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É urgente um plano de emergência contra o agravamento da crise sanitária no ABC!

Colapso na saúde com 100% dos leitos de UTI ocupados no hospital municipal de Mauá, que é unidade de referência na região; São Caetano do Sul e São Bernardo do Campo, respectivamente, no 3º e 13º lugares do ranking das 25 cidades com mais mortes por Covid-19 no Brasil; Santo André ultrapassou os 960 mortos desde o início da pandemia e nenhum hospital de campanha foi reaberto, apesar da taxa de ocupação de leitos da região estar cerca de 70%, segundo o Consórcio Intermunicipal Grande ABC, do qual o tucano Paulo Serra é presidente.

Maíra MachadoProfessora da rede estadual em Santo André, diretora da APEOESP pela oposição e militante do MRT

quarta-feira 27 de janeiro de 2021 | Edição do dia

Não há medidas elementares como testes massivos e nenhuma garantia de acesso à vacina para os trabalhadores essenciais e a população do grupo de risco. Dória e seus correligionários das sete cidades buscam alçar suas imagens como opositores do negacionismo de Bolsonaro, mas a verdade é que também são responsáveis por milhares de vidas que são lançadas à própria sorte. Para evitar uma repetição do triste símbolo que foi Manaus, é urgente um plano emergencial de combate a crise sanitária e econômica na região.

O ano começou sem ar. As mortes por falta de oxigênio em Manaus são um símbolo da condução catastrófica da pandemia liderada pelo negacionismo de Bolsonaro e que conta com uma grande contribuição dos diversos atores do bonapartismo institucional — os governadores como Dória, os congressistas como Rodrigo Maia e os ministros do Supremo Tribunal Federal. Estes supostos opositores de Bolsonaro, a despeito de assumirem um discurso de combate à pandemia, se negaram a realizar medidas essenciais contra a Covid-19 e mostram com suas políticas cotidianas o quanto também são responsáveis pelo caos sanitário e os ataques aos trabalhadores.

O anúncio da chegada das vacinas no Brasil trouxe esperança para amplos setores de que seria possível começar a superação da pandemia. Contudo, com a concentração de vacinas nos países ricos, enquanto os pobres padecem com cada vez mais mortos pela infecção, mostram que a vacinação massiva está longe do alcance e interesse dos governos, restando apenas a demagogia de políticos como Bolsonaro e Dória. Enquanto 86% dos hospitais privados detectam aumento dos casos de Covid-19, há casos de reinfecção e crescimento da ocupação dos leitos públicos, não há vacinas disponíveis a todos que precisam, não se sabe se a segunda dose estará disponível e até mesmo os profissionais da saúde relatam que não possuem qualquer informação apesar de seguirem bravamente na linha de frente.

A vacinação começou no país na semana passada no entanto até a última sexta-feira (22) apenas metade dos estados iniciaram o processo e menos de meio milhão de pessoas tomaram a primeira dose. Esse número é ínfimo em um país de 220 milhões de habitantes e traz imensa preocupação para a classe trabalhadora, pois, como já mostram os escândalos envolvendo prefeitos e seus familiares, a imunização está nas mãos dos capitalistas e seus representantes políticos, que trabalham para seus próprios interesses e privilégios.

Em pleno avanço da pandemia também aumentou a números do desemprego a níveis históricos, com multinacionais como a Ford que se aproveitam da crise para fechar suas portas, mesmo após um século de lucros e enriquecimento às custas do suor dos trabalhadores e do uso dos recursos nacionais. Não esquecemos que as primeiras vítimas foram os trabalhadores do ABC, com o fechamento da planta de São Bernardo do Campo em 2019, praticamente sem resistência por parte do sindicato dirigido pelo PT. A saída da Ford do país acende um sinal de alerta em relação a outras gigantes imperialistas que dominam o setor industrial nacional, como a General Motors, a Volkswagen etc.

