×

TRIBUNA ABERTA | Eleições para diretor de escola: Uma outra escola é possível...Apenas começamos

No dia 27 de Abril importantes escolas foram às urnas escolher seus novos (e também velhos) diretores. Depois de uma longa noite de terror e de um prolongado período sem eleições, as escolas voltam a respirar (ainda que por aparelhos) os ares da gestão democrática.

Pedro Maraprofessor de sociologia, diretor eleito do CIEP 210

quarta-feira 3 de maio de 2017 | Edição do dia

É importante lembrar que o terreno do direito de escolha dos diretores foi preparado com muita luta e suor pelos heróis da resistência no ano passado, os alunos que ocuparam escolas e a SEEDUC e pelos professores que protagonizaram uma das maiores greves da história deste Estado. É importante que a memória da luta esteja, neste caso, registrada permanentemente nos anais da história.

É verdadeiro que a própria SEEDUC, que sequer é simpática à democracia, nunca quis realizar eleições, afinal o PMDB, dos nefastos Cabral e Pezão, está prestes a completar 12 anos de governo e preferiu realizar eleições nas escolas a estancar o duro ajuste fiscal que segue em marcha acelerada. Como diz aquele velho ditado, preferiram perder os anéis e conservar os dedos.

No fim do ano passado ocorreram eleições nas escolas ocupadas e a SEEDUC e governo na sua maioria saíram massacrados. A turma do PMDB, que está longe de ser boba, tirou conclusões das derrotas alterou diversos pontos das eleições para dar dificultar a vida de chapas progressistas ou de grevistas. Fizeram dessa eleição um verdadeiro circo de horrores: calendário eleitoral curtíssimo, que dificultou um amplo debate sobre concepções de escola; proibição de diversas formas de manifestações políticas sob a permanente ameaça de impugnação de chapas; indeferimentos sem justificativas plausíveis, entre outras barbaridades.

Mas parece que o otimismo da vontade superou o pessimismo da razão. Mesmo com os problemas que ocorreram, as eleições trouxeram vida às escolas: devolvemos à comunidade escolar o debate, a alegria e a emoção de pensar modelo de escola, os projetos educacionais e principalmente avançamos na politização e na consciência em torno de outra escola possível.

As eleições nas escolas e o amplo protagonismo dos estudantes expressaram também um duro golpe sobre o conservadorismo na educação que hoje se manifesta por meio da lei da mordaça, também chamada de escola sem partido. O que se viu foram estudantes críticos, conscientes, sedentos por escolas públicas de qualidade e libertárias. Se os estudantes já haviam emparedado a SEEDUC nas ocupações com rebeldia e disposição de luta em 2016, desta vez também foram implacáveis no seu recado: a escola atual não nos representa!

O recado é muito claro: chega de abandono, de escolas sucateadas, falta de professores, de infraestrutura, etc. Fernando Holiday e o MBL certamente precisarão de muito malabarismo teórico para explicar a tsunami política que inundou as escolas com esperanças renovadas para o próximo triênio.

Num contexto em que a mercantilização avançava com passos cavalares, a eleição de diretor foi uma tragédia para os privatistas de plantão. Devolvemos as escolas o direito dos trabalhadores elegerem suas direções, o que inequivocamente fez diminuir pressão, assédio moral e responsabilização pelos resultados. O desafio agora é justamente pensar em outro modelo de gestão do trabalho nas escolas.

A experiência democrática não pode se encerrar no processo eleitoral por si mesmo. Temos a importante tarefa de impulsionar grêmios estudantis, fortalecimento e funcionamento dos conselhos escolares, construções coletivas e autônomas de projetos político-pedagógicos e fazer de cada escola uma trincheira na grande batalha que nos espera em defesa da educação pública e na construção de outra hegemonia.

É urgente pensar em uma gestão horizontal da escola, discutida e construída dialogicamente por todos, no qual as direções sejam instâncias que encaminhem as deliberações pensadas coletivamente. É preciso ousar e apostar em escolas libertárias.

Sem duvida nenhuma encontraremos escolas que estão mais próximas da terra arrasada. Mas é preciso neste momento fazer destas eleições um novo ponto de partida que acumule forças para a defesa estratégica da educação pública, gratuita e de qualidade. É preciso pensar envolver a comunidade da escola neste projeto, pois esta luta não pode ser somente uma luta dos trabalhadores da educação, mas abraçada pela classe trabalhadora.

Os desafios são muitos, mas para concluir é preciso (i) não perder os princípios que construímos como patrimônio político de uma vida inteira nas trincheiras da luta e (ii) organizar um fórum de diretores eleitos que seja capaz de formular alternativas às barbaridades que a SEEUDUC propõe e oferecer uma plataforma diferente de educação. Devolvemos às escolas o direito de sonhar. Por isso que outra escola é possível, as batalhas serão muitas, mas apenas começamos.


Temas

Opinião



Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias