Trabalhadores da unidade da Volkswagen em Taubaté (SP) entraram em greve na segunda-feira (17) após a demissão de cerca de 100 funcionários. Entrevistamos um trabalhador desta unidade que nos relatou um pouco sobre a produção, os ataques da empresa e o papel do sindicato.
quarta-feira 19 de agosto de 2015 | 00:00
Esquerda Diário: Fale um pouco sobre a produção e as condições de trabalho na Volkswagen em Taubaté.
Trabalhador: Antes a fábrica tinha 3 turnos e rodava 47 carros por hora. Ela diminuiu para 2 turnos e aumentou a produção para 62 carros por hora. Nessa mudança que houve na fábrica para dois turnos, a empresa alega que ficou sobrando 600, 700 pessoas. Daí houve demissão, abriu o pacote de demissões voluntárias (PDV), muito aposentado foi mandado embora.
Ajustou o pessoal para trabalhar em 2 turnos, só que essa produção de 62 carros por hora praticamente é a produção de 3 turnos. Ela reduziu para 2 turnos mas tá ganhando a produção de 3 turnos.
Essa crise que ela alega praticamente não existe. Se existe crise porque ela não reduz a produção? O próprio sindicato (Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté) disse que a empresa não consegue usar o PPE (Programa de Proteção ao Emprego) porque ela não se enquadra.
As demissões é arbitrária, quer mandar o pessoal "antigo" embora, troca de salário, colocar salário baixo. Funcionário "antigo" é custo, salário mais alto, férias, doença adquirida no trabalho, tem muito trabalhador com problemas de saúde que precisa faltar para ir no médico. Querem acabar com a estabilidade de emprego, querem jogar trabalhador na rua, se depender da empresa a licença maternidade de seis meses vai para três meses.
Esquerda Diário: E o sindicato?
Trabalhador: É complicado falar do sindicato, tem muita perseguição. O sindicato é filiado à CUT (Central Única dos Trabalhadores). Ele disse que não sabia o número de pessoas demitidas, mas revigora um acordo entre trabalhador e que era com o antigo sindicato que até 2016 a fábrica não podia mandar ninguém embora e se houver realmente crise, a empresa tem que provar e isso não tá ocorrendo.
A Volks propôs para os trabalhadores redução da PLR (Participação dos Lucros e Resultados), redução de salários, banco de horas. Ela quer tudo isso mas ela não garante os empregos, quer tudo isso e fala que vai mandar os 500 embora e se continuar a crise vai demitir mais.
Hoje está difícil para quem está começando, você não vê futuro nenhum lá na frente, se depender dos políticos e dos empresários a tendência é cada vez piorar mais e o sindicato, que poderia ir pra rua e incentivar a luta, mostrar que a situação tá horrível, não faz.
O sindicato já lutou aqui em Taubaté, são pessoas que já tivemos junto com eles, mas hoje o sindicato tá errado e então não podemos mais confiar porque tentam de um jeito ou de outro convencer que o governo do PT e a CUT não estão errados. A gente vê na TV que o governo tá roubando, fazendo isso e aquilo e fica tudo no ar.
O sindicato é PT e o PT é um governo corrupto, daí eles ficam amarrados e o trabalhador depende de um governo honesto. O PT tinha força aqui no Vale do Paraíba, mas o PT traiu o trabalhador. Por isso estamos em greve, não vamos ficar nas mãos das montadoras e dos governos corruptos.
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