação aos anos anteriores, com assembleias bem maiores. Chegamos muito perto de romper com o roteiro habitual nas assembleias de encerramento da greve em Sao Paulo, a principal base do país. A burocracia, sabendo que poderia perder, para não permitir que a greve continuasse, negou-se a fazer a contagem dos votos, declarou-se vencedora e encerrou as assembleias.

Em síntese, eu diria que vivemos um equilíbrio instável, no qual a burocracia não consegue evitar a greve, mas a categoria não consegue romper com a dinâmica imposta pela direção da CONTRAF/CUT. Romper este equilíbrio, derrotando as direções traidoras do movimento, é um desafio que hoje está colocado para a maioria da classe trabalhadora para derrotar a política de ajuste do governo Dilma.

Messias: As principais dificuldades foram a pré-disposição da burocracia sindical bancária em não ir às últimas consequências com o governo e os banqueiros e fazerem greve de fachada. Muito contribuiu também ,a meu ver, a total falta de dignidade dos fura-greves (gestores ou não) em cumprir com a cara deslavada o papel colocado pelos banqueiros, pelo governo e pelo próprio sindicato, de serem "coveiros do movimento" junto com a CUT, As FETECs-CUT, a CONTRAF-CUT e os sindicatos ligados à CUT, sobretudo. Ficou nítido que a base social desta diretoria (SEEB-SP) são os gerentes assediadores. E penso que temos que avançar nas consciência e na organização para acabarmos também com o "grevismo de pijama".
Os pelegos orquestrados com o governo e a patronal, tudo fizeram para não acontecer a unidade dos trabalhadores de Correios, Servidores Federais, previdenciários, petroleiros, metalúrgicos e bancários. . Assim, Os trabalhadores perderam uma oportunidade real e ímpar de derrotar a politica de arrocho do governo Dilma.

ED: Quais as perspectivas para o movimento após a greve?

Messias: De positivo fica a forte participação dos grevistas, a atuação de Oposição Bancária que junto com uma base atuante e radicalizada, obrigou a pelegada a "tirar o pé do chão", ainda que não o necessário. Mas sem dúvida tivemos avanços este ano na postura da base bancária de públicos e privados. Nas assembléias da CAIXA e do BB ficou claro a manobra da mesa que pediu seguro para os "seguranças" contratados e mesmo assim tremeram literalmente. Resta-nos agora fazer o devido balanço e trabalharmos junto com @s bancári@s, terceirizados e afins, tomando a história na mão. Partimos agora de um patamar mais avançado.

Juliana: O principal desafio para toda a classe trabalhadora no próximo período é derrotar o ajuste fiscal e os governos que os aplicam, seja Dilma ou os governos estaduais, como o de Alckmin em São Paulo. Os banqueiros, apesar de lucrarem com a crise continuam reclamando e devem aumentar a exploração sobre os bancários. O papel dos bancários é, não somente participar ativamente destas lutas, como também, neste processo, fortalecer sua organização e construir uma alternativa de direção para a categoria. Neste ano, a greve foi mais forte e surgiram pessoas novas interessadas em participar da luta. Precisamos incentivar esta participação. Para isso, a unidade e as iniciativas da oposição são fundamentais. Nós, do Movimento Nacional de Oposição Bancária (MNOB) trabalharemos para a unidade e fortalecimento da oposição, não somente em São Paulo, mas em todo o país. Precisamos superar as direções governistas que se colocam como obstáculo para que derrotemos os banqueiros, o governo e seu ajuste.




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