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ENTREVISTA DE DILMA | Em entrevista, Dilma diz que saída para crise passa pelo voto

sexta-feira 10 de junho de 2016 | Edição do dia

Em entrevista ao jornalista Luís Nassif, Dilma defendeu que a crise política não pode se dar sem recorrer ao voto popular. Também disparou críticas contra Serra e as alternativas políticas apontadas por setores ligados ao PSDB, além de apresentar a versão petista para os motivos do desenvolvimento da crise política e econômica no país.

Em meio a conversa entre Dilma e Nassif, se destacou a ênfase dada à presidente afastada para a solução que defende em meio à atual crise política brasileira. Segundo ela, será impossível fechar o atual momento de instabilidade sem recorrer ao voto popular. Ao ser questionada por Nassif se esse se daria por meio de um plebiscito, Dilma preferiu deixar em aberto as possibilidades: “Pode ser, não vou dar menu completo.”, disse ela.

Em contraste a essa proposta, Dilma foi explícita nas críticas a Serra, sua condução da política externa e questionou a proposta levantada pelo ministro do PSDB de um “semi-presidencialismo” para acabar com a crise. A petista defendeu o presidencialismo, afirmando que as grandes mudanças no país sempre ocorreram sob a égide do regime presidencialista, e justificou afirmando que é compreensível que o executivo possa ter pautas mais avançadas e progressistas que o legislativo, pois nesse predominam as oligarquias regionais que mantém uma política conservadora. Ela não entrou no mérito, contudo, do PT ter negociado, abrido espaço e fortalecido imensamente essas oligarquias e grupos como a bancada evangélica ao longo de seus 13 anos de governo, pavimentando inclusive o caminho para o golpe.

Dilma continua agindo e falando como se essa direita tivesse surgido “do nada” e seu retorno à presidência fosse uma via “progressista” que resolveria os problemas da direita pela via do voto popular e da consolidação do presidencialismo. Por meio de uma explicação que se pauta em elementos da economia, como o fim do super-ciclo das commodities que sustentava o crescimento brasileiro, ela procura construir a tese de que o reacionarismo de Cunha e da direita golpista ganhou espaço do dia para a noite para derrubar seu governo.

Aproveitou ainda para fazer alguma demagogia também contra os ataques do governo golpista, se dizendo “estarrecida” com o que querem fazer com a Petrobras ao fazê-la abrir mão dos barris – e provavelmente torcendo para que ninguém lembre que o atual projeto em votação é fruto de um acordo costurado pela petista com Renan Calheiros e Serra.

A defesa pelo “voto popular” é também uma oposição aos setores burgueses que defendem algum tipo de eleição indireta para tentar conter a crise, uma alternativa também cogitada por Serra e setores peesedebistas. Essas poderiam se dar por meio do julgamento do TSE, que poderia derrubar o governo Temer, ou de alguma outra forma que tirasse o governo em 2017 e forçasse uma solução por meio do congresso.

Dilma, contudo, defendeu que é necessário uma reforma política. Esse parece ser um ponto de comum acordo entre diversos setores da burguesia, ainda que tenham divergências sobre a forma pela qual proceder com ela: todos eles compreendem que sem pelo menos uma aparente mudança, torna-se difícil acalmar a situação em meio a um regime debilitado, e com um governo interino que já vem mostrando uma série de dificuldades para levar a frente os ataques exigidos pelos patrões. Setores da mídia conservadora, como Merval Pereira, também têm apontado para essa necessidade, sem ainda apresentar uma fórmula acabada, mas vendo a necessidade de algum tipo de reforma para tentar disfarçar a cara desgastada do regime.

Para Dilma, o novo pacto para salvar o regime passa necessariamente por algum tipo de eleição popular. Ficam abertas as vias para negociar com senadores, como já vem se especulando, de angariar seus votos contra o impeachment em troca da promessa de Dilma de convocar eleições presidenciais antecipadas.

A petista ainda fez um “jogo de cena” ao tentar dissociar, em sua análise, a conduta da Câmara dos Deputados e do Senado. Segundo ela, mesmo o PMDB do Senado tem uma “pauta mais progressista”, enquanto a Câmara seria hegemonizada por Cunha, bem como o governo golpista, que expressaria um pauta semelhante ao do ex-presidente da Câmara. Esse discurso, bastante “oportuno” em um momento que o PT está desesperado para angariar alguns votos de senadores contra a efetivação do impeachment, é absolutamente incoerente com a realidade: as duas casas parlamentaresa são dominadas pelas mesmas oligarquias corruptas e apodrecidas, ligadas aos interesses dos patrões, do empresariado, agronegócio e outros setores dos mais reacionários da sociedade brasileira. No Senado, aliás, pela forma como são eleitos seus parlamentares, torna-se ainda mais fácil para que predominem as oligarquias locais, pois o peso do voto é mais distorcido do que para a eleição de deputados.




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