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ELEIÇÕES RIO DE JANEIRO | Eduardo Paes e Crivella: vote nulo contra as duas faces da exploração dos trabalhadores cariocas

Em meio ao refortalecimento da direita golpista dos partidos do “centrão” em todo o país, o carioca tem como opções no segundo turno dois grandes algozes. Nos últimos 12 anos, foram estes os responsáveis por manter a histórica negação de direitos aos negros, mulheres, trabalhadores e LGBT’s na cidade.

quinta-feira 19 de novembro de 2020 | Edição do dia

Imagem: Reprodução Veja / Divulgação Eduardo Paes; Tomaz Silva/Agência Brasil

O ex-prefeito, Eduardo Paes, teve 37,01% dos votos, contra 21,90% do bispo Crivella em uma eleição profundamente marcada pela abstenção de 1.590.876 votos. Há o impacto da pandemia nesse dados, mas dão também conta de uma profunda descrença na política após seguidos governos capitalistas ladrões dos cofres públicos. A Lava Jato e sua seletividade no Rio, já mostraram que o objetivo dessa operação não é o combate a corrupção. Um tipo de corrupção substituiu a outra e agora os velhos caciques se refortalecem sem que nada de substancial tenha mudado, a não ser um considerável fortalecimento dos juízes como verdadeiros árbitros do jogo político na cidade.

Durante seu governo, Crivella precarizou a saúde de forma alarmante, responsável por cortar 800 milhões, demitir milhares em seu governo, fechar unidades básicas e atrasos sistemáticos de salários. Durante a pandemia, não garantiu testes para população e EPIs para os trabalhadores da saúde, que tiveram seus salários atrasados em pleno auge de contaminação na cidade. Deixou o Rio um lixo, cortando verbas de manutenção e prevenção, levando a queda de um viaduto, diversas mortes por enchente ao longo de seus 4 anos de gestão e sua conivência com as milícias, no caso da queda de um prédio na Muzema. Crivella, colocou capangas para impedir reclamações na mídia nas portas de hospitais, os guardiões eram pagos com dinheiro público. Governou beneficiando as igrejas e seus fiéis, usando os serviços públicos para isso.

A perseguição à cultura negra também foi uma marca explicita de racismo desse prefeito. É com o legado do sangue dos oprimidos nas mãos que busca a reeleição, se aliando a Bolsonaro para isso.

A tendência nacional de fortalecimento de políticos tradicionais do “centrão”, como analisamos AQUI, fez eco tanto a Eduardo Paes quanto a Crivella, que buscam subordinar o estado ao empresariado mediante a velha corrupção costumeira do sistema capitalista, atacando os trabalhadores para isso.

Paes também fez cortes milionários na saúde e implementou o sistema de Organizações Sociais no Rio, que terceiriza a saúde para empresas lucrarem com um direito. A Iabas, empresa que saqueou os cariocas em plena pandemia junto a Wilson Witzel, começou a prestar serviços à prefeitura em sua gestão.

No período anterior, em que a economia ia bem, Paes e Cabral conformaram uma aliança nefasta pró-elite escravocrata e anti-operária e povo negro, e quando esse projeto ruiu, não pensaram duas vezes em despejar esse projeto falido nas costas dos trabalhadores. O ex-prefeito, que se faz de progressista quando bem entende, é do DEM, ex-PFL um dos partidos herdeiros do ARENA da ditadura militar, que pavimentou o caminho do golpe institucional através de Rodrigo Maia. Este mesmo partido, que implementou a reforma trabalhista e da previdência. Tanto a crise despejada nas costas dos trabalhadores no Rio, quanto à degradação da legislação trabalhista a nível federal geraram a onda de trabalhadores precários e informais que tomou o Rio no pós 2016, na qual as mulheres e negros são a maioria, os mesmos que estão passando pelas piores mazelas na pandemia. Paes e seu partido, portanto, atuaram em duas frentes para serem responsáveis diretos pela precarização de vida do povo carioca, seja com o cortes de direitos ou o desemprego em massa na cidade.

O governo de Paes foi marcado pelas repressões às manifestações de 2013, a violência policial que matou e desapareceu com Amarildo e matou Claudia Ferreira arrastada, reprimiu violentamente a maior greve dos professores do município, tentou reprimir e desarmar a greve histórica dos garis em 2014 no carnaval e foi derrotado pela categoria. A defesa de Paes às milícias, que chegou a serem saudadas por ele como se fossem uma “solução”. Paes é continuação do regime do golpe e assim como Crivella, se apoia na violência policial brutal do estado junto as milícias e tráfico de drogas.

O diretório regional do PT chamou voto no Paes e Marcelo Freixo deu declaração de apoia-lo no 2º turno. O PSOL Carioca soltou uma declaração de não votar em Crivella, mas sem chamar voto nulo, ou seja, mais uma vez sem adotar uma política de independência de classes, na prática é um voto envergonhado em Paes.

O que a esquerda fez de errado?

O PSOL teve uma votação pouco expressiva para a prefeitura, com Renata Souza junto ao ex-comandante da PMERJ, Íbis Pereira, se colocando na contramão da luta dos exemplos da massiva luta contra a polícia nos EUA, como debatemos AQUI. Como parte de um giro à direita nacional do partido, a candidatura levada a frente deixou órfão seu eleitorado, que em grande parte migrou para Benedita, Martha Rocha, e até Eduardo Paes e ainda não ganhou qualquer voto a mais por essa sinalização aos conservadores.

O PSOL semeou ilusões de que seria possível eleger uma candidatura municipal sem se enfrentar com o regime do golpe institucional em meio ao bolsonarismo. A extrema direita e a direita aprofundam os cortes de direitos em uma situação de crise econômica e não basta um programa municipal, é necessário uma luta nacional e anticapitalista contra os ataques, que supere a política do PSOL de atuar sempre através de mecanismos burgueses como CPI’s e pedidos de impeachment, semeando a ilusão de resolver os problemas estruturais do Rio apenas pelo parlamento e não pela vida da unidade dos trabalhadores na luta de classes.

A ausência de candidatura com um forte programa anticapitalista, ajudou a disseminar o sentimento do mal menor, que é só uma gradação frente ao mal maior, como se expressou também nos votos em Benedita da Silva do PT, uma candidatura que seria a continuidade de um governo de conciliação de classes tal como fez o PT nos 13 anos em que governou.

Agora novamente no segundo turno, com o argumento de derrotar Crivella, vários setores declaram voto em Paes, como mal menor. Paes não é mal menor, mas um terrível representante do que há de mais podre da política carioca. É a expressão da elite escravocrata carioca, com seus velhos grandes esquemas de corrupção para atacar os trabalhadores nos próximos 4 anos e frente a Crivella é outra roupagem conservadora e também neoliberal para o mesmo objetivo. Não há voto útil no Rio. Cada voto em Eduardo Paes vai fortalecê-lo politicamente para passar o seu programa de ataques, que seguramente virão.

De mal menor em mal menor se aceita o mal maior, sem construir uma alternativa a altura dos ataques. Esse segundo turno asqueroso de extrema direita versus direita tradicional não é resultado da falta de aliança e conciliação, mas sim da falta de uma esquerda anticapitalista, com um programa para que sejam os capitalistas defendidos por Paes e Crivella que paguem pela crise.

Por isso, chamamos o voto nulo, na luta por uma esquerda de independência de classe no Rio e que batalhe por uma perspectiva de luta de classes por fora do mero eleitoralismo e da eterna busca de um suposto "mal menor".




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