×

MÉXICO - ELEIÇÕES 2015 | Entre crise e descrédito, se aproximam as eleições no México

Na reta final para as eleições, novos elementos de instabilidade cruzam o cenário político nacional.

sexta-feira 5 de junho de 2015 | 01:40

Os professores em cena uma vez mais

Ainda que nas semanas anteriores a instabilidade no cenário eleitoral esteve relacionada com a violência do narcotráfico, exército e polícia federal, os assassinatos de candidatos e diversos escândalos de corrupção (como o da OHL), os últimos dias estão marcados pela irrupção dos protestos de professores.

Pelo acordo de sua Assembleia Nacional Representativa (ANR), a Coordenação Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE) decidiu começar paralisação por tempo indeterminado nos estados de Oaxaca, Chiapas, Guerrero e Michoacán a partir do dia 1º de junho, convocando o professorado de outros estados a paralisar – como fez em Veracruz – e se mobilizar realizando uma marcha de milhares na Cidade do México.

Entre as principais demandas da CNTE destaca-se a revogação das reformas estruturais, entre as quais a reforma da educação.

Também como resultado da ANR, a CNTE resolveu impulsionar ações para boicotar as eleições de 7 de junho, pelo que nesta segunda-feira os professores da Seção 22 ocuparam as sedes locais do Instituto Nacional Eleitoral (INE) em algumas regiões de Oaxaca e incendiaram cédulas e material eleitoral. Em Guerrero, enquanto isso, foram ocupadas emissoras de rádio.

Todos contra os professores

As manifestações de professores se realizaram apesar do anúncio da Secretaria de Educação Pública da suspensão sem prazo da avalição docente, que é vista por muitos como uma manobra do governo para evitar as ações dos professores durante as eleições. Isso depois de que a Secretaria de Governo anunciasse a existência de “focos vermelhos” em vários estados.

Em resposta, o Instituto Nacional para a Avaliação da Educação declarou que isso viola sua autonomia e se contrapõe ao mandato da reforma da educação, mostrando que a decisão de suspender a avaliação foi tomada pela alta cúpula governamental, e de forma descoordenada. Isso, no entanto, mostra para milhões de professores que a efetivação ou não da reforma da educação passa por decisões puramente políticas, reabrindo assim a discussão sobre como derrubá-la mediante a luta.

Por sua parte, rapidamente os empresários reunidos no Conselho Coordenador Empresarial (CCE) defenderam a reforma da educação, que consideram a mais importante das reformas estruturais. Isto porque representa a introdução de critérios de eficiência empresarial nos conteúdos e na administração do sistema educacional público, a privatização velada da educação e o controle férreo dos professores pelo Estado.

Na coletiva de imprensa do CCE se sobressaiu Claudio X González, presidente da organização empresarial Mexicanos Primero, ligada à Televisa, uma das principais defensoras da reforma da educação e que tem se dedicado a injuriar a luta dos professores.

Aí também os empresários condenaram toda ação tendente a impedir a realização das eleições – em clara referência à CNTE –, mostrando-se hipocritamente como os defensores da “democracia” quando na realidade o que lhes interessa é impor a estabilidade necessária aos seus negócios para continuar explorando tranquilamente milhões de trabalhadores.

Violência e descrédito

Entretanto, na organização eleitoral o INE continua se mostrando como instrumento da antidemocracia: depois de reduzir de doze para três dias a suspensão dos espaços em rádio e televisão do Partido Verde Ecologista do México, agora, acatando uma sentença do Tribunal Eleitoral, votou diminuir novamente a sanção para apenas um dia.

Por outro lado, a guerra de spots de propaganda entre o Partido Revolucionário Institucional e o Partido Ação Nacional (PAN) evoluiu para o enfrentamento físico no fechamento de campanha em Yucatán, resultando em um morto vinculado ao PAN, revelando a onda de ódio com que os partidos disputam o direito de administrar os negócios dos capitalistas.

A poucos dias das eleições, continua a desconfiança nos partidos e nas instituições. São nítidos indicadores disso as crescentes ações de boicote eleitoral e o que muitos preveem: o crescimento do voto nulo. Mas também o descrédito se expressa no fato de que diversos setores da população devem votar em candidatos independentes. A despeito da perspectiva política que esses elementos vislumbrem, é um fato sintomático que mostra a desconfiança nos partidos tradicionais do regime político.

Nesse contexto, e como demonstração de que surge um amplo movimento que repudia a farsa eleitoral, é que se desenvolve um grande debate entre os que defendem o regime na tentativa de legitimá-lo mediante as urnas – como o Morena – e os que sustentam a necessidade de buscar uma resposta independente, seja pela abstenção, o boicote ou o voto nulo.

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias