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VENEZUELA | Em meio à pandemia, Trump ameaça a Venezuela e os povos latino-americanos

No dia 1º de abril, Trump anunciou o envio de navios de guerra, aeronaves e tropas dos Estados Unidos ao Caribe e ao Pacífico Oriental, sob o pretexto de reforçar a luta contra o narcotráfico. Dias antes, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos formalizou uma acusação criminal contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e outros membros de seu círculo político próximo, acusando-os de "narcoterrorismo".

quinta-feira 9 de abril de 2020 | Edição do dia

Texto publicado originalmente em espanhol no La Izquierda Diario, integrante mexicano da Rede Internacional Esquerda Diário.

Como se a situação não fosse crítica o suficiente devido às consequências sanitárias, econômicas e sociais da pandemia da Covid-19 – principalmente nos Estados Unidos, que se tornou o epicentro da crise sanitária mundial com mais de 350 mil infectados e mais de 10 mil mortos –, Donald Trump anunciou novas provocações militaristas na região do Caribe e perto da costa da Venezuela.

Essa operação em andamento inclui enviar para o Caribe e Pacífico Oriental – ao longo da costa da América Central, Colômbia e Venezuela – navios de guerra, helicópteros, aviões espiões, tropas do exército e da marinha, incluindo forças especiais, que duplicariam as forças armadas americanas já presentes na região e representam o maior destacamento militar do imperialismo ianque nesta área há pelo menos 30 anos sob a liderança do Comando Sul.

Várias instituições imperialistas participam dessa ação, como os departamentos de Segurança Interna, Defesa e Justiça, o DEA e agências de inteligência dos EUA. Segundo a Casa Branca, ainda contam com a colaboração de governos servis de 22 países da região; embora, sem mencionar nenhum, exceto pela colaboração da Colômbia.

O pretexto dos Estados Unidos é combater o tráfico de drogas, mas também "reduzir o apoio financeiro fornecido pelo narcotráfico ao corrupto regime de Maduro na Venezuela e a outros atores perniciosos", disse o consultor de segurança nacional da Casa Branca, Robert O’Brien.

Pressão imperialista

Dias antes do lançamento desta ofensiva, o procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr, acusou o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e 15 outros membros de seu círculo político próximo de "narcoterrorismo, corrupção e tráfico de drogas". O Departamento de Justiça ianque ofereceu uma recompensa de 15 milhões de dólares a quem fornecesse informações para facilitar a captura de Maduro e de 10 milhões de dólares pelas outras autoridades.

Posteriormente, o secretário de Estado do governo Trump, Mike Pompeo, ameaçou intensificar as duras sanções imperialistas contra a Venezuela caso Maduro não renunciasse e – em acordo com a oposição de direita, liderada por Juan Guaidó – cedesse o poder à um "conselho de transição” para que se organizassem novas eleições dentro de um ano. Proposta que foi fortemente rejeitada pelo presidente venezuelano.

Essa política agressiva de Trump parece ser motivada por interesses internos e externos. Por um lado, serve para distrair a opinião pública da administração catastrófica que o governo ianque está tendo diante da pandemia da COVID-19, que já matou milhares de pessoas no coração do imperialismo norte-americano. Mais do que nos ataques de 11 de setembro de 2001.

Além disso, Trump procura se fortalecer politicamente diante de sua base de direita e de setores mais “pró-guerra” de seu governo antes das próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos, programadas para ocorrer ainda este ano.

Na Venezuela, mais do que uma invasão iminente – como a do Panamá em 1989 para parar Manuel Noriega –, o objetivo imediato de Trump, apertando o bloqueio ao país sulamericano, parece ser exercer extrema pressão sobre Maduro para forçá-lo a renunciar e, assim, alcançar uma "mudança de regime" ordenada e acordada entre a oposição de direita e o partido no poder, a fim de impor um governo mais servil aos desígnios e interesses do imperialismo.

Trump se aproveita das dificuldades que o governo venezuelano enfrenta diante da terrível crise econômica que assola o país e atinge duramente os trabalhadores e é agravada pelas consequências da pandemia, pela forte queda nos preços do petróleo e pelo criminoso bloqueio imperialista.

Estrategicamente, os Estados Unidos buscam reforçar o controle sobre o seu "quintal", a América Latina, no meio de sua disputa comercial e geopolítica com a China (e a Rússia em segunda instância), para tentar sustentar a sua hegemonia mundial cada vez mais degradada.

