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Se a realidade da população trans é a falta de acesso a educação em todos os níveis, a realização da primeira prova neste fim de semana demonstrou como o ENEM segue de portas fechadas para transformar esta realidade.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

segunda-feira 6 de novembro de 2017 | Edição do dia

(FOTO: Agência Brasil)

Dos 694 pedidos de inclusão de nome social, apenas 303, menos da metade, foram contemplados. Além disso, o medo do uso do banheiro aumentou o nervosismo e as dificuldades para a realização da prova.

Realidade trans: algumas na universidade, muitas sendo assassinadas

Apesar de desde 2014 o ENEM aceitar o nome social de participantes transsexuais, assim começamos ser notadas e nossa exigência de entrar nas universidades começou a ser reconhecida. Todavia, nem todos nós conseguimos este simples direito para conseguirmos realizar a prova com dignidade. Em 2014 apenas 102, 2015 foram 278, ano passado 407 e em 2017, 303 que conseguiram não ter o constrangimento de serem tratados por nomes e gêneros que não nos correspondem.

Se as pessoas trans começaram a frequentar as universidades, isso se deu muito mais pelas portas do movimento estudantil, com palestras, mesas, formações e rodas de conversas organizadas para tratar do tema, do que pelas portas da frente para estudar. A Universidade Federal do ABC foi alvo de protestos no ano passado, quando uma trabalhadora terceirizada transsexual denunciou desrespeito a sua identidade de gênero pela chefia, mas entre os estudantes há ainda um número muito pequeno de pessoas trans.

O fenômeno de coletivos LGBT nas escolas e universidades possibilitou a visibilidade sobre este tema, que com muita luta conquistou também a grande mídia, tendo surgido Ivan, um personagem transgênero no horário nobre da rede Globo. Essa visibilidade trouxe a sociedade um amplo debate sobre a baixa perspectiva de vida de apenas 35 anos, a situação da prostituição compulsória que atinge 90% das pessoas trans e toda a cadeia de violência que se inicia ainda na infância quando muitas pessoas trans são expulsas de casa, desistem da escola e por muitas violências diferentes, o Estado se desresponsabiliza pelos direitos básicos para a sobrevivência desta população.

A guerra contra o projeto Escola Sem Partido que em defesa da "liberdade de expressão" quer permitir ferir os direitos humanos na redação do ENEM também criou um mal estar entre estudantes trans que são frequentemente alvos de xingamentos, discriminação e preconceito. O ENEM, apesar de toda a campanha de "democratização do acesso" demonstrou mais uma vez que segue excludente para a maioria dos jovens brasileiros, especialmente para a população transgênero.

Por isso, alguns coletivos LGBT como a Prisma UFABC vem defendendo a implementação de Cotas Trans nas universidades para que haja uma reparação histórica do Estado Brasileiro a profunda marginalidade e violência sobrevida por este grupo social.




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