É simplesmente inaceitável que esses capitalistas joguem dezenas de milhares de famílias nas ruas sem qualquer responsabilidade. A MP 936 assegurou uma série de vantagens aos patrões, massacrou direitos históricos da nossa classe e sequer os postos de trabalho são assegurados. É uma enorme vergonha o papel que têm cumprido nessa situação as centrais sindicais, dentre as quais estão as mais importantes como a CUT e a CTB, que trabalharam junto aos governos para implementar a MP, cedendo ao discurso mentiroso de Bolsonaro de que deve-se escolher entre empregos e direitos.

A paralisia que impõe às centrais sindicais dirigidas pelo PT e PCdoB expressam sua política nacionalmente de fechar os olhos para qualquer ataque de Bolsonaro, e inclusive nos estados que governa aplicar eles próprios esses ataques, como foi a reforma da previdência implementada por Fátima Bezerra (PT) no RN, esperando uma recomposição para 2022. A paralisia serve para sustentar essa política e não corresponde aos interesses dos trabalhadores.

Não podemos permitir que o ABC se transforme em Manaus!

Com uma média de 23 mortes e 506 casos de covid-19 nos últimos 7 dias, o ABC foi para a fase vermelha, a segunda mais restritiva. As novas restrições valem até 07 de fevereiro e não se apresenta nenhum plano sério para lidar com o novo avanço da pandemia. Dória decretou que as cidades do estado deverão estar na fase vermelha após às 20h durante a semana e nos sábados e domingos integralmente. Essa medida mostra o quanto em primeiro lugar estão os “negócios” e não a vida, afinal, em nome dos lucros os trabalhadores podem seguir se arriscando e se contaminando nas filas e ônibus lotados, para irem a trabalhos não essenciais.
Dória se prepara para 2022 e tenta aparecer como o "garantidor das vacinas" com a ajuda da imprensa golpista. Pura demagogia frente ao fato de que também não há vacina em São Paulo e foi Dória a atacar a ciência por meio do PL 529, atacou justamente quem de fato garantiu as vacinas, os cientistas, pesquisadores e trabalhadores da saúde. Dória, assim como Bolsonaro, tenta esconder que o fato incontestável que não garantiram quaisquer condições básicas para preservar as vidas dos trabalhadores e da população pobre, que morria não apenas nos hospitais, mas em casa e nos próprios locais de trabalho.

No ABC a vacinação teve início nesta terça (19), mas a promessa é de que as doses são suficientes para imunizar somente 40% dos profissionais de saúde da região, além de não serem acompanhadas de medidas elementares para diminuir o contágio, como a testagem massiva da população e liberação remunerada do grupo de risco.

É uma mostra da precariedade da situação regional o anúncio do colapso no Hospital Nardini em Mauá, o principal hospital público da cidade que também atende a população de Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e de algumas cidades da zona leste da capital de São Paulo. Há um aumento dos casos em toda a região, com São Caetano do Sul e São Bernardo do Campo liderando os índices de mortes e contaminações, sendo que, somando Santo André que está perto das 1000 mortes registradas, já são cerca de 4 mil mortes em toda região do ABC. Um dado que é ainda maior do que mostram os números oficiais, afinal não se realizou a testagem massiva para averiguar todos os casos.

Fonte: Repórter Diário

Apesar do anúncio de 70 novos leitos pelo governo de São Paulo e depois a abertura de apenas 10 leitos em Mauá é nítido como essa medida é insuficiente. Cadê os hospitais de campanha e a necessária contratação dos profissionais de saúde? Ao invés disso, os prefeitos das maiores cidades, tucanos, seguem as prioridades de Dória e estão mais preocupados em reabrir as escolas, mesmo com a enorme resistência social de familiares, professores e profissionais da educação que sabem da realidade precária das escolas públicas.

A crise é tão escancarada que casos como o roubo de vacinas em Diadema são expressão da barbárie capitalista que ameaça a vida, em primeiro lugar dos trabalhadores e dos mais pobres. Tamanho descaso só pode levar a mais sofrimento e perdas, mas não podemos permitir que o ABC chegue à situação absurda de Manaus.

Contra a calamidade da gestão capitalista da pandemia, a professora Maíra Machado, dirigente do Movimento Revolucionário de Trabalhadores e editora do Esquerda Diário apresenta o seguinte Plano Emergencial para o combate à pandemia no ABC:

1) Testes massivos e gratuitos para toda a população em todas as unidades de saúde.

