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ECONOMIA | Economia mundial: coluna vertebral da crise econômica brasileira

Analistas dizem que os riscos de uma nova recessão global retornaram a “níveis normais”. Entretanto, são obrigados a concluir que nem as economias avançadas nem os “mercados emergentes” podem hoje sustentar um dinâmica de crescimento da economia global.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

terça-feira 7 de junho de 2016 | Edição do dia

As grandes preocupações dos analistas financeiros passam por cima das flutuações conjunturais, uma vez que fica cada vez mais evidente que a esperança por um ressurgimento da economia norteamericana teima em não se comprovar na realidade. Segundo o colunista Gavyn Davies do Financial Times, a figura geral da economia é de crescimento estável mas lento e desapontador, com mínimas indicações de um grande ciclo de aceleração no presente. Em particular, o crescimento dos Estados Unidos permanece insignificante, correndo abaixo dos 2% exigidos pelo Federal Reserve para justificar um aumento das taxas de juros do Banco Central americano em junho.

Isto tem conseqüências importantes para a economia global em geral, e para o Brasil em particular, como veremos.

As últimas leituras do crescimento global ainda estão 0.5% abaixo do esperado, a 3,1%. Os dados para os países avançados contribuem à tendência decrescente do crescimento global. Enquanto os chamados “mercados emergentes” mantém uma taxa de 4,7% - puxados pela China, que apesar da desaceleração estrutural permanece ao redor dos 7% - os países centrais crescem a uma taxa de apenas 1,4%.

Isso mostra que os sinais de aceleração na recuperação econômica da primeira potência mundial, vistos até abril, foram parcialmente revertidos. Os investimentos produtivos continuam fracos, mesmo com taxas de juros historicamente baixas (parte do que Larry Summers identifica como “estancamento secular”). Em maio, apenas 38 mil vagas de emprego foram criadas no país, muito abaixo dos 160 mil em abril ou 210 mil em março. A taxa de desemprego oficial ainda toca os 5%, alastrando as preocupações que abasteceram as candidaturas de Bernie Sanders e de Donald Trump.

A segunda questão preocupante foi a queda da produtividade do trabalho nos Estados Unidos. Este medidor é sumamente importante: trata-se de qual o volume de valor um determinado quantum de tempo de trabalho pode fornecer, ou quanto é possível produzir num determinado período de tempo (por cada hora de trabalho, por exemplo). Trotsky lembrava, em 1936, que “a força e estabilidade dos regimes são determinados, entre outros, pela sua produtividade do trabalho relativa”, cujas alterações relativas entre países estão entre os principais fatores na hierarquia mundial de estados. Ainda que os EUA sigam à frente neste medidor, a continuidade da crise econômica deixa rastros profundos: entre janeiro e março, a produtividade dos trabalhadores norteamericanos cedeu 1,0% (a produtividade no primeiro trimestre cresceu 0,6% ante o mesmo período de 2015).

A questão é que a expansão econômica dos últimos sete anos foi motorizada amplamente pelo aumento dos ganhos em produtividade. Desde que uma leve recuperação se fez notar em 2009, a produção por trabalhador se expandiu a uma taxa média anual de 1,3%, segundo dados do Wall Street Journal . Esta foi a pior performance num período de sete anos desde a década de 1970 e meados dos 1980, marcados por recessões.

Neste problema a burguesia se encontra na dificuldade de aumentar a mais-valia absoluta, a taxa de exploração absoluta da força de trabalho (incrementar a produção do excedente de valor apropriado pelo capitalista). Edward Luce, também do Times, notificou que pela primeira em 30 anos a produtividade do trabalho nos Estados Unidos atingirá níveis negativos depois de uma década de desaceleração. “No curto prazo, pode-se impulsionar o crescimento aumentando a jornada de trabalho, ou importando mais trabalhadores [incrementando a disponibilidade de mão-de-obra e diminuindo salários], ou mesmo aumento a idade de aposentadoria. Mas todas estas opções perdem força com o tempo”.

Acresça-se a isso que a China não voltará a crescer com as já famosas "taxa;s chinesas" e isso retira apoio "real" às políticas monetárias expansivas (em que os capitais vão explorar mão de obra barata para se valorizar no estrangeiro) destacando seu lado "ineficaz".

