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CORONAVÍRUS | EUA: A pandemia do Coronavírus está devastando as comunidades negras

Os dados confirmam que: embora líderes políticos se referem ao coronavírus como o grande equalizador, pessoas Negras adoecem e morrem pelo COVID-19 em números mais altos que outros.

quarta-feira 8 de abril de 2020 | Edição do dia

Foto: Marcus Santos/Zuma Press

Líderes em todo o mundo apelidaram o coronavírus como o grande equalizador. Enquanto o vírus se propaga, eles dizem, ele não distingue raça, classe, nacionalidade ou gênero. Se exposto, qualquer um pode adoecer. No EUA, mais de 350.000 pessoas oficialmente contraíram o vírus e mais de 16.000 pessoas morreram. Mas, por trás desses números existe uma verdade que a maioria de nós já sabemos ser verdade – em um país com um sistema de saúde voltado ao lucro, que deixa milhões sem acesso, e um sistema capitalista que sistematicamente oprime pessoas de cor, pessoas negras em todo o EUA são mais propensas a morrer por causa do COVID-19.

Como recentemente dados liberados mostram, pessoas negras tem maior probabilidade de testar positivo e adoecer seriamente pelo COVID-19. Em Chicago, onde afro-americanos são um terço da população da cidade, eles formam mais da metade dos que testaram positivo por COVID-19. Alarmantemente, também representam mais de 70% das mortes relacionadas ao coronavírus da cidade até agora. No Condado de Milwaukee, onde pessoas negras compõem 26% da população, formam metade dos casos positivos e 81% das mortes.

Essas estatísticas não são uma anomalia, mas reforçam um padrão. No Michigan, onde pessoas negras são apenas 14% da população, eles compõem 35% do número total de casos e 40% dos mortos. Até mesmo onde não temos relações demográficas em torno da disseminação do coronavírus, os padrões são evidentes com base onde a pandemia está atingindo com mais força. Em Nova Iorque, um dos maiores hotspots do país, os bairros mais atingidos são aqueles que predominantemente tem uma população negra e parda. Enquanto a Louisiana ainda não publicou uma relação dos casos por raça, 40% das mortes do Estado ocorreram na Paróquia de Orleans, onde a maioria dos habitantes são negros.

Enquanto experientes exigem mais dados demográficos para melhor compreender a disseminação do vírus, a verdade não é nenhuma surpresa. Em centros urbanos que têm sido mais atingidos, trabalhadores negros são fortemente representados nas forças de trabalho essencial: trabalhadores de trânsito, trabalhadores de supermercado, assistentes de saúde em casa, zeladores, entregadores. Negros e pardos também são super-representados em empregos considerados “essenciais”, mas que na verdade não deveriam estar abertos. Na cidade de Nova Iorque, a pandemia do coronavírus se propaga rapidamente pelos bairros da classe trabalhadora em Brooklyn e Queens – bairros que compreende predominantemente pessoas de cor. Como a recente foto demonstra, por exemplo, enquanto pessoas no estado de Nova Iorque são convidados a “trabalhar de casa” e “em distanciamento social”, um metrô de Nova Iorque que atravessa comunidades de classe trabalhadora de cor foi embalado até a borda com negros e pardos viajando para trabalhar.

Essas profundas desigualdades socioeconômicas são ainda mais exacerbadas pelos obstáculos raciais à assistência médica de qualidade. Pessoas Negras na América são, em média, mais prováveis de experimentar pior acesso e menor qualidade de atendimento e piores resultados de saúde do que a nação como um todo. Conforme o relatório do Commonwealth Fund, a taxa de mortalidade antes dos 75 anos de condições consideradas evitáveis ou parcialmente tratáveis como hipertensão, certos cânceres, a gripe e diabetes foram duas vezes mais alta em pessoas Negras do que em pessoas Brancas na América. Pessoas de cor são mais propensas a não ter seguro, levando a uma contínua falta de acessos a uma assistência médica acessível e eficiente. Enquanto o sistema de saúde desmorona sob a imensa tensão da pandemia do coronavírus, Negros(as) são mais propensos(as) a sofrer por causa das condições relacionadas ao COVID-19.

Além disso, o sistema carcerário E.U.A., onde as superlotações e condições insalubres tornam as prisões possíveis armadilhas mortais para os presos, negros são super-representados na população prisional em mais de 5 vezes a taxa de brancos. Na cidade Nova Iorque, eles compõem mais da metade da população prisional. Além disso, na ilha de Rikers, a maior cadeia da cidade, onde os negros representam 56% da população, 165 presos testaram positivo para COVID-19. Embora governadores e promotores em todo o país continuam a prometer medidas de reclusão emergencial devido à crise da saúde, aqueles nessas instalações continuam definhando em condições insalubres e superlotadas. Como um paciente do COVID-19 em uma prisão federal mostra e nos fala nesta transmissão ao vivo, “eles literalmente estão prestes a nos deixar nessa m**da para morrer”.

Uma longa história de segregação habitacional e discriminação também conduziu para uma super-representação dos negros na população sem-teto do país. 40 porcento dos sem-teto no EUA são negros, enquanto 21% dos afro-americanos atualmente moram na pobreza – quase 2,5 vezes a taxa de brancos.

Hotéis e apartamentos de luxo permanecem vazios enquanto os sem-teto são deixados para se defenderem por si mesmos. Em Las Vegas, onde hotéis com milhares de camas disponíveis estavam vazias, os sem-teto estavam “socialmente distanciados” e abrigados em estacionamentos de hotéis. Com o primeiro caso positivo no bairro pobre de Los Angeles semana passada, a população sem-teto do bairro, um dos maiores e mais densos no país, estão em alto risco. Enquanto o governador de Califórnia, Gavin Newsom, se orgulha de garantir 7.000 camas de hotéis e estando quase na metade do objetivo de 15.000 camas para abrigos de emergência, é totalmente inadequado para as 150.000 pessoas sem-teto do estado.

A disparidade racial de riqueza, em que uma família branca nos EUA tipicamente tem dez vezes a riqueza de uma família negra no país, continua a deixar negros mais vulneráveis medicamente, socialmente e economicamente. O coronavírus não é o grande equalizador. É, na verdade, uma pandemia que agrava todas as desigualdades do capitalismo e expõe particularmente os efeitos devastadores do racismo anti-Negro.

Artigo originalmente publicado em inglês no Left Voice, parte da Rede Internacional La Izquierda Diario, da qual o Esquerda Diário também é parte.




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