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ASSÉDIO NO METRÔ DE SP | Empresa foge de culpa e boicota metroviárias em campanha contra o assédio sexual

O Esquerda Diário reproduz aqui a nota escrita pelo grupo Pão e Rosas e Metroviários pela Base sobre reunião da empresa Metrô de São Paulo com coletivos feministas para tratar sobre a campanha "Você não está sozinha" contra os assédios sexuais no transporte coletivo.

sexta-feira 25 de setembro de 2015 | 23:26

Os casos de abuso sexual no Metrô de São Paulo vêm ganhando projeção na mídia. Em agosto, o número de denúncias deste tipo no transporte público estadual deste ano superou a quantidade registrada em 2014: no ano passado, foram 61 casos.

Após manifestação contra o assédio realizada no dia 31 de agosto na estação República - organizada por diversos coletivos feministas e pela Secretaria de Mulheres do Sindicato dos Metroviários (representante oficial das trabalhadoras e trabalhadores da companhia) -, a companhia convidou integrantes destes grupos para uma reunião com o intuito de ouvir opiniões a respeito da campanha "Você não está sozinha", lançada neste ano. Esta reunião ocorreu em 8 de setembro e, novamente, reforçou o desrespeito do Metrô com a categoria.

Metrô se esquiva de responsabilidade

A campanha teve início por pressão judicial - após o Metrô ter sido condenado pela Justiça a pagar, em julho deste ano, R$ 20 mil reais a uma jovem que foi abusada dentro da estação São Joaquim - e por conta da imagem abalada após seguidos casos de grande repercussão. Na campanha, a empresa vende a ideia de que as mulheres não estão sozinhas e, para tanto, utiliza fotos de ASMs (agentes de segurança) uniformizados e à paisana, funcionários de Estação e Manutenção, além de usuárias.

Convenientemente, o Metrô foge da sua responsabilidade perante a situação. Logo após o machismo, o principal fator para a recorrência de casos de abuso é a superlotação e, nesse sentido, a culpa é da empresa por manter condições precárias no transporte público e por não orientar e treinar seus funcionários para dar o melhor atendimento possível às vítimas.

Metrô despreza opinião de metroviárias

As representantes do Metrô presentes na reunião com os coletivos afirmaram que a empresa projetou a campanha após apresentá-la a organizações do movimento feminista. Contudo, a empresa não buscou em momento algum a Secretaria de Mulheres para saber quais são as demandas das metroviárias - apesar de protocoladas diversas vezes na empresa, as representantes confessaram desconhecê-las completamente: um claro boicote às mulheres metroviárias e à categoria como um todo.

Frente à exposição das pautas da categoria em relação ao assédio sexual, o Metrô respondeu na reunião que a intenção era "se alinhar aos coletivos" e afirmou que, como foi feito em carta ao Sindicato, a reunião "não trataria de temas específicos da categoria", por isso não considerariam as posicionamentos tirados no Encontro de Mulheres Metroviárias, realizada entre fevereiro e março.

Há anos, a categoria discute o problema do assédio nos Congressos dos Metroviários e Encontro de Mulheres e colocamos essas questões à empresa em nossa pauta de reivindicações das campanhas salariais. E, ano a ano, o Metrô as ignora.

Além disso, a companhia, frente ao questionamento dos coletivos acerca do número de assédio nos trens superlotados do Metrô de São Paulo, afirmou que não possui esses números e que estes são disponibilizados pela Secretaria de Segurança Pública do estado. Como uma empresa se propõe a fazer uma campanha em relação ao abuso sexual sem ter dados que possam determinar a efetividade de uma campanha? Ou o Metrô de São Paulo realmente não possui estes números (o que o torna incompetente para conduzir qualquer ação contra o assédio) ou os esconde.

Uma campanha de verdade

Durante a reunião, o grupo de mulheres Pão e Rosas e a Secretaria de Mulheres expuseram a necessidade de uma campanha efetiva (não apenas pró-forma, para inglês ver) que tivesse como objetivo, além de tudo, educar os trabalhadores para que estes saibam lidar com casos de agressão sexual. Também denunciamos que os pilares centrais do aumento dos casos de assédio são superlotação, ínfima malha metroviária e número insuficiente de funcionários (em todas as funções, mas principalmente de ASMs femininas).

Também reivindicamos há tempos atendimento psicológico e físico (quando necessário) às vítimas e kit para atendimento (com sabonete, toalha e uma troca de roupa) a serem utilizados em caso de necessidade. Somado a isso, reivindicamos também um formulário específico aumentar a base de dados sobre os assédios no Metrô.

Sindicato convoca mulheres metroviárias para luta contra o assédio: reunião dia 30/09

Não podemos aceitar que a empresa aja desta forma, boicotando a participação do Sindicato, negando todo o acúmulo de luta e discussão da categoria, que busca fazer do Metrô de São Paulo um local seguro para que as mulheres não passem por assédios sexuais como vêm passando. As mulheres são vítimas cotidianas do machismo, sejam elas usuárias ou metroviárias: sabendo disso é fundamental que a união para o combate às opressões e ao assédio.

A Secretaria de Mulheres está organizando uma reunião com as metroviárias em 30 de setembro, às 18h na sede do Sindicato. Chamamos as trabalhadoras para participar dessa reunião e, juntas, pensarmos em uma ampla campanha que forje uma aliança entre funcionárias e usuárias para o combate ao assédio sexual nos transportes.




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