A menor pujança do gigante asiático e sua necessidade de trocar o "modelo exportador" por um de mercado interno começa a transformá-lo de receptor de capitais que foi durante os últimos anos em novo competidor por espaços mundiais de acumulação. Trata-se de uma das grandes mudanças do cenário que diferentemente dos anos pós Lehman marcará as relações econômicas e políticas do próximo período.

A exigência de novas fontes reais para a acumulação - um problema nada simples- advém uma nova questão estratégica para o capital que manterá latente a possibilidade de uma nova recessão mundial. E o Brasil está entre as piores vítimas, sacudido pela crise política, enfrentando o segundo ano de queda da economia superior a 3%.

Quais os efeitos para o Brasil?

O Brasil era um dos escassos núcleos sólidos da “economia real” que começou a fraquejar e que hoje se vê em dificuldades. A reversão do fluxo de capitais agravaria o problema da dívida.

Se – como está se mostrando tendencialmente – os Estados Unidos não aumentarem a taxa de juros em 2016, os fluxos de capitais ainda passarão pelo Brasil, principalmente no setor exportador, beneficiado com a desvalorização da moeda, que consiste já num ataque ao poder aquisitivo dos trabalhadores (para não dizer da inflação). Isso se mostra também na entrada de capital estrangeiro para aquisição de ativos, como as privatizações que o governo golpista de Temer se dispõe a fazer para gerar um novo ciclo de endividamento (Padilha já anunciou que “primeira orientação é abrir a Petrobrás e no tráfego aéreo”), além da “Black Friday” de entregas preparadas pelo novo governo (Casa da Moeda, Correios, Eletrobrás).

No ranking global de investimentos, entretanto, o Brasil perdeu posições em 2016. Após pelo menos quatro anos entre os seis países que mais recebem investimento externo, o Brasil caiu para o 12º lugar no ranking da consultoria A.T. Kearney em 2016, em um total de 25 países.

Podemos dizer que o gabinete dos ajustes de Temer está primordialmente a serviço de recompor o status de “país solvente” e de dar segurança aos investidores internacionais e suas agências de crédito (não à toa Temer e Meirelles propuseram transferir os fundos do BNDES aos bancos estrangeiros para pagamento dos juros da dívida pública) em meio a uma “nova etapa” da crise mundial. Parte a burguesia nativa da vantagem que é o ganho na taxa de exploração e na mais valia.

Uma recuperação débil da economia brasileira fruto do aumento conjuntural dos preços das matérias primas como a soja e o milho, além do petróleo, poderia representar certa estabilização. Mas não poderia ser longa, já que poderosas alavancas que determinam o destino do país se jogam internacionalmente. Além disso, vem acoplado a ataques ao salário dos trabalhadores, que caíram de maneira absoluta e relativa frente ao dólar e à inflação, enquanto os três poderes recebem R$58 bilhões como preço da “harmonia” do Congresso e do Judiciário com Temer.

O PT, que com Lula e Dilma atacaram salários e privilegiaram os banqueiros e monopólios estrangeiros, prepararam o terreno para o avanço da direita. Agora aplaudem a Lava Jato de Sérgio Moro por mirar os políticos golpistas, enquanto freia toda organização de base e expressão política dos trabalhadores como parte de sua estratégia eleitoralista. Um mês depois do fracasso do 10M, as centrais petistas continuam cadavéricas. Neste 10J, é preciso exigir da CUT e CTB, os novos “moristas”, que rompam seu silêncio criminoso e levantem um plano de emergência contra os capitalistas em defesa dos empregos e salários, impondo que todo político e juiz receba como uma professora e seja eleito e revogável, exigindo abertura da contabilidade das empresas, ocupando para produzir as fábricas que fechem e defendendo a escala móvel de salários (de acordo com a inflação) e horas de trabalho.

Para que a luta contra o golpista Temer não se transforme em uma defesa da estratégia pacifista e eleitoral do PT, é preciso levantar uma nova Constituinte imposta pela luta, em que os trabalhadores elejam seus candidatos para questionar todo o regime político burguês, ponham fim ao pagamento da dívida e aos privilégios, avançando na luta a um governo operário anticapitalista.




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