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#VEJAMACHISTA | Em resposta à VEJA, mulheres se manifestam contra padrões nas redes sociais

Fernanda PeluciDiretora do Sindicato dos Metroviários de SP e militante do Mov. Nossa Classe

quinta-feira 21 de abril de 2016 | Edição do dia

A Revista VEJA publicou despretensiosamente no último domingo, dia em que foi votado na Câmara dos Deputados o impeachment da presidenta Dilma, um artigo intitulado Marcela Temer: Bela, recatada e "do lar", o qual retratava a relação da vice-primeira-dama com o vice-presidente Michel Temer, falando sobre as provas de que a paixão não arrefeceu com o tempo nem com a convulsão política que vive o país, descrevendo um jantar romântico entre o casal no luxuoso restaurante Antiquarios, na Alameda Lorena, bairro nobre de São Paulo. Esvaziado o restaurante para receber o casal, e na companhia de 4 seguranças, o artigo busca justificar em todo texto como Marcela Temer é uma mulher de sorte. Fala de seu filho "Michelzinho", dos concursos de miss no interior de São Paulo, das suas idas ao médico, dos seus pedidos no salão de beleza, do quão discreta se porta ao lado do vice-presidente sendo "recatada", gostando de "vestidos na altura dos joelhos". Marcela é uma vice-primeira-dama do lar, afirma a revista. O vice-presidente Michel Temer pode assumir a presidência caso passe o impeachment no Senado nas próximas semanas, e a revista VEJA se mostra bastante entusiasta da ideia.

Temer e os setores reacionários mais de direita do país são os mesmos setores que hoje juntos com a VEJA estão contra os direitos das mulheres, que vem hoje ditar regras e dizerem como as mulheres tem que ser, o que vestir, como se portar sexualmente. Os mesmos reacionários e moralistas. A revista enaltece Marcela a partir de um estereótipo e padrão completamente machistas, como a mulher submissa, sempre atrás de Temer de forma "discreta", comportada com saia "na altura do joelho", elogiando a vice-primeira-dama do começo ao fim como um ideal de comportamento, de padrão de beleza, de vida, de mulher, e uma "primeira-dama do lar", buscando colocar a imagem de Marcela Temer como a mulher que todas deveriam ser, modelo este bastante funcional à sociedade capitalista e ao sistema patriarcal.

Com a publicação do artigo na internet, rapidamente milhares de mulheres pelas redes sociais se mostraram indignadas com os valores conservadores e extremamente machistas tão enaltecidos pela revista e iniciaram um movimento de fotos e memes ironizando o artigo com fotos nada "recatadas" ou "do lar", mas certamente muito "belas". Um movimento totalmente espontâneo, que reflete um grande questionamento abertos desde a "Primavera das Mulheres", que cotidianamente tem seus valores e ações julgadas pela moral burguesa, que busca dia a dia ditar as regras e comportamento das mulheres. Os últimos dias comprovaram que as mulheres não mais aceitarão caladas estas regras e imposições à seus padrões!

O padrão de vida de Marcela Temer, tão reivindicado pela revista mais de direita do país, não condiz em absolutamente nada com o padrão de vida da grande maioria das mulheres brasileiras. Enquanto Marcela come seu bacalhau por R$90, a grande maioria das mulheres do país estão contando as moedas para garantir as refeições diárias de suas famílias com os altos custos que a inflação hoje impõe na mesa do trabalhador. Enquanto Marcela vai à praia Riviera de São Lourenço, litoral norte de São Paulo, passar seus dias de lazer, milhares de trabalhadoras sofrem com extenuantes escalas de trabalho em seus empregos precários folgando um dia da semana apenas, dia este que é dedicado às tarefas domésticas, imersas na dupla-jornada de trabalho e quase sem dinheiro para pagar o aluguel inflacionado. Enquanto Marcela Temer vai ao dermatologista 2 vezes por semana cuidar de sua linda pele branca, milhares de mulheres, principalmente as negras, sofrem com o descaso dos hospitais públicos no país inteiro sem ao menos conseguir um atendimento de qualidade devido aos cortes orçamentais do governo na saúde em decorrência do ajuste fiscal imposto pelo governo nas costas dos trabalhadores. Sim, este mesmo governo do atual vice-presidente Michel Temer, marido de Marcela.

O discurso desta revista machista vem à anos sendo feito contra a presidente Dilma, e de conjunto condiz bastante com o infeliz discurso proto-fascista proclamado no último domingo na Câmara dos Deputados ouvido por todos em defesa do impeachment da presidente. Esta mesma revista que defendeu a ditadura militar e torturadores, hoje reivindica o padrão ariano da mulher branca, loira e de olhos azuis segue condizente com a situação de miséria de milhares de mulheres trabalhadoras, negras, mães de família que hoje estão reféns dos desmandos do governo que segue garantindo os lucros aos grandes empresários e bancos em detrimento da vida dos trabalhadores. Com o impeachment em pauta em Brasília e quase aprovado, os discursos e defesas da "moral e bons costumes da família" desta corja de políticos como Eduardo Cunha, Bolsonaro, Feliciano estará mais fortalecido para atacar os direitos dos trabalhadores e, principalmente, das mulheres. A campanha desta revista contra o PT e contra Dilma diretamente, se dá com um discurso extremamente misógina, e as mulheres devem repudiar este tipo de violência que apenas enfraquece sua luta. Porém, mesmo Dilma sendo uma mulher, esta não representa as milhares de mulheres trabalhadoras que sofrem nas filas dos hospitais públicos, não possuem o direito a maternidade, muito menos o direito ao aborto legal seguro e gratuito, e as que vivem na condição de precarização do trabalho.

Em novembro do ano passado milhares de mulheres saíram às ruas contra a PL 4069 de Eduardo Cunha lutando contra a aprovação deste projeto de lei reacionário que buscava retirar ainda mais os poucos direitos reprodutivos que as mulheres possuem hoje. No mesmo período, centenas de escolas foram ocupadas pelos secundaristas de São Paulo, tendo na linha de frente desta luta muitas mulheres jovens estudantes meninas, também se transformando num exemplo de força e garra, até derrotar o governador Geraldo Alckmin. Segue-se ecoando hoje um questionamento profundo das mulheres que não mais aceitam que lhes sejam impostos ataques, sejam estes econômicos, ou mesmo padrões impostos por esta revista reacionária.

A campanha colocada de pé pelas mulheres nas redes sociais nos últimos dias mostra que as mulheres não mais aceitarão caladas estas barbaridades contra si e seguirão se colocando na luta contra esta moral repugnante, asquerosa e repulsiva da elite empodeirada pelo próprio PT, que hoje come o pão que o diabo amassou nas mãos da direita. Não será esta moral defendida pelas mulheres, mas sim a gana e força daquelas que saíram às ruas contra a PL 5069 e das secundaristas que ocuparam escolas em defesa de uma educação de qualidade. O desafio colocado às mulheres hoje é construir uma saída independente do governo do PT e dos setores mais reacionários que hoje colocam sua cara à mostra, rechaçando o impeachment do "Partido Judiciário", da Polícia Federal e dos partidos mais conservadores do Congresso, repudiando todos os protagonistas deste impeachment que tem no seu principal objetivo atacar muito mais os direitos que os trabalhadores e mulheres conquistaram até hoje. O objetivo deste impeachment é apenas deferir golpes mais duros para continuar garantindo os lucros dos empresários e do imperialismo às custas dos corpos das mulheres, seguindo seu pacto e conciliação com os defensores impunes da ditadura e das torturas. As mulheres lutadoras e combativas já deram seu recado, e é só o começo!




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