2) Produção e distribuição massiva e gratuita de máscaras e álcool em gel para toda a população. Disponibilização de EPI’s de qualidade a todos os trabalhadores.

3) Quebra das patentes de vacina para acesso amplo à vacina para todos,com prioridade assegurada a todos os trabalhadores da saúde e população do grupo de risco.

4) Abertura de novos leitos atendendo a demanda, reabertura dos hospitais de campanha, contratação de médicos, enfermeiros e técnicos conforme a necessidade e a centralização de todo sistema de saúde regional sob controle dos trabalhadores e especialistas, incluindo os grandes laboratórios, clínicas e hospitais privados.

5) Proibição das demissões enquanto durar a pandemia. Revogação da MP 936, garantia de salários a todos os trabalhadores não essenciais enquanto durar a pandemia. Licença sem corte ou redução de salário aos trabalhadores do grupo de risco.

6) Não à abertura das escolas. São os professores e a comunidade escolar os que devem decidir quando e em quais condições é seguro retornar. Garantia de alimentação de qualidade aos estudantes da rede pública, com fornecimento de cestas básicas e/ou vales-refeição mensais de acordo com o valor estipulado pelo DIEESE.

7) Reconversão da indústria local, sob controle dos trabalhadores, para atender às necessidades colocadas pela pandemia a nível nacional, como a produção massiva de materiais de proteção, respiradores mecânicos e cilindros de oxigênio. Nenhuma demissão na Ford! Que os antigos trabalhadores da planta de SBC possam voltar ao trabalho através desse plano de reconversão e sejam um exemplo às demais plantas fechadas nacionalmente. Os capitalistas que se oporem devem ter suas empresas expropriadas, sem indenização, e estatizadas sob controle dos trabalhadores.

8) Ampliação do investimento em pesquisa e produção científica e tecnológica para as universidades públicas do ABC, como a UFABC, voltado ao atendimento das necessidades da pandemia.

9) Comissões de Higiene e Segurança em todos os locais de trabalho, com plenos poderes para investigar, consultar, questionar, as medidas que garantam a segurança das e dos trabalhadores e usuários (em casos de serviços públicos).

10) Comissões independentes integradas por profissionais idôneos e membros de organizações dos trabalhadores e populares, para que estes controlem sem nenhum tipo de censura todas as informações que o estado maneja: dados da evolução da epidemia, comparação com outras epidemias, medidas preventivas que se aconselha a população, etc. Não pode ficar nas mãos do estado, que sempre responde aos lobbies das grandes empresas, a informação sobre a saúde pública.

11) Renda emergencial a todos os desempregados e trabalhadores informais da região enquanto durar a pandemia, no valor de pelo menos 2 mil reais que corresponde à média salarial no brasil.

12) Ampliação do orçamento emergencial de saúde e assistência social. Revogação dos efeitos da Lei de Responsabilidade Fiscal, que serve ao pagamento da ilegítima e fraudulenta dívida pública. Impostos progressivos sobre as grandes fortunas dos capitalistas da região.

Para levar estas medidas a frente, é fundamental fazermos que as centrais sindicais rompam com a sua paralisia, a começar pelos Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, membro da CUT, que sequer propôs um plano de luta nacional contra o fechamento da Ford.

Em oposição a paralisia das centrais sindicais e a política de frente parlamentar do PT, PCdoB e PSOL junto com partidos burgueses, defendemos uma Frente Única dos trabalhadores, junto com as mulheres, negros, LGBT’s e movimentos sociais para responder ao caos causado pela pandemia e a crise capitalista. Maior e mais poderosa do que qualquer frente parlamentar que na prática hoje levam a apoiar candidatos como Baleia Rossi para a câmara, político que apoiou Bolsonaro em 90% de suas políticas. É a partir da união de nossa classe, sem alianças com a burguesia, que podemos dar uma resposta anticapitalista a crise que vivemos.

Leia mais: 2021: contra pandemia e desemprego, é preciso enfrentar Bolsonaro e o regime do golpe institucional




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