Isso também representa uma ameaça contra os povos latino-americanos e caribenhos que, no Equador, Chile, Colômbia e Haiti, por exemplo, saíram às ruas nos últimos meses para enfrentar os planos de ataques antipopulares do imperialismo e dos governos lacaios que o servem contra a classe trabalhadora.

Maduro responde

Em um comunicado divulgado em 1º de abril, o governo venezuelano expressou a sua rejeição às declarações de Trump e de outras autoridades ianques contra Maduro e os demais políticos venezuelanos acusados. Com relação ao anúncio do destacamento imperialista, ironicamente, o governo venezuelano indicou que parecia positivo que "pela primeira vez em décadas as autoridades dos Estados Unidos estejam se preparando para tomar medidas para proteger suas fronteiras" do narcotráfico "... que se desenvolveu no território de seu aliado e parceiro íntimo, a Colômbia”.

Dois dias depois, Maduro ordenou a mobilização de "peças de artilharia" (mísseis) para se defender de um eventual ataque dos Estados Unidos no âmbito da operação "Escudo Bolivariano", iniciada em fevereiro. Em seguida, impôs um toque de recolher a duas populações fronteiriças com a Colômbia, com o argumento de impedir a entrada de paramilitares, onde se espera o retorno de milhares de migrantes que deixaram o país devido às dificuldades sofridas pela maioria da população, que estão longe de terem sido resolvidas pelo regime “bolivariano” e menos ainda pelos governos dos outros países da região.

O presidente venezuelano enviou uma carta de protesto ao Conselho de Segurança da ONU exigindo que ele aja contra a política de guerra de Trump, sem sucesso. Ele também dirigiu outra carta ao povo dos Estados Unidos, a quem chamou "a não permitir que seu país seja atraído, mais uma vez, para outro conflito sem fim...".
Maduro parece estar ciente de que, após o fracasso das aventuras bélicas dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque e, em meio à terrível pandemia que a humanidade enfrenta, uma agressão armada contra a Venezuela pode ter um alto custo político para o governo Trump, que aposta na reeleição.

Baseando-se nisso, o governo venezuelano expressou a sua disposição de negociar uma "trégua" com a oposição de direita, enquanto as massas populares e da classe trabalhadora estão sofrendo as duras consequências da crise sanitária, econômica e social, sem que nenhum dos setores do regime em disputa responda aos interesses e necessidades da população.

Fora ao imperialismo na América Latina

Desde o Movimiento de los Trabajadores Socialistas (MTS) do México, juntamente com os companheiros da Liga de Trabajadores por el Socialismo (LTS) da Venezuela, membros da Fração Trotskista pela Quarta Internacional, repudiamos as ameaças imperialistas contra a Venezuela e os redobrados destacamentos de tropas ianques sobre o território da América Latina e do Caribe.

Rejeitamos a perseguição judicial do governo Trump contra Nicolás Maduro e outros líderes políticos venezuelanos, cuja intenção não é combater o terrorismo ou o narcotráfico. É um método que já foi usado pelo imperialismo e seus aliados para derrubar governos que lhes são desconfortáveis, impondo outros a seu favor e mais autoritários contra o movimento de massas.

Isso não significa dar apoio político ao governo Maduro ou a seu partido que, além da retórica "anti-imperialista", administra os negócios de uma casta civil-militar corrupta e de toda a comunidade empresarial venezuelana sem tocar nos interesses das empresas transnacionais e do imperialismo, enquanto a maioria do povo trabalhador está na miséria e é reprimida pelo governo quando protestam. Mas é, de qualquer forma, os trabalhadores e o povo venezuelano que precisam acertar as contas com seus próprios governantes, rejeitando a interferência imperialista.

Exigimos o fim do bloqueio imperialista criminal contra a Venezuela, Cuba e Irã que, em meio à pandemia da COVID-19 e à crise econômica internacional, só exacerbam as dificuldades dos povos desses países. Também exigimos que a dívida externa de todos os países dependentes e semicoloniais – saqueados permanentemente por meio desse mecanismo pelo imperialismo, organizações financeiras e grandes bancos – seja perdoada ou que se pare de pagá-la. Esses recursos devem ser utilizados para combater a pandemia e satisfazer as necessidades básicas da maioria da população, como saúde, alimentação, trabalho e moradia, entre outros.

Apelamos à mais ampla unidade internacionalista e anti-imperialista dos trabalhadores e povos latino-americanos com a classe trabalhadora e com os milhões de imigrantes nos Estados Unidos para enfrentar o nosso inimigo comum: o capitalismo imperialista e os governos que o servem. Que a crise seja para por eles e não por nós.




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